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25 de setembro de 2010
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10:51

Comício com Lula e Dilma tenta garantir vitória petista no RS

Por
Sul 21
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Giovanni Rocha
Giovanni Rocha

Igor Natusch

Faltando pouco mais de uma semana para as eleições, os partidos da coligação Unidade Popular pelo Rio Grande promoveram um grande comício nesta sexta-feira (24), no Largo Glênio Peres, zona central de Porto Alegre. Além de ser o último comício no RS da candidata à Presidência, Dilma Rousseff (PT), antes das eleições de 3 de outubro, o evento marcou o esforço para garantir a eleição de Tarso Genro (PT) para o governo gaúcho, ainda no primeiro turno. Os candidatos ao senado, Paulo Paim (PT) e Abgail Pereira (PCdoB), estiveram presentes, bem como os concorrentes da coligação nas eleições proporcionais do estado. Todos contando com um verdadeiro galvanizador de votos: o presidente Lula, que aproveitou agenda no RS para dar um impulso que pode ser decisivo na campanha gaúcha.

Uma grande estrutura foi montada para garantir o sucesso e a visibilidade do evento. Três telões foram distribuídos em pontos estratégicos. Caminhões cheios de bandeiras e balões distribuíam material para a militância, enquanto alguns ensaiavam as músicas que seriam cantadas durante o ato. A chuva, que caiu com certa intensidade no começo da tarde, deu uma trégua enquanto a noite caía, e a lua cheia surgiu brilhante entre os prédios que cercam o Largo Glênio Peres. O resultado dessa conjunção de fatores acabou sendo o esperado. Pelos cálculos da organização do evento, mais de 30 mil pessoas participaram do comício – o que gerou aglomeração e dificultou o acesso, mas garantiu o grande sucesso de público da manifestação.

Expectativa

Além dos candidatos, alguns nomes fortes do petismo gaúcho, como Olívio Dutra e Miguel Rossetto, também estiveram presentes. Apesar da boa receptividade que tiveram, a expectativa pela chegada de Lula era muito grande. Durante sua fala, o senador Paulo Paim (PT), candidato à reeleição, fez uma pausa para anunciar: “Não vou me estender muito, porque o presidente (Lula) está chegando”. A ovação dos presentes não deixou dúvidas de quem era a grande atração da noite. Mesmo apressando sua fala, houve tempo para Paim soltar algumas frases de efeito. “Se depender de mim, nem negro, nem branco ou índio, será discriminado em lugar algum desse país”, discursou.

“Durante a Copa do Mundo, foi um polvo que apontou quem seria campeão”, discursou Abgail Pereira (PCdoB), candidata ao Senado. “Pois na eleição de 3 de outubro vai ser o povo quem vai decidir”, exclamou em seguida, entre gritos e aplausos. “A imprensa adota uma postura de denuncismo, quer empurrar a eleição (de Dilma e Tarso) para o segundo turno. Enganam-se”, continuou Abgail. Essa seria a única alfinetada mais forte na imprensa em todo o comício, quase uma nota dissonante no clima de alegre conciliação que deu a tônica a partir de então.

A chegada das grandes atrações da noite ocorreu às 19h49. Dilma Rousseff mostrou-se expansiva, abraçando a maioria dos presentes e dando maior atenção aos candidatos da coligação a deputado estadual e federal, que se sentavam ao fundo do palco. Tarso Genro foi mais discreto, ainda que sempre sorridente, limitando-se a pequenos acenos e sinais de positivo. Lula, por sua vez, demonstra ter plena consciência da fascinação que sua presença provoca nas pessoas. Simulou um abraço, cruzando os braços ao redor do próprio peito, em um gesto de boas-vindas, recebido com gritos de incentivo pela militância.

Giovanni Rocha
Giovanni Rocha

Na platéia, uma multidão de cores, estilos e paixões. Moças humildes pareciam ter escolhido os melhores vestidos para o comício, adotando a visita do presidente quase como um momento de gala. Jovens de visual emo ostentavam bandeiras e adesivos, lado a lado com senhores de cabelo branco e pele enrugada. Adolescentes traziam pequenos adesivos colados no rosto, ostentando uma estrela vermelha em cada bochecha. Em uníssono, todos cantaram empolgados o Hino Rio-Grandense, puxado a capela pelo tradicionalista Bagre Fagundes. Talvez com o objetivo de evitar constrangimentos, a organização do comício preferiu não executar o hino nacional brasileiro.

A essa altura, Tarso Genro já discursa em cima do palco, mas a atenção da maioria dos presentes está focada no Presidente da República. Os olhos de muitos presentes parecem brilhar, em um clima que beira a devoção. Alguns acenam, outros gritam; duas ou três meninas juntam as mãos, imitando a forma de um coração. Lula sustenta o sorriso, acena, graceja, mas parece sentir um pouco o calor em cima do palco. Cochicha ao ouvido de Dilma, enxuga a testa algumas vezes, pede um copo de água.

“Lula reconstruiu o orgulho brasileiro. Temos a alegria de viver em um país mais justo e digno”, afirma Tarso Genro, a plenos pulmões. “Falem com os vizinhos, parentes, com os colegas de trabalho. Vamos construir, junto com Dilma, uma grande vitória para o Rio Grande”, discursou, de mãos dadas com a candidata ao Planalto, erguendo os braços em um gesto de união.

Capacete lilás

Depois de Tarso, veio o momento para a homenagem. Treze mulheres, participantes de cursos de capacitação profissional ligados ao programa Fome Zero, levaram capacetes de cor lilás e os ofereceram aos candidatos. Durante a entrega dos capacetes, uma das mulheres se intimidou com a presença de Lula. Emocionada, mas tímida, estendeu a mão para o presidente em um cumprimento formal. Lula não aceitou o simples aperto de mão: dizendo “vem cá, vem cá”, o presidente puxou a mulher para si e quebrou o gelo com um abraço e um beijo. Aproveitou também para brincar com Paulo Paim – vendo que o senador tinha ficado sem capacete, cruzou parte do palco aos pulinhos, emprestando o próprio presente para que o candidato ao Senado pudesse fazer algumas fotos.

Giovanni Rocha
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“Para mim, voltar ao Rio Grande do sul é sempre uma alegria muito grande. Aqui mora minha família, e aqui nasceu o meu neto gaúcho”. Com essas palavras, Dilma Rousseff iniciou seu discurso. Sua fala procurou equilibrar momentos mais emocionais com manifestações firmes, mas evitando o confronto direto com adversários. Não faltaram, porém, algumas alfinetadas.

Atenta ao objetivo de reforçar ao máximo as candidaturas estaduais, Dilma Rousseff pediu votos para Paulo Paim (PT) e Abgail Pereira (PCdoB), os dois candidatos ao Senado da coligação. E defendeu o voto em Tarso Genro, lembrando as realizações do petista enquanto ministro da Educação no governo Lula. “O partido do vice de meu adversário (DEM) entrou na Justiça para barrar o ProUni. Hoje, graças ao esforço do Tarso e de todos nós, o ProUni tem 700 mil estudantes com bolsas de estudo”, frisou.

Aproveitando o sucesso da capitalização da Petrobras, concluída na quinta-feira (23), Dilma não perdoou. “O governo anterior (FHC) dizia que, se não mudássemos o nome da Petrobras, não íamos conseguir dinheiro lá fora. Diziam que precisávamos tirar o ‘bras’ do nome, transformar em Petrobrax. Vocês não deixaram”, disse, apontando para o público. “Quando puderam mais, eles fizeram menos. Venderam ações da Petrobras e ganharam R$ 7 bi. Hoje, a Petrobras lucra 70 bilhões de dólares. O que o governo deles vendeu, nós compramos de volta”, completou, sob aplausos.

“Vamos responder ao ódio com esperança e amor”, afirmou Dilma. “Vamos derrotar o preconceito contra as mulheres, mostrar que elas também ajudam a construir o Brasil, todos os dias. Quando o Lula descer a passarela do Palácio da Alvorada, ele pode ter certeza que vai deixar o governo nas mãos de alguém que vai seguir o seu exemplo, que vai honrar as mulheres e cuidar do povo do Brasil”.

Ao fim do discurso, o apresentador pede a palavra. Tinha recebido uma anotação minutos antes, entregue por um assessor. Eram os resultados da última pesquisa Ibope para presidência, divulgada naquele momento. “É 12% para Marina (Silva, PV), 28% para José Serra (PSDB) e 50% para a Dilma”, anunciou, modulando a voz para realçar a pontuação da candidata petista. Logo depois, puxou o coro: “é Tarso no Rio Grande e a Dilma no Brasil”.

Giovanni Rocha
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Elétrico

A presença de Lula exerce sobre seus admiradores uma força quase magnética. Enquanto o presidente fala, a atenção do público é toda dele. O quase silêncio só é rompido por algumas explosões de riso, causadas pelas frequentes piadas de Lula. Atenta ao palco, a multidão baixa as bandeiras, observa e ouve a figura em cima do palco, sem querer perder nenhum detalhe. O líder petista está elétrico: brinca o tempo todo, enquanto faz um balanço de seu governo, em um discurso que mistura o apoio a Dilma Rousseff com um clima inequívoco de despedida.

“A partir do nosso governo, não será mais possível governar sem que se ouça o que pensa o negro, o portador de deficiência, o sindicalista, os representantes de todas as minorias e grupos sociais desse país”, afirmou, enquanto listava conquistas dos oitos anos de governo Lula. “Quando eu passava na Bolsa de Valores de SP, nos anos 80, fechavam a porta com medo de mim. Eu nem sabia direito o que era Bolsa, só conhecia a minha, que eu carregava comigo”, brincou, provocando gargalhadas. “Hoje, a segunda maior Bolsa do mundo é a de São Paulo, e o FMI pede dinheiro emprestado para nós”, comemorou.

“Tem gente que não aceita ver a senzala chegar na casa grande, que não quer ver o pobre tomar café, ter almoço e janta”, discursou Lula, alfinetando os adversários de Dilma na eleição, e os associando com a oposição que ele próprio teve nas campanhas presidenciais. “Diziam que o PT ia ser um fracasso. Perguntavam: ‘O que esse peão quer, acha que vai governar o Brasil sem diploma’. Se eu fracassasse, seria não só um fracasso meu, mas da esperança que tinha me colocado no governo”, emocionou-se.

Alguém traz um copo d’água para Lula. “Vocês vejam como é, a Dilma vai ser presidente e já recebeu uns dez copos. Eu estou saindo e precisei me esgoelar todo para ganhar um. É como eu brinco com o Olívio (Dutra), político sem mandato não ganha nem vento nas costas”, declarou, entre risos. Pouco depois, as luzes oscilam em cima do palco, quase apagam por falta de corrente elétrica. “É o apagão do Serra”, grita uma voz no meio da platéia.

“A lua está brilhando ali atrás”, aponta Lula, mantendo a descontração. “Não sei se é para mim, para o Tarso ou para a Dilma”. Aproveitando o momento, um partidário grita o nome de Manuela D’Ávila (PCdoB), candidata a deputada federal. Lula não perdoa: “Para a Manuela não, que ela tá lá atrás”, disse, apontando para a aglomeração de candidatos ao fundo do palco. “A lua nem deve enxergar ela no meio dessa gente toda”, brincou, provocando mais uma explosão de riso entre os presentes.

Grande julgamento

Em oposição ao clima de conflito com a imprensa, acentuado nos últimos dias por denúncias contra a Casa Civil e por críticas de Lula ao comportamento dos jornalistas, o presidente adotou um tom conciliador. “Eu sei, e a Dilma sabe, que liberdade de imprensa é fundamental em qualquer regime democrático. A gente fica feliz quando a imprensa fala bem da gente, ninguém gosta quando fala mal. Mas democracia é isso mesmo. Cada um fala, escreve, transmite o que quer. O povo é quem faz o grande julgamento”.

Giovanni Rocha
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Ao final de seu discurso, Lula aproveitou para incentivar a militância a um esforço final, com o objetivo de garantir a vitória em primeiro turno dos candidatos da coligação. “Não saiam das ruas. Vamos conversar sem raiva, com uma cara boa. Se estiverem brabos, a gente ri de volta. Se estiverem nervosos, a gente tem que ficar calmo. Vamos eleger a Dilma, e vocês vão poder dizer que quem deu bordoada no metalúrgico foi uma mulher”, exclamou, acrescentando risos ao estouro de fogos que marcou o final do comício.

Na saída, a comoção lembra a de um grande show, com astros da música ou do cinema. Pessoas se espremem contra as divisórias de metal, buscando uma palavra, um último aceno do presidente que se despede. Três veículos saem pela Rua Uruguai, levando Dilma e Lula para o voo que estava previsto para 22h. Na esquina com a Siqueira Campos, um ônibus tranca momentaneamente a passagem da comitiva. Pessoas cercam o carro; os seguranças saltam imediatamente de um dos veículos, para evitar surpresas e garantir a continuação da viagem. Depois de alguns instantes, o trajeto volta a estar livre, e a comitiva segue seu caminho, deixando para trás um clima festivo e cheio de confiança. Mais do que nunca, o PT gaúcho acredita, e muito, que a retomada do poder estadual pode ser garantida em 3 de outubro.


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