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17 de abril de 2018
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23:02

Ato marca dois anos da votação na Câmara dos Deputados que derrubou Dilma

Por
Sul 21
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Ato concentrou manifestantes na Esquina Democrática | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Fernanda Canofre

Há dois anos, num dia 17 de abril, a Câmara dos Deputados em Brasília aprovava o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT). Um domingo que ficou marcado na memória dos brasileiros, pelos votos que se sucediam dedicando o “sim” pela derrubada da primeira presidente mulher do Brasil a filhos, cidades, torturadores do passado. Por tudo, menos por razões que justificariam um impeachment legítimo.

Para marcar a data, a Frente Povo Sem Medo e as Centrais Sindicais se reuniram na Esquina Democrática nesta terça-feira (17). Em um ato show, com performances musicais, algumas lideranças se alternaram em falas rápidas ao microfone.

“As promessas que eles fizeram não se concretizaram. Na época, diziam muito que tinham que tirar a Dilma pelo ‘conjunto da obra’. Primeiro falavam das pedaladas fiscais, depois o aumento do desemprego. Hoje, ele aumentou ainda mais, são mais de 13 milhões de desempregados e a reforma que eles fizeram piorou as condições de trabalho no Brasil”, diz Ademir Wiederkehr, da CUT-RS.

Para ele, as reformas promovidas pelo governo de Michel Temer (MDB), além de afetar diretamente a vida de trabalhadores, ainda teriam ajudado a confirmar a narrativa de que o que derrubou Dilma foi um golpe. Ademir lembra ainda da Reforma da Previdência, prometida por Temer, mas que naufragou no Congresso por falta de apoio.

“Isso desmascarou o golpe, que ele foi feito para retirar direitos, vender o pré-sal e atender interesses de seus financiadores. Não para acabar com a corrupção, como os golpistas defendiam”, avalia ele.

Silvana Conti diz que 2018 é ano decisivo | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Silvana Conti, da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e do PCdoB, diz que o país ficou fragilizado e mais suscetível ao avanço de pautas fascistas, a partir do processo que definiu o fim do governo Dilma.

“Quando a gente pensa nestes dois anos parece que foram dois séculos. Porque foi uma retirada de direitos avassaladora. Foram muitas questões, em pouco tempo. Tínhamos uma democracia jovem, mas vivíamos em uma democracia. Neste momento, então, a gente só relembra ataques à classe trabalhadora”, diz ela.

Para ela, o novo governo precarizou, especialmente, a vida de mulheres negras e mulheres que vivem e trabalham no campo. “Esse golpe não é simplesmente o golpe do impeachment, mas contra o povo brasileiro”.

Ex-deputado e quadro histórico do PT gaúcho, Raul Pont defende que é preciso lembrar e marcar a data, para que o povo não esqueça que “não havia crime” contra Dilma. “Não teve base nem para retirar dela os direitos políticos. O golpe é prova de que ela saiu para que mudasse a política econômica, social, internacional. É isso que está em jogo”.

Ex-preso político, que lutou pelo fim da ditadura militar, Pont afirma que o golpe parlamentar contra Dilma representa um “retrocesso, recuo brutal” para a democracia brasileira. E a imprensa, segundo ele, tem um papel em tudo isso.

Assim como as letras de músicas entoadas durante o ato, Pont também afirmou que uma parcela da imprensa tradicional brasileira foi fiadora do impeachment. Ele usou como exemplo o Seminário de Economia que ocorreu na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, na segunda (16), e que não recebeu nenhuma linha na imprensa local hegemônica. Em compensação, na semana anterior, o Fórum da Liberdade, realizado com apoio do Grupo RBS, esteve nas manchetes de portais e jornais.

“Tínhamos aqui o senador Roberto Requião (MDB/PR). O diagnóstico que fizemos ali é que o Brasil aumentou o desemprego, não teve liderança na América Latina, está fazendo uma política medíocre junto aos BRICS, perde espaço de protagonismo internacional. O Temer representa neste momento um retrocesso. É o Brasil como a Globo e a Ford querem: o Brasil é pop e agrícola. A indústria já caiu a menos de dois dígitos na formação do PIB. Como vai gerar emprego assim?”, questiona ainda o ex-deputado.

Lembrada em faixas, camisetas e livros que eram vendidos no ato, a prisão do ex-presidente Lula também foi pauta no “aniversário do golpe”. O rosto dele com a frase “Lula livre” era a imagem mais frequente.

Silvana Conti avalia que a prisão de Lula, ocorrida há dez dias, é mais uma etapa do mesmo golpe. “Isso significa tirar do povo a soberania do voto popular. A gente está num crescente, que aponta que daqui a pouco o povo não irá ter direito de votar. Por isso que a gente se mantêm nas ruas, mobilizados e mobilizadas, com as centrais e partidos políticos. Porque 2018, na nossa avaliação, é um ano decisivo”.

Confira mais fotos do ato:

Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21

 


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