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7 de março de 2012
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20:34

Fifa no Beira-Rio: sol, pompa, circunstância e nenhuma novidade

Por
Sul 21
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Fortunati, Fifa & COL posam em frente às ruínas do Beira-Rio | Foto: Ricardo Giusti/PMPA

Geraldo Hasse
Especial para o Sul21

A FIFA, o Inter e a Prefeitura de Porto Alegre submeteram uma centena de repórteres a um longo banho de sol sem direito a água gelada no gramado do Beira-Rio, no qual os 36 membros de uma caravana da Fifa e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa de 2014 concederam em dar uma voltinha tirando fotos de tudo o que viram.

Três bolas no centro do campo sugeriam um jogo amistoso entre os dois lados da notícia, mas a partida terminou num lamentável 0 x 0. O consolo de alguns repórteres foi experimentar o estofado dos bancos dos reservas. Outros, do lado de fora, ficaram confinados a bretes onde passariam os fiscais da Fifa.

Dentro do campo, as cenas gravadas por cinegrafistas e fotógrafos registraram o grande momento em que o prefeito José Fortunati adentrou o gramado pelo portão do Gigantinho. Seguido de um pelotão de engravatados (os fifeiros) e outro uniformizado com camisas-polo azul marinho (o time do COL), ele estava bem à vontade, todo arremangado, com a postura típica dos políticos em campanha.

Pegou mal, não pelo tom azul dominante, nem pelas gravatas e os paletós, mas porque os membros da comissão fiscalizatória relutaram em se aproximar da imprensa confinada na lateral do campo, atrás de um cordão de isolamento, como se tornou rotina desde os tempos da ditadura militar. Alegando estar em missão técnica, com o objetivo de discutir detalhes da organização da Copa, os visitantes queriam na realidade ficar longe da pergunta do momento: “Considerando a paralisação de 250 dias nas obras de reforma, o Beira-Rio ainda está escalado para os jogos da Copa?”.  Conseguiram ficar longe, mas a retranca não é a melhor tática diante da imprensa.

Quem acabou cedendo aos apelos dos repórteres foram alguns atletas da administração pública, como os secretários João Bosco Vaz e Khalil Sehbe. Ao prefeito de dois metros de altura não restou alternativa senão avançar pela lateral, mas com nenhuma vontade de entregar a bola. Acabou transmitindo o feijão-com-arroz que a maioria já esperava ouvir: “Segundo informações dadas na reunião do início da manhã pelo presidente do Inter, Giovanni Luigi, o contrato entre o clube e a Construtora Andrade Gutierrez está em vias de ser assinado até a próxima segunda-feira. As obras começam já-já e, naturalmente, há tempo para fazer tudo dentro do prazo – dezembro de 2013”.

“Depois da reunião desta manhã, eu retirei muito da minha cautela e desconfiança quando ao estádio de Porto Alegre na Copa”, disse Fortunati, que é gremista e candidato à reeleição em outubro de 2012. “Aliás”, completou ele, “um dos sinais da normalização da situação é que os engenheiros da Andrade Gutierrez já estão integrados ao processo de preparação da cidade para a Copa”. Por fim, ele aconselhou os repórteres a desistir de encontrar problemas na cidade ou no estádio. “Ao lado da Arena da Baixada, em Curitiba, a reforma do BeiraRio é uma das obras mais simples das 12 sedes da Copa no Brasil”, disse.

A existência de problemas, porém, ficou clara no tratamento dispensado à imprensa. Antes da cena dentro do estádio, o assessor de comunicação do COL, Nelson Ayres, disse que a passeata dos visitantes ao gramado era uma “deferência” extra-agenda apenas para favorecer a tomada de imagens no cenário máximo da Copa em Porto Alegre. Quanto a informações e declarações, haveria depois, no final da manhã, na sala de imprensa, uma coletiva onde dois executivos – Fulvio Danilas, diretor da FIFA no Brasil; e Ricardo Trade, diretor de operações do COL – responderiam exclusivamente a questões técnicas e ignorariam terminantemente perguntas políticas sobre a crise de relacionamento entre a FIFA e o governo brasileiro.

Como a sala de imprensa do BeiraRio só tem 40 cadeiras, estava claro que não haveria lugar para a centena de jornalistas empenhada na cobertura da visita da Fifa & COL. Apelos diversos alcançaram a mudança do local. Poderia ser nas cadeiras do Gigante ou nas arquibancadas do Gigantinho. Por que não num dos auditórios do centro de convenções do Sport Club Internacional, ali mesmo no Beira-Rio?

Reflexo momentâneo, talvez, da situação anômala do Beira-Rio, que virou um território meio sem dono, prestes a ser ocupado por um exército de trabalhadores a serviço da AG, a esperada coletiva dos técnicos da Fifa & COL foi realizada sob empurrões e protestos junto à porta de entrada do centro de convenções do Gigante. Mesmo que se procurasse e pesquisasse, não haveria lugar mais contra-indicado para passar informações à imprensa.

Com Danilas e Trade de pé diante de dezenas de microfones e câmeras, tendo a seus pés algumas repórteres ajoelhadas, a cena valeu como trailer da des(organização) que permeia os preparativos da Copa 2014. Segundo Trade, a visita faz parte de uma calendário de monitoramento semestral de obras. Nesta etapa, as comissões verificam as condições de infraestrutura (transporte, saúde, telecomunicações) no entorno do estádio escolhido. “Nós queremos garantir, por exemplo, que vocês da mídia façam uma cobertura sem problemas”, disse Trade, tentando em seguida sugerir uma manchete: “É a Copa que está chegando a Porto Alegre, meus amigos”. Segundo ele, em Porto Alegre há dez obras sendo iniciadas nos próximos dez meses. E a obra do Beira-Rio, embora esteja ainda paralisada, é considerada pelo COL como “no mesmo nível das outras sedes”.

Nesta quinta, a caravana Fifa & COL estará em Curitiba, sexta em Cuiabá, sábado em Manaus, folga no domingo, e segunda-feira estará em Natal.


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