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26 de outubro de 2010
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03:44

Muitos ataques e pouca novidade em terceiro debate de Dilma e Serra

Por
Sul 21
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Muitos ataques e pouca novidade em terceiro debate de Dilma e Serra
Muitos ataques e pouca novidade em terceiro debate de Dilma e Serra
Julia Chequer/R7
Dilma e Serra trocaram ataques em debate da Record | Julia Chequer/R7

Igor Natusch

O terceiro debate entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) acabou sendo uma espécie de meio-termo entre o que se viu nos dois programas anteriores deste segundo turno presidencial. O tom não foi tão agressivo quanto o do primeiro debate de segundo turno, pela Band – mas também não teve o clima morno que caracterizou o confronto exibido pela Rede TV no dia 17. Os temas mantiveram-se dentro do que já havia sido abordado em debates anteriores, sem que novos assuntos em potencial – como a suposta agressão sofrida por José Serra em uma caminhada no Rio de Janeiro – tenham sido abordados. Questões como aborto, privatizações e Petrobras foram repisadas, em um debate que trouxe poucas novidades.

A mediação do programa ficou a cargo do jornalista Celso Freitas, e o debate dividiu-se em três blocos. Em todos eles, Dilma Rousseff e José Serra tiveram a oportunidade de fazer perguntas diretas uns aos outros. O formato do debate preferiu priorizar o confronto direto entre os dois candidatos, sem promover a participação de intermediários, como no caso de perguntas formuladas por jornalistas. Nem mesmo houve tempo para uma saudação inicial de cada candidato. O programa já começou com perguntas, restando apenas o momento das considerações finais para manifestações individuais.

Nordeste

Dilma Rousseff abriu o programa, perguntando a Serra sobre o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). “Eu gostaria de saber dos seus investimentos para o nordeste”, perguntou. “O PAC é uma lista de obras, com índice de realização muito pequeno”, criticou Serra. “Meu projeto é de desenvolvimento, mas de fazer acontecer, não como no PAC, que é mais propaganda do que realização”. Dilma não deixou por menos. “Acho que o senhor está enrolando”, disparou Dilma. “Lista de obras era o Avança Brasil (projeto semelhante do governo FHC). A transposição do São Francisco e a Trans-Nordestina são obras que estão saindo do papel”. “Para ela, PAC é tudo que eles colocaram em uma lista”, insistiu o tucano, acrescentando: “A transposição foi iniciativa do governo anterior (FHC), e ela toma como se fosse sua. Muita coisa não se fez, ficou no papel ou é fantasia dela. Fica uma coisa surrealista”. “Vocês não fizeram nem um centímetro da Trans-Nordestina”, criticou Dilma, usando espaço de outra resposta.

Na sequência, Serra questionou Dilma sobre posicionamentos supostamente contraditórios adotados na campanha. “Diz que é a favor do aborto, depois é contra. Uma hora é a favor da privatização, depois fica contra”. Na réplica, Dilma foi dura. “A Erenice Guerra (ex-ministra chefe da Casa Civil) depôs hoje (25). E o Paulo Preto? Ele fez uma ameaça, e o senhor mudou de opinião sobre ele, não conhecia, e agora conhece”, atacou Dilma, criticando o tucano pelo comportamento em relação ao caso de seu assessor de campanha. “O apelido que colocaram nele é preconceituoso, eu nem conhecia. Quem tem que investigar a Operação Castelo de Areia é a Polícia Federal”, replicou José Serra. Na resposta, Dilma lembrou o processo contra Paulo Preto por suposta interceptação de joias roubadas. “Tem gente que recebe denúncia e investiga. Tem gente que recebe denúncia e esconde debaixo do tapete”, insinuou a candidata.

A seguir, Dilma perguntou a Serra sobre o ProUni. “Eu vou manter o ProUni. E o senhor, que tem o DEM como vice, partido que quer derrubar o ProUni?”. “A representação do DEM não tem nada a ver com o ProUni. É um rosário de mentiras e mentiras. Foi a Dilma quem influenciou a escolha de Erenice. Depôs a favor do José Dirceu, que está no Supremo por formação de quadrilha. Fez uma defesa carinhosa dele no STF”. Dilma respondeu trazendo de novo Paulo Preto ao debate. “O Paulo Preto não é só braço direito, é braço esquerdo e se bobear é cabeça (de José Serra) também. Mudou os termos do contrato logo que chegou à Dersa. Participou diretamente dos governos de Serra, que disse que nem conhecia esse senhor. Quando ameaçado, passou a conhecer”.

Petrobrax

Na abertura do segundo bloco, José Serra perguntou sobre a Petrobras e o pré-sal. “Dizem, mentirosamente, que vou privatizar a Petrobras. Mas ela (Dilma) entregou a exploração do pré-sal para 108 empresas privadas”. Dilma respondeu chamando o pré-sal de “bilhete premiado”. “Logo após a descoberta, suspendemos todos os leilões e mudamos o modelo. Acho estranho que o senhor negue que vai privatizar o pré-sal. Você está fazendo uma deliberada enrolação, misturando o momento em que não havia o pré-sal com o que veio depois da descoberta”. O tucano respondeu lembrando concessões que Dilma, enquanto Ministra das Minas e Energia, teria feito quanto à Petrobras. A petista, por sua vez, disse pretender manter o debate em “alto nível”, e insistiu que o modelo mudou com a descoberta do pré-sal. “Fazer essa confusão entre o que havia antes do pré-sal e o que temos hoje é tentar deliberadamente confundir as pessoas. O senhor ficou caladinho quando mudaram o nome de Petrobras para Petrobrax”, reclamou. Serra rechaçou a insinuação. “A mudança não aconteceu. Foi sugestão de um diretor de marketing, que inclusive eu considerei tola”.

Na sequencia, Serra perguntou à petista sobre suas propostas para a segurança. “Quero disseminar pelo Brasil as Unidades de Polícia Pacificadora, que trabalha junto com o Pronasci”, respondeu Dilma. O tucano respondeu, sugerindo a criação de um Ministério da Segurança Nacional. “Nossas fronteiras são frouxas, entram armas e drogas no país pelo abandono em que elas estão. Vou reforçar a segurança das fronteiras, e sem disco voador, como esses aviões sem piloto que Dilma comprou e nunca voaram”. “Ridicularizar os veículos aéreos não-tripulados é uma tolice. É um equipamento moderno e usado em várias partes do mundo”, retrucou Dilma.

“Em parceria com o PV, meu governo estadual fez um plano ecológico que estava entre os melhores do mundo na sua época. Entramos na justiça, junto com o Partido Verde, para proteger as pessoas da poluição das grandes cidades”, disse Serra, introduzindo a pauta do meio-ambiente. Dilma respondeu citando estatísticas que provariam a queda dos índices de desmatamento durante o governo Lula. “Serra pega medidas tópicas, feitas para um estado específico, e tenta ampliar para o Brasil inteiro”. O candidato do PSDB aproveitou para prometer “desmatamento zero”. “A Dilma se posicionou contra o Fundo Internacional do Meio-Ambiente, em Copenhagen”, acusou.

Reforma agrária

No último bloco do debate, José Serra partiu para o ataque, perguntando sobre o MST. “O que me preocupa é que o governo dá dinheiro ao MST. Isso é incontestável. Dilma uma hora condena, na outra veste o boné deles”. Dilma disse que era bom tentar manter um “certo nível”, e cobrou “humildade e elegância” do candidato. “Não ganha debate, nem se governa com desdém”, disse, acrescentando ser a favor da reforma agrária no país. “O MST tem a sua política, e o governo federal tem a dele. Não tratamos movimento social com cassetete e repressão, e não vamos repetir momentos trágicos como o que aconteceu em Eldorado dos Carajás”. “O MST declarou apoio a Dilma, por isso diminuíram as invasões. Já avisaram que, depois da eleição, vão retomar”, retrucou o tucano. “Uma coisa é reforma agrária, outra é usar como pretexto para quebrar a ordem jurídica”. “Em matéria de quebrar proposta, você quebra recordes. Você registrou em cartório que não concorreria a outro cargo se fosse eleito”, alfinetou a candidata petista, dizendo que não concorda com tudo que o MST faz. “Fomos muito mais efetivos em solucionar o problema dos sem-terra do que vocês. O MST não é questão de polícia, e sim de política social”, garantiu Dilma.

Na sua última vez de perguntar, Dilma retomou a questão sobre desemprego, que havia se perdido durante o segundo bloco do debate. “Quando fui ministro da Saúde, provoquei um grande aumento de empregos no setor”, garantiu Serra. “Temos que inverter a tendência desse governo e da Dilma, que é a mais baixa taxa de investimento governamental do mundo. Precisamos investir para gerar empregos e evitar o aumento de preços dos alimentos, que está um absurdo”. Tentando adotar um tom calmo de voz, Dilma respondeu dizendo que o Brasil de hoje é diferente do que era quando José Serra foi ministro do Planejamento. “Eu quero muito mais investimento. Se for eleita, se Deus quiser, eu farei. O processo de investimento também significa ampliação de renda para consumo”. Na sua tréplica, Serra insistiu na carência de investimentos do governo Lula, citando exemplo como a falta de metrô em algumas capitais. “A política que Dilma defende tem juros siderais e baixa taxa de investimento”, acusou.

Na sua despedida, Dilma Rousseff lamentou que o debate tenha tido, em alguns momentos, um nível menor do que o esperado. “O nordeste, se eu for eleita, nunca mais será tratado como de segunda categoria. Serei uma servidora do povo brasileiro. Meu olhar não é para o PIB ou para as taxas de juro, e sim para as pessoas. Estou preparada para ser a primeira mulher presidente do Brasil”. Na sua vez, José Serra disse que essa eleição é decisiva. “A partir de 1º de janeiro, o presidente será ou eu, ou a Dilma. O Lula não estará mais lá. Não quero punhos fechados, e sim fraternidade. Sempre fui um político identificado com todas as regiões do país. Ofereço meu passado de lutas, que vem desde a juventude, e quero um país onde a verdade prevaleça na vida pública”.


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