Julgamento Lula
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24 de janeiro de 2018
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10:18

Após ‘ato histórico’, militantes e líderes petistas fazem vigília: ‘esta onda vai crescer’

Por
Luís Gomes
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Alice Daflon (dir.) veio do RJ em um grupo de dez militantes petistas | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Alice Daflon chegou na manhã desta terça-feira (23) a Porto Alegre. Veio do Rio de Janeiro, em uma comitiva com outros nove militantes do PT. Participou primeiro, ainda pela manhã, do ato das mulheres em apoio a Lula na Praça da Matriz. Durante a tarde, era uma das dezenas de milhares de pessoas que acompanharam o discurso do ex-presidente na Esquina Democrática, no Centro de Porto Alegre. Estava longe do palco, mal conseguiu escutar Lula, mas emocionou-se, conta, ao ver a “resistência popular contra o golpe”.

Após o ato, Alice ainda teve pique para marchar por vários quilômetros no trajeto entre o local do discurso e o Anfiteatro Pôr do Sol, onde é realizado o acampamento dos movimentos sociais que vieram à Capital acompanhar o julgamento de Lula no TRF4. Segundo ela, o que a trouxe a Porto Alegre não foi só o petismo, mas um movimento que diz perceber na sociedade de que a uma crescente tomada de consciência pela população de que o processo contra o ex-presidente é injusto. “Acho que na última semana houve um crescimento e uma aglutinação de forças em relação a essa luta. A gente não luta somente pelo direito do Lula concorrer, a gente luta pelo estado democrático de direito. E acho que finalmente muita gente compreendeu isso. E acho que essa onda vai crescer”, diz.

De Rio Branco, do lado de lá da fronteira do Brasil com o Uruguai, veio Dario Barbieri, acompanhando um grupo de cerca de 60 integrantes da Frente Ampla, incluindo autoridades que atuam no governo de Tabaré Vasquez. Chegaram nesta terça, apenas para acompanhar o ato, e retornariam ainda no mesmo dia, mas antes fizeram questão de participar da caminhada com os militantes sociais brasileiros até o acampamento. “Entendemos que o problema pelo qual está passando o Brasil necessita que defendamos a democracia, não só no Brasil, mas em todos os países latino-americanos. Porque, de alguma maneira, em toda a região há projetos de avanço da direita. Nós temos que começar a nos defender também”, disse, destacando que justamente hoje houve uma manifestação no Uruguai de grupos que, segundo ele, representam os interesses das oligarquias locais e exigem cortes nas políticas sociais.

Dario (dir.) e o grupo de integrantes da Frente Ampla fizeram questão de participara da caminhada até o acampamento antes de retornarem ao Uruguai | Foto: Guilherme Santos/Sul21

A ideia da Frente Brasil Popular era realizar uma vigília no acampamento com atividades durante a noite de preparação dos manifestantes para o julgamento do ex-presidente no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, localizado a menos de 1 km dali. Eram esperadas falas, mas até por volta das 23h, nenhum ato havia convencido. Ainda assim, era possível ver milhares de pessoas circulando pelo local, incluindo várias lideranças políticas.

De acordo com o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), que tinha uma movimentada barraca no acampamento, mais de 40 parlamentares — incluindo senadores, deputados federais e estaduais — do PT e de outros partidos passariam a noite em atividades de vigília ou ao menos presentes durante algum momento da noite.

Este foi o caso do ex-senador e atual vereador em São Paulo Eduardo Suplicy, que, por conta de questões de saúde, optou por passar a noite em um hotel. Diz que a voz fraca era um sinal de que não estava bem o suficiente para passar a noite em vigília. Ainda assim, passou pelo acampamento, onde foi uma das figuras mais assediadas pela militância ali presente. Quando conseguiu dar um tempo nas fotos, Suplicy avaliou que o ato desta terça o fizera lembrar das manifestações pelas Diretas Já, na década de 1980, que eram as maiores das quais tinha participado. “Eu encontrei pessoas de praticamente todos os estados brasileiros. Estão conversando comigo com um entusiasmo simplesmente fantástico”, disse.

Eduardo Suplicy passou pelo acampamento no Anfiteatro Pôr do Sol antes de recolher | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Já o presidente da Assembleia Legislativa do RS, deputado Edegar Pretto (PT), pretendia passar a noite no local. Para ele, movimentos sociais do campo, partidos e a população em geral deram uma demonstração de força e de unidade. “Eu já falava antes do ato, se engana quem pensar que estão aqui só os militantes do PT, só direção de movimentos e sindicatos. Não, aqui tem muito povo trabalhador que não tem partido, mas que estão por aqui porque estão fazendo a conta: como era a nossa vida no Brasil do Lula e agora no Brasil do golpista do Temer. Acho que é esse sentimento que está tomando conta da classe trabalhadora”, disse.

Em sua passagem pelo acampamento, o líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), classificou a terça em Porto Alegre como “dia histórico”. “O que houve aqui não foi pouca coisa. Foi uma grande mobilização, 70, 80 mil pessoas. Eu acho que esse dia aqui no RS vai ter um impacto grande nessa luta pela democracia no País. Não está fácil para esses desembargadores do TRF condenarem o Lula, porque essa sentença do juiz Sérgio Moro não se sustenta na história. Essa sentença vai ser esmiuçada pela história, pela academia, eu sinceramente espero que os desembargadores estejam pensando nisso”, disse.

 

No entanto, assim como já tinha feito em evento na véspera, Lindbergh disse que não nutria ilusões em relação ao julgamento no TRF4. “Sinceramente, a gente chega na véspera do julgamento com essa sensação de que vencemos uma batalha importante na opinião pública. Mas nos desembargadores do TRF eu não estou colocando nenhuma expectativa”, afirmou.

Ele ainda destacou que, independente do resultado da corte, acredita que o nome de Lula estará nas urnas para a eleição de outubro. Ele explicou que isso se dará porque o processo eleitoral e o criminal seriam distintos, com a impugnação da candidatura podendo acontecer apenas depois da mesma ser registrada, em 15 de agosto, e que é uma decisão que não levar menos de 30 dias, com a possibilidade de recurso para o Supremo Tribunal Federal. “É uma eleição de 45 dias. Eu tenho convicção que o Lula vai estar na urna”, disse.

Vigília no acampamento teve banda de estudantes | Foto: Guilherme Santos/Sul21

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