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11 de março de 2019
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19:20

Camponesas celebram sua luta e reafirmam resistência em Rodeio Bonito (RS)

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Sul 21
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Camponesas celebram sua luta e reafirmam resistência em Rodeio Bonito (RS)
Camponesas celebram sua luta e reafirmam resistência em Rodeio Bonito (RS)
Ato regional contou ainda com a presença da mulheres de Novo Tiradentes e Cerro Grande. (Foto: Divulgação)

Por Marcos Corbari (*)

No norte do Rio Grande do Sul as mulheres camponesas de Rodeio Bonito, Novo Tiradentes e Cerro Grande reuniram-se em evento conjunto para debater pautas comuns, trocar experiências e reforçar suas lutas por igualdade, contra a violência e em contrariedade à reforma da previdência. O ato, realizado no último sábado, 9, na comunidade de Linha Bonita, integrou as programações alusivas ao Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia anterior.

– Nossa luta que começou há mais de 30 anos continua firme e forte -, disse Ana Strapasson, representante das mulheres trabalhadoras rurais. “Sem luta nós não teríamos conseguido nada”, assinalou lembrando de passagens históricas vivenciadas ao lado de suas companheiras de movimento sindical. “Conquistamos direitos com muito esforço, agora podemos olhar para trás e ver os resultados”, acrescentou, citando os dados de 2018 que mostram a entrada de recurso de aposentadorias rurais na ordem de quase R$ 5 milhões em Novo Tiradentes e mais de R$ 19 milhões em Rodeio Bonito somente no último ano. “A gente mostra esses números para que todos saibam o que representa para as nossas comunidades o aposentado e a aposentada do meio rural, o quanto trazem de recursos para movimentar a economia de nossas comunidades”, acrescentou. “Isso tudo representa uma conquista da nossa luta e que agora nós temos a obrigação de defender, de não deixar cair, não deixar que tomem ou destruam o que nós conquistamos e construímos”, concluiu.

– Nós nos reunimos aqui para celebrar o 8 de março, mas também para falar em alto e bom som que todo dia é dia da mulher, e por ser assim é dia de lutar -, expressou a jovem Viviane Chiarello, representante do MPA na mesa oficial. Para ela o enfrentamento da violência doméstica é uma pauta prioritária, especialmente no cotidiano da mulher camponesa, que muitas vezes suporta abusos físicos e psicológicos muito fortes da parte daqueles que deveriam ser seus companheiros. A pauta da previdência também mereceu atenção da jovem, que afirmou que o assunto é visto com preocupação e indignação por parte da nova geração camponesa.

Saraí Brixner, representante do Patronato Italiano INCA/CGIL/CUT, enalteceu o evento e registrou que é preciso que se fortaleça cada vez mais a presença da mulher também nas instâncias de fala: “A gente ainda tem muita dificuldade em garantir que as mulheres se empoderem e falem com as outras mulheres. Precisamos aproveitar momentos em encontros como esses para fortalecer a presença das mulheres”, explicou. “Precisamos colocar a mulher no protagonismo de sua luta, construindo e assumindo os rumos de momentos de formação como este, precisamos ampliar esses espaços e desafiar as mulheres – em espacial as camponesas – a reassumir sua posição na luta popular, na defesa de seus direitos e na conquista de suas reivindicações.

Manifestaram-se ainda no ato o presidente do Sindicato, Cleonei Vieira Borges, prefeito de Rodeio Bonito, José Arno Ferrari , o prefeito de Novo Tiradentes, Adenilson Della Paschoa, o representante da Emater, Artêmio Balsan, e os deputados Edegar Pretto e Dionilso Marcon. O ato contou ainda com celebração religiosa conduzida pelo padre Ilário Barbieri pela manhã, palestra sobre ervas medicinais e remédios caseiros com o Frei Wilson Zanatta, feira de produtos agroecológicos dos coletivos do MPA durante todo o dia e integração cultural na parte da tarde. Os organizadores calcularam que em torno de 500 mulheres participaram da atividade. A programação foi organizada pelo Sindicatos de Trabalhadores Rurais, prefeitura de Rodeio Bonito e Novo Tiradentes, EMATER e Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

Reforma da Previdência

Um tema que tem colocado a mulher camponesa em alerta é a reforma da previdência proposta por Bolsonaro e Guedes, que aniquila direitos históricos conquistados depois de intensas jornadas de lutas nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Quem falou sobre o assunto e desmascarou as mentiras do governo foi Saraí Brixner: “O governo não está propondo uma reforma, ele está querendo fazer sim um grande ajuste fiscal onde quem paga a conta é apenas o trabalhador e a trabalhadora”. Trazendo dados oficiais apresentados pela CPI realizada pela Câmara dos deputados em 2017, demonstrou que a Previdência não está “quebrada” como alardeia o governo, deixando claro que o único setor a ser beneficiado pelo pacote de maldades de Bolsonaro e Guedes é o banqueiro.

– Esse debate é central para a mulher, deve ser encarado como uma pauta prioritária, porque nós sabemos que a cada período em que o capitalismo precisa se reconstituir para dar continuidade ao ciclo de exploração do povo, quem mais sofre com a perda dos direitos são as mulheres e nesse momento é exatamente o que está acontecendo”, afirmou. Pra ela, as mulheres são duplamente penalizadas na proposta de destruição da Previdência pública imposta pelo governo, pois além de aumentar a idade mínima para que se alcance o direito ao benefício, aumenta-se o tempo de contribuição. “Se levarmos em conta a jornada de trabalho estendida das mulheres, o trabalho precarizado a que normalmente são sujeitas, podemos facilmente perceber que são elas que já contribuem mais para a manutenção do sistema. Saraí alertou ainda para as mudanças no sistema de pensão por morte, para a possível redução do piso do benefício para valores inferiores ao salário mínimo e – o item mais grave – o pagamento de R$ 600,00 anuais dos camponeses para a previdência. Para ela é preciso uma resposta imediata dos trabalhadores e trabalhadoras, com organização e luta popular, cobrando inclusive de seus representantes junto à Câmara Federal que assumam postura contrária à proposta do governo independente dos partidos.

Eles por Elas

O deputado estadual Edegar Pretto esteve presente no ato e fez um resgate do movimento internacional que mobiliza homens em apoio à pauta de lutas das mulheres, em especial no combate à violência, denominado He for She (Eles por Elas). “Essa luta também é nossa, é preciso resistir e continuar lutando por igualdade, respeito, direitos, contra a violência e o feminicídio, pela Previdência pública e democracia”, destacou o parlamentar, que atua como representante do Comitê Impulsor do He For She no RS. “de dialogar diretamente com o público masculino para reforçar o movimento nacional de sensibilização e combate ao machismo. “Se são os homens que agridem, é com eles que precisamos conversar para que tenhamos uma nova geração que não concorde e não aceite nenhum tipo de violência contra as mulheres”, afirmou, explicando o sentido da ação global que é chancelada pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Para Pretto, dois princípios de violência estão sendo praticados contra as mulheres e é preciso que todos e todas se mantenham atentos para ambos: o primeiro é direto e se estabelece pela via interpessoal, onde homens (normalmente companheiros ou ex-companheiros de relacionamento) praticam a violência física direta e violência psicológica; já o segundo aspecto, que acontece por via institucional, quando se impede que a mulher exerça em condições de igualdade o exercício profissional, o alcance de posições de representação política e, até mesmo, tem seus direitos ameaçados por ações de instância governamental.

(*) Jornalista, ICPJ, MPA, BdF-RS e Rede Soberania.


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