Movimentos
|
21 de julho de 2019
|
20:34

MST doa 400 kg de leite em pó para iniciativas sociais no RS

Por
Luís Gomes
[email protected]
Crianças e adolescentes receberam a doação do MST por meio de uma iniciativa de Luisa de Souza | Foto: Catiana de Medeiros

Maiara Rauber
Da Página do MST

O leite é um dos alimentos mais importante para a nutrição, principalmente das crianças. Pensando nisso, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra coopera com a produção desse produto, sendo ele in natura ou em pó. Cerca de 3,5 mil famílias assentadas nas regiões Sul e Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, organizadas em sete cooperativas, contribuem para a industrialização do leite em pó. O objetivo é firmar uma alternativa a mais para o desenvolvimento das áreas de Reforma Agrária.

Na última semana, integrantes do movimento realizaram doações do alimento para associações e para pessoas que disponibilizam seu tempo para ajudar o próximo. De acordo com Vanessa Borges, do setor de formação do MST, essa ação é uma forma de interagir com a população. “É um ato político na medida em que a gente constrói relação com a sociedade urbana organizada, no caso as associações. Mas também é um ato de solidariedade na medida em que a gente tem construído uma relação com pessoas que estão tentando construir uma maneira melhor de viver na própria comunidade”, pontua a militante.

No total, o movimento doou 400 kg de leite em pó a quatro iniciativas distintas. A Associação dos Moradores do Bairro Mathias Velho, em Canoas, na Região metropolitana de Porto Alegre, recebeu 50 kg do produto. Já na Vila Cruzeiro, em Porto Alegre, a Associação dos Moradores e Amigos da Vila Tronco Neves e Arredores (Amavtron) foi contemplada com 150 kg, e o Projeto Fazendo História e Luísa Andrea de Souza obtiveram 100 kg cada.

Essas ações não são isoladas. O MST já realizou em várias ocasiões inúmeras doações de alimentos, com o intuito de mostrar para a sociedade a produção dos assentamentos. Para além disso, Vanessa explica que essa atitude vem ao encontro com a luta contra o pensamento hegemônico que busca criminalizar a periferia e os trabalhadores Sem Terra. “É um diálogo importante tanto para nós conhecermos a periferia, quanto para que a periferia conheça o movimento”, declara.

Dois anos de uma iniciativa social

Luísa Andrea de Souza, moradora da comunidade Cruzeiro do Sul, teve a iniciativa de incentivar crianças e adolescentes a praticarem esportes e brincadeiras. As atividades ocorrem durante os sábados e o ponto de encontro é praça pública. No entanto, conforme Luísa, o local está em uma situação precária, tornando o espaço inadequado para a prática dos exercícios.

Atualmente 65 crianças, na faixa etária de 3 a 17 anos, participam das brincadeiras propostas pela moradora. Sendo elas corda, pipa, caçador, carrinho de lomba, além do futebol e vôlei. Luísa ainda incentiva as crianças a participarem de competições, porém, sempre evidencia a importância da organização dos jogos. “Mas a ideia não é só futebol, é a interação das crianças com as brincadeiras e a amizade. Interação, educação, a responsabilidade é tudo”, afirma.

Como forma de incentivo a essa ação, o movimento doou leite em pó produzido pela Reforma Agrária. “Nossa, foi uma benção. Para as crianças, eu tenho certeza, é sempre bom ter um leite pra tomar café, pra fazer uma batida, pra fazer um lanche”, relata Luísa, ao receber o alimento.

Construindo a história da vida

Há um ano, Cléa Regina de Oliveira Blos trabalha com 25 crianças de 7 a 14 anos. No Projeto Fazendo História, a cabeleireira, concilia seus horários de trabalho com as suas atividades extras. A iniciativa tem como objetivo dar reforço escolar e oficinas de hip hop durante quatro dias por semana, tirando assim as crianças das ruas. “Eu, tirando elas da rua, trazendo elas pra dentro, elas podem aprender algo, como cozinhar, cortar um tempero, fazer um pão, costurar uma peça de roupa, pregar um botão”, esclarece Cléa.

Além de atuar no projeto e ser cabeleireira, Cléa dá cursos, revende produtos de beleza e vende galeto assado na sua casa aos domingos. Por isso, para ela, a doação de leite em pó, feita pelo MST, foi muito importante, sendo que a mesma oferece refeições e lanches para as crianças que participam do seu projeto. “Nem sempre tu pode ter leite. Como vivemos de doação e nem sempre eu tenho dinheiro pra comprar o leite, então esse leite veio a calhar, estou sem palavras, eu só tenho a agradecer a vocês, ao pessoal que está fazendo a doação”, conclui.

Leite em pó do MST vai alimentar de 354 crianças da Amavtron. | Foto: Catiana de Medeiros

Amavtron

Depois de três décadas da sua criação, a Amavtron recebe mais de 350 crianças na sua instituição. Na educação infantil são atendidas 34 crianças na faixa etária de 4 meses a 5 anos. Já os alunos de 6 a 14 anos participam do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vinculo. Os jovens de 15 a 17 anos inserem-se no Serviço de Convivência de Vinculo – Trabalho Educativo, totalizando 220 integrantes.

O intuito da associação é auxiliar mães e pais, atendendo as demandas com a comunidade e desenvolvendo atividades direcionadas para crianças e adolescentes, segundo Jessica Soares Cardoso, coordenadora geral da Amavtron. Nela são disponibilizado projetos sociais e culturais, os quais incluem teatro, coral, banda marcial, bloco de carnaval, manutenção de informática, padaria, eventos comunitários, campanhas de saúde, meio ambiente e educação.

As atividades ocorrem de segunda a sexta, sempre em turnos inversos ao escolar. São proporcionadas cinco refeições diárias para as crianças e adolescentes que frequentam a associação. A Amavtron conta com um quadro de funcionários de 45 pessoas no total, incluindo uma pedagoga, professor de educação física, educadores e voluntários, os quais trabalham com a educação infantil e auxiliam na área da assistência.

Jessica relata que a doação realizada pelo movimento é de suma importância, pois a associação consome muito leite. “Hoje o leite mais seguro que a gente tem é o leite em pó”, salienta a coordenadora. Jessica ainda acrescenta que para muitas crianças que frequentam a Amavtron a única refeição ocorre na entidade. “Então tem diferença se a criança ganha uma caneca de leite, e um pão. Por isso a nossa instituição está muito feliz. É de suma importância essa doação pra nós”, finaliza.

Associação dos Moradores do Bairro Mathias Velho

A Associação de Moradores da Vila Getúlio Vargas, criada em agosto de 1990, realiza várias atividades. De acordo com Maria de Lurdes Fuciline, o foco sempre vem ao encontro da necessidade apresentada pela comunidade. “As ações que estão acontecendo este ano são atividades com crianças, como reforço escolar, capoeira e oficinas”, pontua a presidenta. Para além disso, a associação inaugurará na próxima terça-feira (23) uma padaria, a qual tem o intuito de gerar renda para as mulheres do bairro Mathias Velho, em Canoas.

Em parceria com o MST há alguns anos, a associação foi contemplada novamente com doações das produções da Reforma Agrária. Nesta ocasião, os moradores do Mathias Velho receberam arroz orgânico e leite em pó, os quais foram distribuídos entre eles. “Veio na hora certa, estávamos precisando muito. A nossa diretoria agradece muito mesmo”, ressalta Maria.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora