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16 de março de 2012
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20:28

Demora de assinatura para reforma no Beira-Rio segue desafiando prazos

Por
Sul 21
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Rachel Duarte

O sentimento dos colorados dentro e fora do estádio Beira-Rio é de impaciência com a construtora Andrade Gutierrez. Do porteiro aos dirigentes do clube, o silêncio é o principal argumento para evitar problemas judiciais com a empreiteira — mas, nas conversas de bastidores, todos confirmam que a esperança de que o lendário contrato para a reforma do estádio se concretize às 18 horas desta sexta-feira (16) é ínfima. Caso isso se confirme, o plano B de um novo contrato com o grupo alternativo de construtoras gaúchas tem a preferência das autoridades locais, mas poderá reacender divergências internas entre conselheiros do clube, além de pegar o governo federal desprevenido.

Obras no Beira-Rio estão paradas desde junho do ano passado, à espera da assinatura de contrato entre Inter e construtora | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

De acordo com o vice-presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara Federal, deputado federal Afonso Hamm (PP-RS), que acompanha o andamento das obras do mundial, em Brasília a realidade é outra. “Fiquei impressionado com a angústia instalada por aqui quando cheguei no RS. Falei com o ministro Aldo Rebelo (Esporte) há dois dias e as informações eram de que estava tudo certo para a formalização do contrato com a AG”, disse, ao chegar a Porto Alegre nesta manhã.

Segundo ele, a falta de transparência da Andrade Gutierrez não pode ser mais permitida. “Eu, que sou o vice-presidente da Comissão, não conheço o projeto do Beira-Rio. As coisas não podem ser assim. A sociedade gaúcha está sendo ludibriada. Já teremos perdas irreparáveis no turismo com a perda da Copa das Confederações. Não podemos gerar uma nova ilusão”, alerta.

Henrique Fontana: "A AG quer estatizar o empreendimento. Estão chantageando o Rio Grande do Sul" | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Interlocutor entre a bancada gaúcha e a AG, o deputado Henrique Fontana demonstrou indignação ao falar sobre o caso. “Estou muito preocupado e contrariado com a postura da AG. Nós como bancada convidamos para conversar e obter os esclarecimentos sobre a demora nesta assinatura. Não saiu até agora (a reunião). As obras não iniciam e eles não têm a mínima transparência sobre a responsabilidade do atraso”, critica.

Ele questiona o argumento da incapacidade financeira para as garantias do contrato por parte da construtora. “75% de financiamento é com o BNDES. Eles só têm 25% para bancar no empreendimento. E não conseguem? Ela (AG) quer estatizar o empreendimento. Está chantageando o estado do RS”, disse.

AG: muitos bilhões e grandes negócios

O questionamento do deputado petista encontra fundamento no balanço anual da Andrade Gutierrez, disponível no site da construtora. Segundo o documento, o faturamento do ano passado foi de R$ 14 bilhões, o equivalente a R$ 1 bilhão ao mês.

A empresa executa projetos dos mais diversos níveis de complexidade, como hidrelétricas, termelétricas, usinas nucleares, plantas industriais, refinarias, gasodutos, siderúrgicas, estaleiros, mineração, portos, metrôs, saneamento e urbanização, barragens, aeroportos, rodovias, ferrovias, construção civil e túneis.

No Brasil, ela é responsável pela obra da usina hidrelétrica de Santo Antonio, em Rondônia, entre outras que envolvem financiamentos públicos junto ao BNDES. O volume movimentado em financiamentos pela construtora equivale ao faturamento anual da empresa.

Obras no estádio Mané Garrincha em Brasília já estão 50% concluídas | Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Além da reforma do Beira-Rio, na ordem de R$ 330 milhões, a construtora é sócia da Odebrecht e da Delta na reforma do Maracanã, no Rio de Janeiro. A Andrade Gutierrez também venceu licitação para construção dos estádios sede da Copa do Mundo em Minas Gerais e Brasília. No caso do Mané Garrincha (BSB), que custará mais de R$ 600 milhões, a empresa já garantiu 50% da execução da obra. “Já existem sete jogos garantidos para acontecerem lá. Então, se é a mesma empresa que executa os trabalhos lá e no RS, eu só posso afirmar que eles não fazem o Beira-Rio por má vontade”, diz o vice-presidente da Comissão de Desporto, Afonso Hamm.

Mesmo com plano B, Porto Alegre ainda corre risco de perder Copa

Com a confirmação da não assinatura do contrato entre a Andrade Gutierrez e o Internacional nesta sexta-feira, o plano B de um grupo de empresários gaúchos da construção civil para um financiamento direto com os bancos públicos, sem envolver o BNDES, volta a ser cogitado pelas autoridades locais como forma de resolver o impasse. Porém, assinar um novo contrato, que envolveria novas contrapartidas a serem liberadas pelo poder público, terá que passar pelo crivo do Conselho do Inter.

De acordo com o conselheiro Alexandre Ribeiro, todos aguardam o prazo para assinatura findar para convocar uma reunião sobre os procedimentos a serem adotados. “Estamos apoiando a postura do presidente (Giovanni Luigi) em proteger os interesses do clube até agora, mas, ninguém agüenta mais esta enrolação”, disse.

Ele disse que ninguém entende mais onde mora o problema da AG não assinar o contrato e reconhece que a cláusula do contrato que prevê 120 dias de garantia para uma rescisão é arriscado e um ponto contra para o fim da novela. “Nós estamos dispostos a assinar este contrato. O problema não é da parte do Inter. Todos os envolvidos na negociação dizem, afirmam e na hora de assinar, não se assina”, falou. Sobre a viabilidade de tempo para assinatura de um novo contrato, ele acredita ser possível, mas, um novo debate terá que ser travado no Conselho sobre o assunto.

“O RS perder a Copa será um atestado de incompetência política”, diz vice-presidente da Comissão de Desporto

Deputado progressista Afonso Hamm preside Comissão de Turismo e Desporto e está preocupado com situação do RS | Foto: Agência Câmara

Para o presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara Federal, deputado Afonso Hamm, um novo contrato é arriscado. “Qualquer que seja o contrato a ser assinado, terá prazo para realização das obras de 18 a 20 meses. Isso nos preocupa porque temos que entregar as obras de preparação da Copa no Brasil para a Fifa até dezembro de 2013”, explica.

Ele diz que irá cobrar transparência nas próximas movimentações que serão feitas em Porto Alegre. “Temos que ser responsáveis para efetuar outro contrato. Os investimentos não podem ser secretos. Já perdemos a Copa das Confederações. O setor do Turismo está preocupado e as autoridades tem que ter efetividade. Perder a Copa será um atestado de incompetência política para o RS”, diz.


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