Samir Oliveira
O intelectual francês Dominique Wolton esteve em Porto Alegre nesta sexta-feira (21) para participar do ciclo de palestras do 7º Fórum Político promovido pela Unimed-RS. Doutor em Socilogia e especialista em estudos sobre Comunicação Política e sobre as relações entre ciência, tecnologia e sociedade, Dominique defende a ideia de que a humanidade se encontra hipnotizada pelas novas tecnologias e deposita na técnica a cura de todos os males – quando, segundo ele, o essencial é buscar a convivência harmoniosa entre os povos, que só acontecerá quando houver um efetivo processo de comunicação entre as pessoas.
“Comunicação é um conceito político, pois supõe a igualdade entre os protagonistas. Só não nos matamos uns aos outros porque somos capazes de nos comunicar”, observou. O intelectual disse que há três grandes desafios contemporâneos: a convivência pacífica entre os diferentes, a preservação dos recursos naturais e a desaceleração do processo de concentração das pessoas em grandes cidades.
Dominique utiliza uma comparação para explicar a diferença que vê entre informar e comunicar: “Uma máquina transmite informações, mas não comunica”, relaciona.
Para ele, a “diversidade cultural é o DNA da humanidade” e “comunicar é fazer as diferentes culturas e povos se entenderem”. Por isso, o intelectual francês rejeita a ideia de que a solução para os problemas da humanidade está no avanço tecnológico. O sociólogo entende que a resolução de conflitos e a melhoria da qualidade de vida sempre dependerá das pessoas e do bom processo de comunicação que elas conseguirem estabelecer entre si.
Em sua fala, Dominique Wolton também criticou a ode ao ambiente urbano como o único possível para o progresso da civilização. “A humanidade não pode viver empilhada verticalmente em cidades de 20 milhões de habitantes. É um mundo artificial, sem contato com a natureza, onde a técnica nos produz uma falsa sensação de comunicação. Não podemos continuar achando que o campo é o passado”, comentou.
Pensador alerta Brasil quanto à “tentação da hegemonia”
Durante sua palestra sobre comunicação, Dominique Wolton teceu alguns comentários sobre a situação política da Europa. Para ele, o continente é um “exemplo de democracia”, pois consegue criar mecanismos externos de atuação conjunta mesmo com tantas diferenças entre cada país.
“A Europa é a experiência mais democrática do mundo. Somos centenas de milhões de pessoas reunidas em 27 países com dezenas de idiomas diferentes. Nos odiamos uns aos outros, mas estamos apredendo a coabitar”, considerou.
Ele não deixou de apontar que o crescimento da xeonofobia no continente é um perigo a ser enfrentado. “A figura mais emblemática da intolerância hoje é a imigração. Enquanto o mundo está cada vez mais aberto, a Europa está se fechando de maneira trágica em relação aos imigrantes nos últimos 20 ou 30 anos”, lamentou.
Sobre o Brasil, Dominique Wolton disse que o país vivencia uma “boa coabitação entre brancos e negros e entre diferentes religiões”, mas destacou que é preciso cuidado para não cair na “tentação da hegemonia econômica e militar dentre os países em desenvolvimento”. O francês disse também que o Brasil tem “dificuldade em reconhecer sua própria história”.