Caravana de Lula enfrenta bloqueio e pedradas, mas faz ato junto a túmulo de Getúlio

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Luís Gomes
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Caravana de Lula visitou túmulo de Getúlio Vargas, em São Borja. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Luís Eduardo Gomes

No primeiro dia da Caravana de Lula pelo Rio Grande do Sul, ruralistas organizaram um protesto para tentar impedir a visita do ex-presidente à Unipampa, em Bagé. No segundo dia, estudantes ligados ao MBL e seguidores de Jair Bolsonaro organizaram um protesto durante a visita a UFSM, em Santa Maria, que teve momentos de confronto direto com apoiadores de Lula. Mas foi no terceiro dia, que os protestos atingiram um tom mais selvagem.

Desde segunda-feira (19), já circulavam áudios e mensagens nas redes de ruralistas ligados a sindicatos regionais organizando a mobilização para, não só protestar, mas impedir a chegada de Lula a São Borja. A ideia era trancar os acessos a cidade e realizar um ato na praça central, para impedir que Lula fizesse o dele.

Os bloqueios viários, de fato, atrapalharam a caravana de Lula, que precisou andar por estradas de chão batido, margeando propriedades rurais. Somando com uma parada mais demorada do que a esperada em São Vicente do Sul, a comitiva de três ônibus chegou a São Borja quando já passava das quatro da tarde – o ato na cidade estava previsto para as 14h. E, quando os ônibus passavam pela estátua de Getúlio no pórtico de entrada da cidade, foram recepcionados por chuvas de ovos, pedras e fezes animais. Os agentes da Brigada Militar que faziam a segurança da caravana tentavam impedir, chegando a disparar spray de pimenta nos agressores, mas eles ainda assim persistiam. No rosto dos manifestante, a expressão do ódio puro contra o ex-presidente, em muitos casos acompanhadas de dedos médios em riste e camisetas de apoio a Bolsonaro.

Foto: Guilherme Santos/Sul21

Contudo, apesar do barulho e da agressividade, a caravana passou. Lula conseguiu descer e fazer o seu ato na praça central de São Borja, que contava com a presença de milhares de pessoas. Mais atuante do que em outros momentos, a BM isolou os quatro acessos do local para manifestantes contrários e o ato foi realizado com tranquilidade – ainda que relatos dessem conta de confrontos que antecederam a chegada da caravana, inclusive com informações de que um policial foi ferido por um manifestante anti-Lula.

Ao subir no caminhão de som, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, comemorou a chegada ao local como se uma batalha tivesse sido vencida. “Nós entramos em São Borja”, disse, em tom de comemoração. “Quem enfrentou a ditadura não tem medo de agroboys, que se beneficiaram muito do governo federal para comprar máquinas”.

E, assim como ocorreu nos atos políticos anteriores da caminhada, o tom dos discursos seguiu assim, misturando críticas aos protestos com a defesa do legado dos governos petistas, sempre lembrando de programas como o Bolsa Família, o Luz Para Todos, e de ação que tiveram efeitos locais, como a chegada dos campus da Unipampa e do Instituto Federal Farroupilha a São Borja durante os governos petistas.

“Fico pensando qual o motivo do ódio dessa gente. E chego à conclusão que a elite deste país nunca entendeu a necessidade da evolução das pessoas mais pobres. Não aceitam que a filha de uma empregada possa frequentar a mesma faculdade de seus filho”, disse o ex-presidente.

Lula também reafirmou que não abre mão de ser candidato para “consertar o país” outra vez. “Eu quero que eles saibam: a gente vai voltar e quando voltar vamos revogar as desgraceiras que eles estão fazendo neste país”, disse, para depois já começar a fazer promessas de campanha. “Nós vamos federalizar o ensino médio nesse país. Quem ganha até cinco salários mínimos não vai mais pagar imposto de renda, que paguem os ricos. Vamos derrubar a PEC que congela gastos em saúde e educação”.

Foto: Guilherme Santos/Sul21

Homenagens a Getúlio, Jango e Brizola

A grande novidade para as demais paradas foi que, junto ao local onde Getúlio Vargas foi enterrado, na cidade onde nasceu João Goulart e onde Leonel Brizola tem raízes, os petistas trataram de reivindicar a memória dessas lideranças do passado como heróis da causa progressista e aproximá-los da figura de Lula, isto é, como políticos que trouxeram direitos para a população e foram perseguidos pela elite econômica e pelos meios de comunicação.

“É de novo a vilania para impedir a inclusão do povo brasileiro”, disse o ex-governador Olívio Dutra. “Os golpistas da época de Getúlio são os mesmos que hoje usam os tratores que eu e Lula financiamos, usam recursos do povo brasileiro, para protestar contra nós”, afirmou Dilma Rousseff.

Após o ato, a comitiva visitou o túmulo de Getúlio, que traz a carta testamento escrita pelo ex-presidente antes de se suicidar, que diz: “Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os mais humildes.”

Ainda estava marcada uma visita aos museus dos ex-presidentes Getúlio Vargas e João Goulart, que não ocorreu. Oficialmente, em razão do horário e do atraso, mas também por causa da situação dos protestos na cidade. A caravana seguiu para São Miguel das Missões, onde visita o sítio arqueológico local pela manhã.

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Foto: Guilherme Santos/Sul21
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