Entrevistas|z_Areazero
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24 de setembro de 2018
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11:08

Terry Marsden: ‘Precisamos pensar as questões ambientais como progresso, não de forma restritiva’

Por
Luís Gomes
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Britânico Terry Marsden palestrou sobre Bioeconomia e Economia Circular na conferência AgUrb, realizada na Ufrgs | Foto: Felipe Munhoz/Divulgação AgUrb

Luís Eduardo Gomes 

A III AgUrb – Conferência Internacional Agricultura e Alimentação em uma Sociedade Urbanizada reuniu entre os dias 17 e 21 de setembro, no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, especialistas do mundo todo para debater a renovação dos sistemas alimentares, da produção agrícola e modelos de sociedades sustentáveis. Na última terça-feira (18), no intervalo entre palestras e grupos de trabalho, o Sul21 conversou com o professor britânico Terry Marsden, do Instituto de Locais Sustentáveis da Universidade de Cardiff, no País de Gales.

Na véspera, Marsden havia participado de uma conferência em que discutiu os conceitos de Bioeconomia e a Economia Circular. A Bioeconomia diz respeito ao modelo de produção que se utiliza de produtos e processos biológicos para a geração de uma indústria baseada na biotecnologia. Já a Economia Circular é a defesa de um modelo de sociedade sustentável que prega a reutilização dos recursos nas diversas cadeias econômicas e a minimização dos desperdícios e da geração de lixo não reciclável. Em suma, são modelos que pregam a superação de uma economia baseada no plástico e na emissão de carbono.

“O que as pessoas têm que se dar conta é que a agroindústria baseada em carbono está levando a uma crescente crise ecológica e ambiental e que esse sistema não vai conseguir alimentar o mundo em 20 anos”, diz Marsden.

O britânico, que vem anualmente ao Brasil na condição de professor visitante, costuma fazer trabalho de campo, onde pode comparar a experiência europeia com a brasileira, oportunidades e desafios apresentados por ambas. Ele destaca que há por aqui muitos bons exemplos, de cooperativas que vêm adotando o modelo agroecológico e que aproveitam os resíduos da produção agrícola para a geração de energia. “Acredito que há muitos avanços vindos de baixo para cima e em reação a algumas medidas governamentais. Mas é algo muito complexo, há mais para se fazer”, diz.

Marsden defende ainda que a busca por alternativas de produção agrícola não se trata apenas de uma defesa da sustentabilidade, mas de uma necessidade econômica, inclusive, visto que os modelos tradicionais de produção baseados no uso intensivo da terra e na extração de recursos naturais não estarão disponíveis para sempre. “Precisamos ser inteligentes e ver as questões ambientais como progresso, não de forma restritiva”, afirma.

A seguir, confira a íntegra da entrevista.

Sul21 – Você poderia nos dar um breve resumo da sua apresentação na conferência AgUrb?

Terry Marsden: Eu fiz uma apresentação sobre a chamada Bioeconomia e a Economia Circular nos sistemas alimentares. Deixe eu explicar o que é isso. Os dois termos estão ficando muito populares com o redesenhamento dos sistemas alimentares. Bioeconomia é efetivamente pensar na produção de plantas e animais para uma gama mais ampla de produtos do que as tradicionais commodities agrícolas. Por exemplo, o uso de fibras para biomateriais, biorrefinarias para energia. Então, ao longo dos últimos anos, particularmente em uma perspectiva europeia, nós vimos o desenvolvimento da pesquisa na busca de formas como a produção de plantas pode levar a uma variedade maior de bioprodutos. E isso é particularmente importante em um mundo em que sabemos que temos que reduzir as emissões de carbono. Então, nós temos que fazer uma transição entre a economia baseada em carbono para uma pós-carbono, onde utilizaremos fontes de energia renováveis, mas também geraremos materiais para substituir outros à base de carbono, como por exemplo o plástico, que é um grande problema. Como podemos criar biomateriais descartáveis, que podem ser reciclados e vendidos? Há uma grande ênfase na ciência sobre a Bioeconomia como um conjunto mais amplo de questões relacionadas à economia rural.

Sul21 – É possível produzir já a curto prazo esse tipo de biomateriais e começar a efetivamente substituir o plástico?

TM: Sim, eu acho que é possível e que a ciência existe para isso. Há muitos bons exemplos de biorrefinarias na Europa. No Brasil, eu visitei uma biorrefinaria próximo a Passo Fundo, na qual a soja está sendo usada para a geração de energia para a produção de alimentos. Então, eu vejo como um grande avanço. No caso brasileiro, o etanol é tradicionalmente usado, então é uma extensão disso usar substâncias oriundas das plantas para a diversificação de produtos.

Sul21 – Quais são as tendências que o senhor já identifica que veremos cada vez mais no futuro próximo?

TM: A grande questão que eu apresentei na conferência é: ‘essa é uma oportunidade para pequenos produtores agroecológicos e cooperativas de incrementar o valor da produção e diversificar a base da produção, para poderem fornecer uma maior gama de matéria-primas, ou há o perigo de que isso possa ser controlado por grandes corporações?’

Sul21 – E qual é a sua resposta?

TM: Eu espero que seja a primeira, porque acredito que a chegada da Bioeconomia e da Economia Circular significa que nós teremos que ter maior competição por recursos retirados da terra, retirados da água ou da biosfera. Se você não está cavando para retirar o petróleo do subsolo, a vantagem é que você não está poluindo a atmosfera, mas você tem que retirar uma maior diversidade de fontes de energia, bem como de alimentos, do solo. Então, isso coloca uma ênfase maior na manutenção do solo.

Sul21 – Como as duas coisas podem coexistir?

TM: Essa é uma questão de gestão e governança. O perigo é que isso não está sendo realmente administrado ou pensado de forma racional. Eu não vejo que o Brasil esteja pensando nisso no momento, pelo menos não percebo. Mas muitos países, escandinavos e o Canadá, por exemplo, estão desenvolvendo estratégias de Bioeconomia e enxergam isso como a próxima fase de desenvolvimento econômico e industrial num mundo pós-carbono. Então, se vê uma estratégia nacional para criar valor agregado.

Terry Marsden foi um dos diversos pesquisadores que passou pelo AgUrb na semana passada | Foto: Felipe Munhoz/Divulgação AgUrb

Sul21 – O senhor acredita que isso é uma questão de estratégia nacional, que tenha que vir dos governos?

TM: Bom, não completamente. Há grandes oportunidades para o Brasil porque é um local muito produtivo, então há muitas coisas que podem ser produzidas na terra, além da comida, de uma maneira renovável e sustentável. Há muitas vantagens nisso e o Brasil tem uma grande oportunidade para desenvolver uma estratégia industrial para sua economia. Esse é um ponto. Por outro lado, há uma abordagem de cima para baixo que deve coincidir. Isto é, precisamos buscar formas para que as novas tecnologias possam empoderar pequenos produtores de alimentos, o desenvolvimento de cooperativas de agricultores e como isso pode incrementar a reprodução sustentável da agricultura, porque essas coisas podem ser descentralizadas.

Sul21 – Estamos falando então que o papel do governo é ser um guia, oferecer condições de financiamento?

TM: O governo brasileiro, de forma muito inovadora, financiou a aquisição de produtos para merendas de pequenos agricultores, o que é muito bom. Não há nenhuma razão para que isso não possa ser feito na geração de energia. Então, você teria geração de energia local. Mesmo no Reino Unido, onde o governo não foi necessariamente tão imaginativo, cerca de 30% dos agricultores estão produzindo alguma forma de energia. Estão produzindo biomassa, biogás, painéis solares, turbinas de vento locais para as necessidades das comunidades. Isso é uma grande oportunidade para revitalizar comunidades rurais, particularmente as isoladas. Há muito potencial.

Sul21 – Por outro lado, o mercado de alimentos não vai mudar sozinho se continuar lucrando com o modelo atual. Qual é o papel do público consumidor nessas transformações?

TM: É um bom ponto. Eu concordo que há muitas coisas que estão indo na direção errada nesse sentido e acredito que governos vão ter que agir, de uma maneira ou de outra, se são responsáveis, para responder a duas coisas. Primeiro, à necessidade de reduzir emissão de carbono e atingir as metas do Acordo de Paris. Em segundo lugar, há a questão da saúde, tanto dos produtores rurais como dos consumidores urbanos. Vimos nessa conferência várias evidências do crescimento da desnutrição, má nutrição, obesidade, problemas de saúde relacionados à alimentação. Portanto, os governos precisam adotar estratégias para lidar com essas questões. Uma terceira seria a redução do desperdício, isso é vital para a Economia Circular. Isto é, precisamos ter sistemas de produção em que você minimiza os resíduos do sistema em vez de descartá-los de maneira improdutiva. Deixe eu lhe dar um exemplo, a aplicação de pesticidas e os resíduos que deixam, não apenas a poluição que geram, no curso das águas. Precisamos parar isso, reduzir. Se você utiliza alguns desses bio sistemas ou veículos elétricos, você reduz a poluição do ar nas cidades. Se você conseguir persuadir o governo de São Paulo a converter os sistemas de ônibus a motores elétricos, também reduz. Então, há muito o que o poder municipal e governos nacionais podem fazer para atingir — o que eu considero ser obrigações públicas — melhores níveis de saúde coletiva, de segurança alimentar, fontes de energia sustentáveis e redução de resíduos plásticos.

Sul21 – Os poderes políticos na Europa estão prontos para tomar as medidas necessárias nessa direção ou a pressão da opinião pública ainda não foi encampada pelas políticas públicas?

TM: Eu acho que nós temos bons exemplos na Europa e, em alguma extensão, no Brasil a nível local. Eu acho que o crescimento dos movimentos solidários na produção de alimentos é muito relevante. Em algumas cidades, a reciclagem, o uso de compostagem, esse tipo de coisa. Assim você não precisa gastar grandes quantidades de dinheiro público na eliminação de resíduos como ocorre nas cidades. Pense nisso, se tivéssemos fontes renováveis de energia ligadas aos resíduos, a compostagem, reduzindo o uso de plásticos e embalagens, nós economizaríamos dinheiro ao fim do dia. Nós criamos o sistema que vivemos que é baseado em grande desperdício e a mensagem política precisa ser de que, no fim das contas, podemos economizar recursos e redirecionar para outras áreas. O custo do tratamento do lixo é o segundo ou terceiro maior na maioria das cidades.

Sul21 – Essa pode ser uma forma de convencimento?

TM: Sim, acho que essa é uma forma de convencer governos e sociedade. Acredito que os consumidores, cada vez mais, estão atentos a isso, então você vê níveis crescentes de consumo de alimentos orgânicos, agroecológicos.

Sul21 – Podemos dizer que o consumidor europeu está à frente de seus governos?

TM: Provavelmente. Muita gente está à frente dos governos. Mas, obviamente, isso também precisa se relacionar com a questão da desigualdade social. Então, o que a gente faz e recomenda deve também tentar ter o benefício de reduzir as diferenças, para que nós não tenhamos preços mais altos para alimentos, o que também se relaciona com o uso da terra. De novo, isso é um problema, mas pode-se suprir, de forma relativamente barata, as necessidades de alimentos verdes para consumidores urbanos.

Sul21 – A produção urbana pode suprir uma parcela importante do consumo das cidades?

TM: Sim. Pode haver uma nova recalibração, ou um novo contrato, entre as populações urbanas e rurais. As duas têm que trabalhar em harmonia. Nós sabemos que as cidades estão crescendo, mais pessoas vivem nelas, mas, com o crescimento da Bioeconomia, sabemos que vamos ter que também retirar recursos das residências urbanas e não mais depender apenas dos recursos do campo. Há uma assimetria de funcionalidades que precisa ser reconhecida e os meios de subsistência de pessoas do campo e da cidade precisam convergir.

Sul21 – Como você vislumbra a segunda metade deste século? Cidades mais sustentáveis?

TM: Recentemente, me tornei avô. Isso te leva a se dar conta de que os seus netos vão estar vivos no próximo século. As previsões em termos de mudanças climáticas, crescimento dos níveis do mar, exploração de recursos, atualmente, não são muito boas. Então, temos que tomar medidas urgentes de redução de emissões de carbono, implementando esses tipos de sistemas que sejam sustentáveis para que, quando nossos filhos e netos estejam crescidos, não olhem para trás e digam: ‘Que geração de produtores de lixo eles eram’. Nós temos uma responsabilidade, como cientistas, mas também enquanto governos, de projetar uma estrutura sustentável que garanta que as futuras gerações tenham a disponibilidade e o acesso à mesma quantidade de recursos que nós tivemos.

Sul21 – Como seria a cidade sustentável para os nossos filhos e netos?

TM: Acredito que devemos usar a tecnologia de forma muito mais inteligente. Por exemplo, usar tecnologias digitais para fazer as compras, em que as pessoas possam comprar as coisas certas para comer. Precisamos ser inteligentes e ver as questões ambientais como progresso, não de forma restritiva. Isso se trata de empoderar as pessoas para fazer escolhas mais diversificadas. Acredito que a diversidade é um aspecto positivo, seja a diversidade biológica, humana ou econômica. É um elemento de como construiremos a resiliência nos sistemas social, econômico e ecológico.

Sul21 – Aqui no Brasil temos um embate ocorrendo. Há uma bancada no Congresso ligada ao agronegócio que luta para desregulamentar o mercado de agrotóxicos, retirar o símbolo dos transgênicos das embalagens, isto é, indo na direção oposta do que estamos falando. O argumento que usam é de que é impossível produzir a quantidade de alimento necessária sem esses métodos tradicionais. Ainda devemos estar preocupados com os níveis de produção ou mudar o foco para a qualidade dos produtos?

TM: Eu entendo esse argumento, mas não concordo completamente. Acredito que as adaptações e transições que estou propondo aqui podem e vão alimentar o mundo. Não concordo com o argumento da quantidade. Na verdade, há alimento suficiente no mundo para alimentar a todos, é uma questão de distribuição. O que as pessoas têm que se dar conta é que a agroindústria baseada em carbono está levando a uma crescente crise ecológica e ambiental e que esse sistema não vai conseguir alimentar o mundo em 20 anos. Certamente não vai alimentar o mundo com o tipo correto de comida. Agora, o grande desafio da Bioeconomia é como gerar mais competição para recursos extraídos da terra, o que é um problema real. Então, nós temos que planejar o processo em vez de simplesmente deixá-lo a cargo do mercado, que assume que haverá uma inesgotável fronteira de recursos, o que não há, nem mesmo em um país como o Brasil. Há limites para extensão de fronteiras agrícolas, do que você pode arar de matas e florestas. Temos que perceber que há limites e que já os atingimos. Então, temos que ser muito mais inteligentes para não apenas cavar, despejar, extrair e mudar ecossistemas.

Sul21 – Como combinar a necessidade de competição pela terra com o fato de que, pelo menos aqui no Brasil, vemos que a evasão das áreas rurais e a concentração nas grandes cidades ainda é crescente. Em algumas áreas rurais, só restaram idosos, enquanto filhos e netos migraram para áreas urbanas, o que leva à concentração da terra. Como combinar essas duas coisas?

TM: Esse é um problema comum, acontece no meu país também. Nós temos que tornar as áreas rurais mais atraentes para as pessoas jovens retornarem ou permanecerem. Eu vi alguns ótimos exemplos no Brasil, na verdade.

Sul21 – Poderia falar deles?

TM: Há algumas cooperativas que eu visitei onde há várias famílias jovens, trabalhando na terra, no processamento de comida. Eu fui a locais de agroturismo e a restaurantes, onde jovens voltaram para a casa de suas famílias e construíram negócios agrícolas de uma maneira diversificada. Então, há exemplos, mas essa é uma questão chave e precisamos de uma política rural progressista em que as pessoas não sejam tão atraídas para as luzes da cidade ou que pelo menos haja um equilíbrio mais efetivo entre as experiências urbana e rural. Isso significa investimentos em infraestrutura, eletricidade, aumento de banda larga, para que esses locais não sejam tão periféricos. Eu acredito que não se consegue manter os jovens em áreas rurais porque o caminho para ter uma boa vida, em muitos casos, é mudar-se desses locais. Mas não precisa ser assim. Com a chegada da Bioeconomia e da Economia Circular, essas coisas que eu estou falando, o elemento chave é reduzir a disparidade na qualidade de vida entre áreas rurais e urbanas. Isso leva tempo, mas também precisa de propósito e ações de governos no reconhecimento da importância da pequena agricultura, da importância de pequenos negócios e da importância de se oferecer serviços em áreas rurais.

Sul21 – É preciso uma reforma agrária?

TM: Sim, reforma agrária e dar mais acesso à terra para as pessoas é um elemento importante. Em certa medida, o Brasil esteve na vanguarda disso. Na maioria dos países da Europa, isso é muito difícil, proibitivo, por causa do preço da terra. Então, esse é um dos grandes desafios que nós enfrentamos.

Marsden conversou com o Sul21 sobre as possibilidades de uma economia pós-plástico | Foto: Felipe Munhoz/Divulgação AgUrb

Sul21 – Outro ponto que sempre aprece na defesa dos métodos tradicionais de agricultura é a logística. Argumenta-se, por exemplo, que o modelo agroecológico de produção é muito caro. Como se pode organizar redes de produtores para reduzir os custos logísticos e aumentar a competitividade?

TM: Acredito que há bons exemplos no Brasil de solidariedade entre cooperativas agrícolas que estão enfrentando, ainda que com dificuldades, os desafios de acessar mercados em São Paulo, em cidades de Santa Catarina, em Porto Alegre. Estão criando novas formas de organização logística, essa é uma parte das atividades das cooperativas. Penso que deve-se reconhecer que exige muito trabalho, há grandes riscos envolvidos, mas acredito que há modelos, e já vi alguns, de que ao reduzir os custos das transações você pode ter uma distribuição de ganhos muito mais justa entre produtores e consumidores. Um comércio mais justo e equitativo entre produção e consumo pode ser desenvolvido nestes sistemas. Eu não acredito que é sempre muito mais caro produzir agroecologicamente do que nos sistemas mais tradicionais de produção intensivo e de escala.

Um dos desafios é construir cadeias menores. Algumas pode sem ser cara a cara, outras mais longas. Algumas podem envolver cooperativas, armazenagem cooperativa. Quanto mais diversidade tivermos, melhor. Visualizo um mundo em que a comida será melhor, haverá ganhos para produtores e consumidores e o campo irá se beneficiar. O papel do governo é crítico, porque ele precisa incentivar isso. Não é preciso regulações que venham de cima para baixo, mas é preciso incentivar esse tipo de iniciativas por meio dos municípios, do governo federal ou de quem possa estimular esses empreendimentos e diminuir os riscos.

Sul21 – Quais são os benefícios de um mundo pós-plástico?

TM: Bom, o plástico é um fenômeno muito recente, dos anos 1950. É um produto a base de petróleo e se tornou universal. Você não pode biodegradá-lo, então se tornou um grande problema em termos de Economia Circular. Não sei se isso tornou-se um assunto relevante na mídia brasileira, mas certamente é na Europa o fato de estarmos cobrindo boa parte dos oceanos com plástico e os efeitos na vida marinha. Temos histórias horríveis no Oceano Pacífico sobre os efeitos de animais ingerindo ou ficando presos em pilhas de plástico no oceano. Eu vejo um mundo pós-plástico e podemos fazer a nossa parte, dando conferências sobre o uso de produtos biodegradáveis.

Sul21 – Deveríamos começar a transição agora?

TM: Começar agora. Se você pensar na quantidade de copos de plástico que consumimos. O varejo na Europa agora, porque a reação do público é realmente grande, particularmente entre os jovens, está respondendo a esse problema, reduzindo essa grande quantidade de embalagens. E, quando você pensa no assunto, não há necessidade desse tanto de embalagens plásticas. Embalar pepinos, embalar vegetais, isso é ridículo. Muito se fala que isso se muda nos domicílios, mas eles são formados por consumidores que, muitas vezes, não têm nenhuma alternativa. Temos que comprar essas coisas e acabamos com pilhas de plásticos. Todos nós temos. Enchemos o lixo com plásticos diariamente. Devemos ter a preocupação com a reciclagem domiciliar, mas é preciso enfrentar o problema da fonte. Parar com a produção de plástico, que é ligada às companhias petrolíferas, parar com o uso intensivo de plástico no comércio, especialmente no setor de alimentação. Podemos fazer isso! Podemos taxar, adotar outras medidas, mas é preciso mudar, ter vontade política de fazer. Acredito que é preciso uma mudança sistêmica para nos livrar desse desperdício.


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