Julgamento Lula
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24 de janeiro de 2018
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20:50

Movimentos sociais encerram acampamento em Porto Alegre prevendo aumento na mobilização

Por
Luís Gomes
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Acampamento em Porto Alegre chega ao fim, mas manifestantes prometem seguir mobilizados | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Antes mesmo de o terceiro juiz, Victor Laus, concluir o seu voto no julgamento do ex-presidente Lula no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), a Frente Brasil Popular anunciou o encerramento do Acampamento da Democracia, montado na segunda-feira no Anfiteatro Pôr do Sol, em Porto Alegre. A essa altura, com a condenação de Lula já mantida pelos votos de João Pedro Gebran Neto e Leandro Paulsen, grande parte dos manifestantes que aguardavam o resultado da corte já havia se desmobilizado.

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Apesar de o clima ser de fim de festa nessa tarde, a organização e os participantes avaliavam como positivas as mobilizações de apoio ao ex-presidente. Segundo Claudir Nespolo, presidente estadual da CUT, o acampamento cumpriu um papel fundamental. “Eles julgaram olhando o povo reclamando da forma que eles estão conduzindo esse julgamento”, disse.

Claudir destacou que os movimentos não tinham ilusão com o julgamento e que saem desses três dias de mobilização em Porto Alegre com uma possibilidade de fortalecimento das forças de esquerda e mais capacidade para realizar novas ações, sendo a próxima pauta nacional a luta contra a reforma da Previdência, marcada para ser votada no Congresso em 19 de fevereiro.

Salete Carollo, coordenadora estadual do MST, estima que 40 mil pessoas passaram pelo acampamento, que ela considerou como exitoso do ponto de vista político, pelo público ter sido muito superior ao esperado, e do ponto de vista da organização. “Não houve nenhum incidente, todo mundo ficou alojado, todo mundo conseguiu fazer suas refeições”, disse, destacando ainda que o único problema foi a falta de liberação da energia no local pela Prefeitura de Porto Alegre, mas que o problema foi superado com a utilização de geradores próprios. A Prefeitura fez contato com o Sul21 por meio de sua assessoria de imprensa para informar que tal liberação não caberia o Executivo, mas à CEEE, e que um ponto de água foi disponibilizado mediante solicitação.

Pepe Vargas, presidente estadual do PT, no encerramento do acampamento | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Quanto ao resultado do julgamento, o presidente estadual do PT, o deputado federal Pepe Vargas (PT-RS), manifestou que a posição local do partido é de que tratou-se de um julgamento político e que o processo já deveria ter sido anulado por irregularidades cometidas em primeira instância. “Nós já vínhamos denunciando que esse processo ocorre ao arrepio da Constituição e da legislação existente no nosso País. Em primeiro lugar, esse processo deveria ser considerado nulo, porque houve cerceamento do direito de defesa e o Moro não tem competência para julgar esse processo. Ele mesmo reconheceu isso nos embargos declaratórios, quando diz que a OAS não utilizou recursos de contratos da Petrobras para adquirir o prédio da Bancoop. Então, esse processo deveria ser anulado. Isso é uma farsa judicial, é mais uma etapa do golpe”, disse.

O deputado federal destacou ainda que a decisão não significa o fim da candidatura de Lula, que serão apresentados recursos ao próprio TRF4, ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF), se necessário, e que a mobilização dos movimentos sociais e partidos de esquerda deve aumentar, com a construção de uma unidade do campo progressista, se não em termos de uma candidatura única nas eleições presidenciais, mas em torno de um programa mínimo, começando pela luta contra a reforma da Previdência.

A professora Isabella Lacerda agradeceu quem veio de longe | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Não aceitamos o resultado

Do ponto de vista da militância, era perceptível o abatimento diante do resultado do tribunal, com a área do Anfiteatro Pôr do Sol já esvaziada antes mesmo de o carro de som encerrar suas atividades. As tentativas dos organizadores de puxar cantos em defesa do presidente eram, em geral, respondidas com adesão em baixo volume. Mas o sentimento predominante era de irritação com o resultado.

“Nós estamos saindo daqui irritados porque não houve direito de defesa e eles deram sentença ao arrepio da Lei. Portanto, nós não aceitamos esse resultado”, disse Darci Jerônimo, que coordenou uma caravana de 40 pessoas vindas de Ituiutaba (MG). Ele e o grupo de professores mineiros que chegaram ontem, esperavam o ônibus na Av. Ipiranga para retornar para casa antes mesmo de Laus terminar seu voto. Para além da irritação, ele se dizia satisfeito com o tamanho da mobilização em Porto Alegre. “Nós temos certeza que é dessa forma que vamos conter o golpe”.

Professora municipal de Porto Alegre, Isabella Lacerda nem queria saber o resultado, do qual “não esperava muita coisa”. Por outro lado, disse estar emocionada com a quantidade de pessoas que vieram à Capital. “Ao menos a gente está conseguindo se enxergar um pouco. Somos profundamente agradecidos a esse povo que vem lá do Piauí, lá do Mato Grosso, lá da Bahia, para fazer frente. Agradeço profundamente as pessoas que vieram de vários lugares para dizer que não são só esses diabos que estão mandando no País e que é mentira que todo mundo quer a prisão de Lula”, disse.

Darci liderou uma caravana que veio de Minas Gerais para Porto Alegre | Foto: Joana Berwanger/Sul21
24/01/2018 – PORTO ALEGRE, RS – Acampamento da Democracia, para acompanhar o julgamento do Lula, no Anfiteatro por-do-sol. Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21

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