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11 de outubro de 2012
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09:00

Desempenho dos adversários favoreceu Fortunati, dizem analistas políticos

Por
Sul 21
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Desempenho dos adversários favoreceu Fortunati, dizem analistas políticos
Desempenho dos adversários favoreceu Fortunati, dizem analistas políticos
Candidatos não conseguiram fazer frente à candidatura de José Fortunati | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Samir Oliveira

O resultado da eleição em Porto Alegre ainda está sendo digerido pelos dirigentes partidários das siglas que saíram derrotadas na cidade. Enquanto o PDT de José Fortunati sente o gosto de uma ampla vitória no primeiro turno, PT e PCdoB avaliam internamente as causas que fizeram seus candidatos sofrerem um revés que nenhuma pesquisa de intenção de votos chegou a prever: 17,76% para Manuela D’Ávila e 9,64% para Adão Villaverde. A primeira pesquisa que apontou claramente a vitória de José Fortunati no primeiro turno foi a encomendada pelo Sul21 junto ao instituto Studio Pesquisas e Consultoria, no dia 25 de setembro.

Diferentes cientistas políticos apresentam suas interpretações sobre o resultado das urnas neste ano na Capital gaúcha. Apesar de as análises divergirem em muitos pontos, há um denominador comum: o desempenho dos dois principais adversários de Fortunati não foi satisfatório, o que facilitou a vitória de um candidato que conseguiu capitalizar para si a imagem de tocador de obras.

Dentre os erros apontados pelos cientistas políticos, um dos principais é a desunião entre PT e PCdoB para fazer frente à poderosa composição política do prefeito, que conseguiu reunir nove partidos, uma nominata de 245 candidatos à Câmara Municipal e um verdadeiro latifúndio no horário eleitoral em rádio e televisão. Além disso, os especialistas apontam que uma aliança entre esses dois partidos atrairia com mais vigor o eleitorado de centro-esquerda de Porto Alegre – que ficou claramente dividido entre as três principais candidaturas, todas com alianças de caráter conservador.

“Por mais que boa parte do eleitorado petista não compre a Manuela, uma aliança entre PCdoB e PT teria mais condições de se colocar como uma chapa esquerdista puro-sangue”, opina o professor do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRS, Rafael Madeira.

Cientista político e professor da Unisinos, Bruno Lima Rocha também acredita que a união de forças poderia ter evitado a vitória de Fortunati em primeiro turno. “Ocorreu o mesmo em 2008. Só que, na época, havia uma polarização maior, em função do governo de Yeda Crusius (PSDB), e o PT conseguiu chegar ao segundo turno”, recorda.

Alianças partidárias esterilizaram os discursos, apontam especialistas

Prefeito concorreu em aliança com 9 partidos, incluindo DEM, PP e PPS | Foto: Ramiro Furquim / Sul21

Para os cientistas políticos ouvidos pelo Sul21, a política de alianças vigente no Brasil e no Rio Grande do Sul, além das próprias parcerias estabelecidas na campanha pela prefeitura de Porto Alegre, esterilizaram o debate eleitoral, reduzindo uma disputa política a uma disputa entre “síndicos” e “gestores”. Nesse cenário, os especialistas apontam que o prefeito José Fortunati teria uma vantagem natural, pois conseguiu capitalizar para si os efeitos positivos que as obras da Copa do Mundo geram nos setores médios da sociedade. Segundo os analistas, isso também teria contribuído para dividir o eleitorado de esquerda da Capital, que não se identificou completamente com nenhuma das três candidaturas mais competitivas.

“A centro-esquerda se diluiu com nomes, programas e propostas bastante tímidas e semelhantes”, explica Bruno Lima Rocha. Para ele, os adversários não puderam denunciar a aliança conservadora de José Fortunati – que concorreu ao lado do DEM, do PP e do PPS – porque também enfrentavam contradições internas.

“É impossível acusar o Fortunati de ser conservador tendo o Nelcir Tessaro (PSD) e o Arlindo Bonete (PR) como candidatos a vice-prefeito. O cenário político brasileiro está muito poluído por amplas coalizões pela governabilidade. Nesse sentido, não há diferenciação e, portanto, não há confronto político e a disputa fica em cima de características pessoais”, conclui o professor da Unisinos.

Rafael Madeira reconhece que as semelhanças entre os três principais candidatos em Porto Alegre pode ter despolitizado a disputa. “Isso contribui para uma moderação do debate, o empurrando mais ao centro”, analisa.

Para o professor do programa de pós-graduação em Ciência Política da UFRGS, Luís Gustavo Grohmann, não houve “uma crivagem político-ideológica que diferenciasse um candidato do outro”. “Nesse cenário, as pessoas tendem a apostar no que acham que já está dando certo”, comenta.

Manuela montou candidatura “artificial”, diz professor da Ulbra

Manuela concede coletiva após eleição em Porto Alegre - 07 de outubro de 2012
Vice de Manuela era aliado de primeira hora do governo de José Fogaça | Foto: Michel Cortez / Especial Sul21

O coordenador do curso de Ciências Sociais da Ulbra, Paulo Moura, acredita que a campanha de Manuela D’Ávila acabou forjando uma candidatura artificial ao tentar, de forma insistente, demonstrar a maturidade da comunista. “Não é fácil reposicionar a imagem de um candidato sem ficar artificial”, aponta.

Moura vai além na crítica e diz que o carisma da candidata é maior que sua consistência política. “Manuela está na mídia porque é uma menininha bonitinha de classe média. Ela precisa superar isso e comprovar maturidade”, avalia.

Ele acredita que a candidata começou a campanha em alta nas pesquisas de intenção de voto por conta do tensionamento criado pela senadora Ana Amélia Lemos (PP) em relação ao apoio do PP de Porto Alegre nestas eleições. “Manuela disparou nas pesquisas durante os dois meses em que Ana Amélia ficou polemizando seu apoio a ela na imprensa. Depois, faltou consistência para manter os índices”, opina.

Bruno Lima Rocha observa que a comunista “escondeu” o seu partido durante a disputa. “Em momento algum Manuela se mostrou subordinada a uma legenda. É meio surreal pensar no PCdoB, um partido quase centenário, como parte de uma nova política”, comenta.

PT está se esgotando em Porto Alegre, avalia especialista

Villaverde concorreu ao lado de coronel da reserva da Brigada Militar | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

O cientista político Rafael Madeira avalia que o PT lançou um candidato pouco competitivo em Porto Alegre e não conseguiu captar o eleitorado tradicional do partido na cidade. “O PT apresentou um candidato desconhecido e que não conseguiu se relacionar com o eleitor. Se diz que o partido possui 30% do eleitorado na Capital, então para onde foram os 20% que não votaram em Adão Villaverde?”, questiona.

O professor da Unisinos Bruno Lima Rocha observa que o processo pré-eleitoral no PT não foi tão consensual e acabou implodindo a candidatura de um nome mais à esquerda no partido – o deputado Raul Pont, líder da corrente Democracia Socialista. “As prévias de 2002 traumatizaram o PT, quando Tarso levou a vitória sobre Olívio. Um acordo consensual seria melhor do que essa vitória que a ala mais à direita do PT teve neste ano”, analisa.

Para Paulo Moura, a baixa votação do PT nesta eleição é um reflexo do fenômeno de esgotamento pelo qual o partido vem passando em Porto Alegre. “O PT vem numa trajetória decadente de corrosão eleitoral na cidade. A vitória de Tarso no governo do estado é um ponto fora da curva. O eleitor de Porto Alegre continua sendo de esquerda, mas largou o PT, está buscando outros nomes e deu um passeio pela Manuela”, comenta.

Candidaturas mais à esquerda não conseguiram pautar debate sobre Porto Alegre

Érico Corrêa foi único candidato que concorreu sem aliança | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Mesmo com as três principais candidaturas à prefeitura de Porto Alegre envolvidas em um debate tecnocrático sobre gestão, os nomes mais à esquerda na disputa não souberam chamar para si o debate político sobre os rumos de Porto Alegre. Roberto Robaina (PSOL) e Érico Corrêa (PSTU) preferiam pautar um debate nacional sobre a política, cobrando ética no trato da coisa pública e atacando as contradições dos adversários.

“Essas duas candidaturas não trouxeram nada de novo em relação ao discurso tradicional de seus partidos. A agenda eleitoral do PSOL e do PSTU repetiu um discurso que não se insere muito em questões locais”, avalia o cientista político Rafael Madeira.

Para Luís Gustavo Grohnann, “o PSTU não avança no eleitorado porque é uma opção de esquerda extremamente radicalizada e descolada da realidade”. Mas ele acredita que o PSOL está, aos poucos, sugando parte do eleitorado petista. “Mas isso ainda é muito mais uma promessa do que uma realidade”, qualifica.

Bruno Lima Rocha elogia o discurso de Érico Corrêa por ter pautado uma questão esquecida pelo PSOL. “Vi no discurso do PSTU a volta ao antagonismo entre as classes sociais, algo que o PSOL evita comentar”, observa. Ele disse que “as críticas feitas pelo candidato do PSOL podem parecer só denuncismo para o eleitor, mas são bem construídas”.

PSDB enfrentou problemas internos e má avaliação do governo Yeda

Wambert repetiu resultado baixo do PSDB na Capital | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Pela segunda eleição consecutiva, o PSDB obtém resultados eleitorais pífios em Porto Alegre. Em 2008, com Nelson Marchezan Júnior em voo solo, conseguiu 22,3 mil votos e ficou em sexto lugar. Neste ano, Wambert Di Lorenzo, aliado ao PRP, obteve 19,5 mil votos e ficou na quinta colocação.

Rafael Madeira, do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRS, acredita que o partido sofra por conta da avaliação negativa do governo de Yeda Crusius, além de ter uma estrutura pequena no Rio Grande do Sul. “Apesar de ter governado o estado, o PSDB não é um partido estruturado no Rio Grande do Sul. Além de ser um partido pequeno no estado, entrou muito dividido na eleição de Porto Alegre e não fez uma coligação expressivo”, comenta.


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