Julgamento Lula
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22 de janeiro de 2018
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17:24

Semana começa com marcha de milhares em apoio a Lula: ‘Resistência e luta pela democracia’

Por
Sul 21
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Marcha do MST e da Vila Campesina em defesa do ex-presidente Lula. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Giovana Fleck 

Alguns minutos depois das 6h da manhã, Luciane Almeida ajeitava as duas bandeiras que carregava consigo, enquanto se posicionava na parte da frente da Marcha pela Democracia, organizada em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A bandeira do Brasil era balançada com vigor, enquanto a do Partido dos Trabalhadores se agitava com os movimentos de seu corpo, repousada sobre o ombro esquerdo.

Luciane acordou ainda de madrugada para encontrar outros milhares de manifestantes nas proximidades da Ponte do Guaíba. “Eu sou mulher, eu sou negra. É minha obrigação estar aqui ao lado de quem defende meus direitos”, afirma. Rapidamente, ela afasta as tranças da camiseta em que se lê: “Não ao golpe!”. “Com democracia já é difícil, imagina sem ela”.

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Lula será julgado na quarta-feira (24) por suposto recebimento de propinas por meio de um apartamento triplex em Guarujá (SP). Denunciado pelo Ministério Público Federal ainda em 2016, Lula foi condenado pelo Juiz Sérgio Moro em julho de 2017. O julgamento em 2ª instância no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) ocorrerá na quarta-feira (24), quando a 8ª Turma dirá se mantém ou não a condenação a 9 anos e 6 meses de prisão.


“Cada classe quer se salvar primeiro e proteger seus interesses”, afirma João Pedro Stédile, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). “O Golpe que eles deram contra a Dilma foi um golpe para ter o controle dos quatro poderes: a mídia, o legislativo, o judiciário e o executivo. Assim, com esse controle, todo o peso da crise cai sobre o ombro dos trabalhadores. Para continuar essa política econômica […], eles precisam de mais quatro anos”. Segundo ele, o fato do governo atual ser completamente impopular e nunca poder ser reeleito conduziu à articulação do julgamento para que Lula não possa ser candidato. “Ele une a classe trabalhadora. E se a classe trabalhadora não tiver candidato, a eleição é uma hipocrisia”.

“Eleição sem Lula é fraude”, gritavam os manifestantes. Foto: Joana Berwanger/Sul21

A marcha saiu da Ponte do Guaíba com um coro que gritava: “eleição sem Lula é fraude”. Ao longo dos quase 8 quilômetros de percurso, militantes do MST, da Via Campesina e de outros movimentos sociais ligados à Frente Brasil Popular – assim como políticos e outros representantes da sociedade civil de todo país – marcharam rumo ao Anfiteatro Por do Sol, onde o Acampamento pela Democracia e em Defesa do direito de Lula ser candidato estava sendo montado, nos arredores do TRF-4.

O ex-governador Olívio Dutra se juntou à marcha em apoio a Lula | Foto: Joana Berwanger/Sul21

“O fundamental de toda essa mobilização é que o povo brasileiro protagonize um processo de resgate da democracia que foi golpeada em 2016”, disse o ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra. “A marcha define o posicionamento de um povo que quer poder escolher seu presidente por meio do voto secreto e legítimo”. A fala de Olívio foi complementada pela da senadora e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Para ela, entrar em Porto Alegre em marcha é dizer para o Brasil que os mais pobres estão sendo representados. “É fundamental, para mostrar que há, no país, resistência e luta pela democracia”.

Gustavo de Borto e Wesliny Gonçalves moram em Pontão, no assentamento Annoni. Wesliny veio há alguns anos de Mato Grosso, buscando melhores oportunidades no Sul. Eles são estudantes do Instituto Educar, do MST, que funciona por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), em parceria com a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Por conta de cortes na educação e no programa realizados pelo governo Temer, os estudantes temem o fechamento da instituição. “São cursos bons, perto de onde moramos. Se fechar, provavelmente teremos que parar de estudar”, afirma Wesliny. Na marcha, eles cantavam por melhorias na educação e pela retomada integral de programas ampliados na gestão Lula, como o Fies.

Para Augustín, defender Lula é defender a democracia na América Latina. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Pouco depois das 8h, os manifestantes cruzaram a Av. da Legalidade e da Democracia e chegaram à Avenida Mauá. Com uma televisão de papelão na cabeça e um microfone na mão, Augustín se destacava no meio da manifestação. Da Argentina, ele afirma ter vindo a Porto Alegre para acompanhar o povo brasileiro. Fantasiado, procurava destacar a imagem criada pela mídia, em toda América Latina, contra o ex-presidente. “Todos os países latinos estão conectados. Não se pode pensar em fronteiras tão pequenas. Vim da Argentina para cá para poder defender a autonomia do povo”.

Atividades em apoio ao ex-presidente deverão continuar até o fim do julgamento. O acampamento receberá palestras e atividades culturais abertas ao público enquanto estiver montado. Além disso, diversas mobilizações foram organizadas ao longo da semana para compor o calendário de ações.

Confira a galeria: 

22/01/2018 – PORTO ALEGRE, RS – Marcha do MST e da Vila Campesina em defesa do ex-presidente Lula. Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
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Joana Berwanger/Sul21
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Acampamento do MST e da Vila Campesina em defesa do ex-presidente Lula no Anfiteatro Pôr do Sol. Foto: Joana Berwanger/Sul21
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