Movimentos
|
25 de maio de 2017
|
20:53

Para pesquisadora, falar de ‘crise universitária’ é falar de ‘crise de representação’

Por
Sul 21
[email protected]
Para pesquisadora, falar de ‘crise universitária’ é falar de ‘crise de representação’
Para pesquisadora, falar de ‘crise universitária’ é falar de ‘crise de representação’
Pedagoga argentina, Marcela Mollis, debateu junto aos dois ex-reitores da UFRGS, Hélgio Trindade e Maria Beatriz Luce | Foto: Reprodução/YouTube

Da Redação

“Na América Latina, a transformação neoliberal impactou a dinâmica da chamada democracia universitária, mas também impactou a democracia a nível nacional. Hoje, se falamos de crise universitária, teríamos que falar sobre crise de representação democrática universitária e crise de representação democrática a nível nacional”. Essa afirmação foi levantada pela pedagoga e pesquisadora de Ciências da Educação da Universidade de Buenos Aires (UBA), Marcela Mollis. Nesta quinta-feira (25), Mollis foi uma das convidadas da Conferência sobre Crise e Perspectivas da Universidade Latino-americana, realizada pelo Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados (ILEA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pelo Associação dos Docentes da instituição (ADUFRGS).

Mollis apresentou um passeio pela História de como as universidades se constituíram na Argentina e dos eixos de semelhança com outros sistemas da América Latina. E questionando o papel do Estado-nação na equação. Segundo ela, o próprio sistema de Bolonha, surgido na Itália, no século XII, cunha a ideia de “autonomia universitária” tendo por base uma dependência – cada universidade então dependia de um poder público que a sustentasse, poderia ser a Igreja ou um governante. Quando chegou a vez de a Argentina reformar seu ensino universitário, no começo do século XX com Hipólito Yrigoyen no poder, os jovens de então sabiam que precisariam mostrar que, embora o sistema universitário que queriam dependesse do Estado, esse Estado significava o poder federal, político, não o partido que governava na ocasião.

“Houve um momento quando a intervenção do governo federal foi o que autorizou a autonomia. Pode parecer contradição, mas não foi, porque esse governo representava a nova classe média urbana, filhos de imigrantes, que queriam formar profissionais e desenvolver a ciência”, explica Mollis, apontando que foi a emergência dessa nova classe social que exigiu uma revolução no sistema. Aliás, durante a conferência, a argentina apontou diversas vezes que foram as mudanças sociais que obrigaram o sistema universitário a mudar.

O que nos leva a situação atual. Em meio a uma aguda crise de representação política, que afeta o mundo todo, a crise universitária é mais um reflexo. “A crise de representação não afeta somente a nós, na América Latina, ela afeta especialmente as democracias liberais do século XIX e do século XX. Elas já não são representativas de novos atores e setores sociais, como foi a democracia de Yrigoyen que nos levou à reforma de 18, nossas democracias hoje estão condicionadas aos poderes dos grandes monopólios e dos grandes poderosos que têm representação nos atores políticos. Hoje, a economia domina a política”, afirma ela.

A emergência dos estados neoliberais na região, durante a década de 1990, que resultou em um Estado diminuído pelos ajustes fiscais, ricocheteou na porta das universidades argentinas. Mollis lembrou de um relatório do Banco Mundial, publicado nesta época, que pretendia ser uma análise do porquê de as instituições estarem em crise. Nele, citavam que a crise nas universidades argentinas e latino-americanas em geral, “se produzia por um excesso de politização dos estudantes e dos professores, pela gratuidade da educação e por um excesso de autonomia, porque não são controladas ou supervisionadas por nenhum outro órgão”. Universidades com ensino público, gratuito, que dependiam de fundos do Estado, são ainda a antítese do modelo norte-americano.

A questão atual é então, que Estado as universidades precisam? E que universidades se quer construir para o Estado de hoje?

Além de Mollis, a conferência contou com a participação de dois ex-reitores da UFRGS, os professores doutores Hélgio Trindade (ex-reitor da UFRGS e da UNILA) e Maria Beatriz Luce (FACED/UFRGS). O seminário com a fala dos três, discutindo a realidade das universidades latinas hoje, pode ser conferido na íntegra no link abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=h1_LauU994w


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora