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22 de outubro de 2010
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17:41

Eleição presidencial do Brasil preocupa ambientalistas internacionais

Por
Sul 21
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Eleição presidencial do Brasil preocupa ambientalistas internacionais
Eleição presidencial do Brasil preocupa ambientalistas internacionais
Ricardo Stuckert/PR
A então ministra Dilma Rousseff durante encontro com o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Jorge Enrique Taiana, em Copenhague | Ricardo Stuckert/PR

Rachel Duarte

O Partido Verde Europeu manifestou, por meio de um documento escrito e assinado por deputados, senadores, prefeitos e dirigentes do partido de diversos países da Europa, apoio a candidata a presidência do Brasil, Dilma Rousseff (PT). A motivação é a diferença dos conceitos de meio ambiente e desenvolvimento sustentável que integram os projetos da candidata e do seu adversário José Serra (PSDB).

No início desta semana, o documento foi entregue pelo francês Jérôme Gleizes, dirigente da Comissão Internacional dos Verdes, ao professor italiano Giuseppe Cocco, que vive no Brasil e trabalha na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na lista de assinaturas estão nomes que apoiavam a candidata verde que disputou a eleição presidencial brasileira no primeiro turno, a senadora do Acre Marina Silva (PV). Entre eles, o co-presidente do grupo de parlamentares verdes europeus, Dany Cohn-Bendit, político alemão que esteve no Brasil em agosto para palestrar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e conversar com Marina. Durante sua visita ao Brasil, Cohn-Bendit havia criticado a falta de políticas públicas efetivas para o Meio Ambiente no governo Lula.

“Eu espero que a candidatura da Marina incentive
a discussão climática no Brasil. E que force uma
mudança de postura do próximo governo.” – Cohn Bendit

Segundo o professor Giuseppe Cocco, que conversou com os verdes europeus sobre o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, a decisão do grupo político internacional se deve a uma preocupação com os rumos que o debate mundial sobre o meio ambiente possam tomar com uma possível vitória da direita no país líder dos emergentes na Conferência de Copenhagen.

«Eles se preocuparam com o fato de uma política positiva como a apresentada por Marina não ser levado adiante pela direita. A pujança do tema ecologia teria melhor ancoragem na esquerda, segundo eles, e seria fundamental para as mudanças no Brasil e na América Latina. Eles veem na vitória da esquerda uma melhor oportunidade para que o movimento ecológico se consolide», disse Cocco.

O documento

Este trecho sintetiza a preocupação dos verdes europeus com as eleições presidenciais no Brasil.

Na América Latina, da Colômbia ao Chile, e agora também no Brasil, para além dos diferentes contextos, as questões ecológicas entram definitivamente na pauta das eleições presidenciais. (…)  O Brasil é a sétima potência mundial. Nenhum europeu em sã consciência pode se desinteressar pelo que está em jogo para os destinos ecológicos e sociais do planeta.

Esta é a razão pela qual desejamos, através deste manifesto, expressar nossa inquietação. A batalha do segundo turno se anuncia bastante cerrada e, algo impensável até ontem, uma vitória da direita não está mais excluída. Na configuração de hoje, o partido verde está longe de ter a dimensão popular de Marina Silva. Algumas personalidades como Gilberto Gil, ele mesmo afiliado a este partido, conclamam a que se vote em Dilma sem ambiguidade. E nós compartilhamos desta posição.

Segundo o coordenador do Instituto de Geociências da Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Rualdo Menegat, o que está em jogo na disputa presidencial brasileira são as políticas públicas e a essência do significado do meio ambiente. Ele diz que, quando se fala em preservar o meio ambiente não estamos pensando apenas na conservação da natureza propriamente dita, como a conservação da água dos rios e o combate às queimadas.

«Existem visões ambientalistas que ignoram o ambiente enquanto habitat de pessoas e passam a ter uma política ambiental que exclui o ser humano. O que na verdade não é uma visão ambientalista», ressalta. E exemplifica : «A Amazônia é habitada. Existem povos que moram ali, uns mais nativos e outras que se constituíram dentro da Amazônia. Então é natural a preocupação de outros países com o Brasil, pois, na Amazônia vivem povos indígenas do Peru, da Bolívia», fala.

«Gerir o meio ambiente é gerir a diversidade cultural» –
Rualdo Menegat

Menegat explica que a visão ambiental moderna está ligada às questões sociais e antropológicas; por isso, acredita que, «não se pode agir nos ecossistemas sem levar em conta as comunidades». A visão adequada, segundo ele, seria o modo de vida sustentável que segue esta consciência de preservação da natureza com a participação do ser humano. De outra forma, o especialista diz que as políticas públicas farão apenas cortina de fumaça para esconder o que não se quer enxergar, seguindo uma lógica conservadora de eliminar o outro da terra. «É uma visão primitiva que já foi excluida do ambientalismo. A natureza não é intocável. Isso já foi superado», defende.

Contraponto

Para o coordenador do curso de Direito Ambiental da Unisinos, André Weyermüller, a observação que pode ser feita dessa manifestação de parlamentares ambientalistas da Europa sobre o Brasil é sistêmica e perpassa as questões do meio ambiente, economia e direito.

“Quando analisamos as questões ambientais, é fácil perceber que tais problemas ambientais têm fundo econômico e político. O que se busca na política hoje é criar uma força decisória, que chamamos desenvolvimento sustentável. Isso é um conceito criado através da ONU, devido à problemática ambiental percebida nos anos 80. A partir daí, depende da política a execução desta política de sustentabilidade”, afirma.

Segundo Weyermüller, como a economia também tem influência na política, cabe ao poder judiciário resolver os problemas da sociedade, pois lá é o local onde deságua todas as decisões para as áreas essenciais de uma nação que deveriam ser tratadas pelo  estado, na política. Na avaliação do professor, além do potencial ecológico do Brasil, a preocupação dos países europeus com o rumo da eleição presidencial tem a ver com discussões mais complexas e globais que já foram iniciadas pelo Brasil, com o governo Lula.

“Além dos nossos recursos hídricos e da Amazônia, o que me parece ser a preocupação dos ambientalistas europeus é a consciência ambiental global que pode mudar conforme o desenvolvimento do Brasil. Porque a política irá se aliar à questão econômica, com uma possível vitória da direita e isso gera uma angústia”, acredita.

O peso do apoio

Para o cientista político estadunidense naturalizado brasileiro David Fleischer, da Universidade de Brasília, é compreensível a preocupação do Partido Verde Europeu com a discussão eleitoral brasileira. Porém, ele salienta que o partido europeu surgido na Alemanha é diferente do brasileiro, comandado por Marina Silva no primeiro turno.

“O Partido Verde Europeu surgido na Alemanha é de esquerda e depois ampliou para centro-esquerda com a aliança com o Partido Social Democrata (SPD). Aqui, o Partido Verde é muito eclético e mistura centro-esquerda com ex-petistas, centro-direita e direita. Há bichos com distinto DNAs”, brincou.

Porém, Fleischer acredita que o interesse dos verdes europeus se deve muito mais a uma discussão global sobre o meio ambiente do que por afinidades ideológicas com o Partido Verde brasileiro ou com a candidata Dilma Rousseff. Segundo ele, como o presidente Lula conquistou o respeito internacional para o Brasil, o país ainda é muito representado na sua imagem e, com isso, acontece uma preocupação com a mudança de projeto no governo do Brasil.


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