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18 de outubro de 2010
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02:20

Privatizações dominam o segundo confronto entre Dilma e Serra

Por
Sul 21
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Divulgação/UOL
Dilma e Serra durante debate RedeTV/Folha de S.Paulo | Foto: Montagem sobre Divulgação/UOL

Igor Natusch

O segundo debate envolvendo os dois candidatos no segundo turno presidencial, exibido na noite de domingo (17) pela RedeTV! e Folha de S. Paulo/UOL, manteve um clima de confronto, mas não foi tão agressivo quanto se previa antes do programa. Mesmo sem abandonar as acusações e alfinetadas, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) tentaram expor um pouco mais as suas propostas e posicionamentos políticos. As discussões, ora herméticas, ora pouco aprofundadas, passaram longe de assuntos que tomaram conta do noticiário nos últimos dias, como a descriminalização do aborto, optando por questões mais específicas do ideário de cada candidato.

O debate foi mediado pelo jornalista Kennedy Alencar, e contou com uma plateia composta de assessores e partidários dos candidatos, além de um pequeno grupo de eleitores indecisos, escolhidos pela organização do programa. A chegada dos dois debatedores foi pensada para gerar imagens marcantes: de helicóptero, Dilma e Serra desembarcaram minutos antes do começo do programa, concedendo breves entrevistas ao vivo antes de dirigirem-se a seus lugares no palco.

No primeiro bloco, os dois candidatos foram convidados a falar sobre o adversário, apontando as principais qualidades e defeitos de seu opositor. “Apontar defeitos não melhora minhas qualidades”, disse José Serra, dizendo também que as qualidades de Dilma deveriam ser apontadas pelo eleitor. “O caráter da minha campanha é ético, me preocupo com a verdade. Sabemos que segurança e educação estão em situação precária no Brasil”, disse, propondo um pacto nacional pela educação. Dilma seguiu linha semelhante, frisando a necessidade de mostrar apenas as qualidades e defeitos políticos de cada candidato. “Se eu for eleita, graças a Deus, terei a obrigação de manter o projeto de desenvolvimento dos últimos oito anos”, disse, tomando o cuidado de fazer uma breve citação religiosa em sua fala.

Mas o clima leve não durou muito tempo. Serra começou perguntando, e colocou Dilma na parede. “Fui autor do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que poderia financiar a qualificação de milhares de trabalhadores. Isso não aconteceu em seu governo”, disse. “No governo FHC, onde meu adversário foi ministro, foi criada uma lei que proibia a criação de escolas técnicas no Brasil. Nós mudamos essa legislação”, rebateu Dilma. “A pergunta não foi respondida, e a candidata veio falar de escola técnica”, disse Serra na réplica. “O FAT foi feito para financiar treinamento, mas passou a se investir sete vezes menos em capacitação no governo dela (Dilma). Esses dados dela sobre ensino técnico são sempre virtuais, ficam na fantasia”. Dilma respondeu no mesmo tom. “O candidato Serra deveria se informar. O FAT teve vários problemas no decorrer dos anos. Mesmo assim, criamos mais escolas técnicas do que haviam sido criadas em cem anos no Brasil”.

Privatizações

Em seguida, Dilma resolveu abordar o tema das privatizações. Dilma lembrou que Serra, enquanto governador de SP, impediu que a Petrobras comprasse a empresa estrangeira Gas Brasiliano, disputada pelos brasileiros e por um conglomerado japonês. “Por que será que SP não queria isso?”, perguntou Dilma. “A compra não depende do governo, e sim de agências reguladoras. Eu respeito agências, não as loteio como o governo federal. A campanha de Dilma da TV mente o tempo inteiro sobre minha posição quanto à Petrobras”, disparou Serra. E continuou: “Há uma lei que permite concessões. O governo Lula fez mais concessões do que o governo FHC, e agora chamam isso de privatizações. Se é assim, eles privatizaram mais”.

Na volta do intervalo, Dilma retomou o assunto. “Gostam tanto da Petrobras que tentaram transformar em Petrobrax, para agradar o capital estrangeiro. Mesmo com a Petrobras dando maior preço, porque o governo de SP é o único que se opõe à compra da Gas Brasiliano? Se gostam tanto da Petrobras, porque se posicionam contra?”. Serra disse que, ao invés de privatizações, o governo precisa “estatizar” órgãos públicos loteados entre partidários do PT. Falou também da privatização das empresas de telefonia, que teria tornado possível o crescimento da telefonia móvel no Brasil. E lembrou que as ações da Petrobras aumentaram de valor em sintonia com seu próprio crescimento nas pesquisas – o que provocou um misto de vaias e aplausos da plateia.

Logo após, Serra entrou no tema das drogas. Segundo ele, a guarda de fronteiras do governo Lula é muito ruim, o que facilita a entrada de drogas no país. Dilma refutou a colocação, dizendo que a Polícia Federal foi equipada para trabalhar nas fronteiras. Dilma também afirmou que há 300 mil viciados em SP e, considerando as vagas do programa de tratamento para drogados no Estado, levaria um século para que todos fossem atendidos. “A Dilma não respondeu minha pergunta. Eles veem o mundo com os óculos do PT. Não foi feito nada para deter a entrada de drogas no país”, insistiu o tucano. Dilma retrucou, lembrando o problema dos viciados em crack de SP. “Os paulistanos conhecem bem a cracolândia”, disse a candidata.

Assuntos como infraestrutura, transporte e telecomunicações também foram citados, mas sem muita profundidade. No fim das contas, serviram como base para algumas alfinetadas de lado a lado. “A candidata Dilma me ofende, dizendo que não entendo de administração. Segue a mania do PT de ficar falando mal de São Paulo. Ao invés de me ofender, deveria tentar entender a realidade do país”, reclamou Serra. “Ele se diz ofendido, mas me ofende tanto que está sendo processado por calúnia. O senhor é pretensioso, está confundindo minha divergência ao seu governo, que é legítima, com minha visão do povo paulista, que é honesto e trabalhador. Não faça isso, é feio”, disparou Dilma em resposta.

Candidatos respondem acusações

No terceiro bloco, jornalistas tiveram a oportunidade de fazer perguntas aos candidatos. Serra foi indagado sobre Paulo Preto, que atuou na construção do Rodoanel e teria desviado R$ 4 milhões da atual campanha à presidência. A jornalista comparou essa situação com casos atribuídos ao PT, como o mensalão e as denúncias contra Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil. “Disseram que alguém tinha recebido dinheiro da minha campanha e sumido. O que eu disse é que não conhecia esse assunto. Perguntaram-me do Paulo Preto, e eu disse que não conhecia essa pessoa, porque nunca tinha ouvido esse apelido. Além do mais, o apelido em questão (Preto) é preconceituoso. Não tem nada a ver comparar esse caso com Erenice ou mensalão”, respondeu Serra. A pergunta feita a Dilma, a seguir, foi em linha semelhante. “As pessoas erram, e Erenice errou. Encaro os erros dela com indignação. Não concordo com contratação de parentes e amigos”, garantiu Dilma, acrescentando: “Mas estamos investigando, 16 pessoas já foram interrogadas. Nós apuramos as denúncias que recebemos”.

Após esse bloco, voltaram as perguntas diretas entre os candidatos. Serra perguntou Dilma sobre a saúde, que teria “recuado” no governo Lula. Antes de responder, a petista resolveu citar a questão de segurança, cutucando um dos problemas mais criticados do governo Serra em SP. “Quero livrar São Paulo do PCC”, exclamou. Logo após, falou de projetos como a Rede Cegonha, que ampara mães prestes a dar a luz. “As ideias apresentadas por Dilma, provavelmente passadas a ela por assessores, são todas copiadas do que já fizemos em SP e pretendemos retomar. Não que copiar seja problema, temos que copiar boas ideias. Mas, se é proposta hoje, porque não fizeram nesses oitos anos?”, indagou. Dilma respondeu em tom duro, dizendo ser “estarrecedor” ouvir o tucano dizendo isso. “Vocês entregaram o país em petição de miséria (no governo FHC). O candidato é pretensioso, acha que só ele entende de saúde”.

“Em 16 anos de governo em SP, vocês acumularam recordes negativos na educação. Ao que se deve isso?”, perguntou Dilma. José Serra disse que a performance do estado foi “apreciável”. “Não que não haja o que ser feito, mas foi o estado que mais cresceu. Nossa proposta para SP foi aprovada, eleita em primeiro turno duas vezes. O PT segue com essa mania de falar mal de São Paulo, ao invés de explicar problemas com o Enem”. Dilma pediu novamente que seu adversário não confundisse seu governo com a população paulista, criticando a seguir a progressão automática adotada no ensino de SP. “A mãe de SP sabe que o filho, mesmo aprovado, não teve um aprendizado adequado. Serra não gosta do Enem porque é pré-condição para o ProUni. Como não gosta do ProUni, ele quer acabar com o Enem”, acusou. Serra respondeu de forma enfática: “Eu não vou acabar com o Enem. O que é isso? Vocês mataram o Enem, puseram o Enem no chão. Deixaram vazar dados de milhões de jovens, que agora podem estar na mão de bandidos por aí”.

Ao final do debate, Dilma perguntou ao candidato tucano sobre o governo FHC – que, segundo ela, tratava o desemprego como “culpa do desempregado”. Serra, em sua resposta, disse que isso é uma “bobagem muito grande”, e reclamou de que se fala demais de “governos anteriores”. “A Dilma parece que é candidata ao governo de SP. O PT perdeu duas eleições no estado, dizendo as mesmas coisas que ela está dizendo aqui”. “SP é cheia de professores com vínculo precário, que ficam indo de escola em escola”, respondeu Dilma. “Ele (Serra) quer falar e falar, sem que a gente possa ver se ele faz ou não. Quando ele pôde mais, ele fez menos”. Na tréplica, Serra diz que o governo Lula teve oito anos para corrigir eventuais problemas do governo de FHC – ao invés disso, teriam preferido adotar medidas do governo que agora criticam, “para ganhar votos”. “Eu sou apoiado pelo Itamar Franco e FHC, que fizeram o Plano Real, que estabilizou o país. Ela é apoiada por Collor e Sarney”, disparou o candidato tucano.

Considerações finais

Na despedida, Dilma Rousseff disse ter a “honra de defender o projeto do maior presidente que esse país já teve: Luiz Inácio Lula da Silva”. Em sua fala, defendeu a capacidade de realização e a esperança no futuro resgatada pelo governo de Lula. “A esperança vai vencer o ódio. Temos que valorizar o professor, e não tratá-lo na base do cassetete. Temos que ter um país não só diverso, mas biodiverso. Farei um governo voltado para a pessoa, respeitando jovens, idosos, negros, mulheres e todas as minorias”. José Serra, em sua fala, lembrou sua origem humilde e sua formação em escola pública. “Para uma eleição, é importante levar em conta os valores dos candidatos. Aprendi desde criança a valorizar a solidariedade, a liberdade e a democracia. Sempre fui um servidor público, disposto a servir as pessoas e não me servir do poder público. Proponho um governo de união nacional, que não trate adversários como inimigos”, concluiu.


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