Entrevistas
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11 de julho de 2016
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11:18

“Porto Alegre deve ser capacitada como um berço do empreendedorismo”

Por
Sul 21
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Mauricio Dziedricki: "Esses anos que colecionamos a frente da Prefeitura e da Câmara de Vereadores nos deram condições para preparar uma candidatura com musculatura e protagonismo". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Mauricio Dziedricki: “Esses anos que colecionamos a frente da Prefeitura e da Câmara de Vereadores nos deram condições para preparar uma candidatura com musculatura e protagonismo”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Marco Weissheimer

Após integrar, nos últimos 12 anos, o ciclo de governos na prefeitura de Porto Alegre aberto por José Fogaça (PMDB) em 2005, o PTB decidiu lançar candidatura própria para disputar a prefeitura da capital gaúcha nas eleições municipais deste ano. O partido já definiu a pré-candidatura do deputado estadual Maurício Dziedricki, de 36 anos. Formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC- RS), Dziedricki foi eleito vereador em Porto Alegre nas eleições de 2004, depois foi secretário de Obras e Viação do governo Fogaça, deputado federal em 2010 e secretário de Economia Solidária e Apoio à Micro e Pequena Empresa durante o governo de Tarso Genro (PT).

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Em entrevista ao Sul21, Dziedricki fala sobre suas ideias para Porto Alegre e sobre o sentido de sua pré-candidatura. O deputado diz que não será um candidato de oposição, mas sim de posição sobre os principais temas que afetam o dia-a-dia da população, como a segurança pública, apontado por ele como o principal problema. Na sua agenda propositiva para a capital, “empreendedorismo” é uma palavra-chave: “Aqui em Porto Alegre a cultura que nós queremos estabelecer é uma cultura que gere novos empreendimentos, que possa construir uma rede de investimentos capazes de fomentar o crescimento da nossa arrecadação própria, sabendo que isso envolve muito tempo, uma ambientação diferenciada e uma melhor gestão de serviços”, defende.

Sul21: Por que você decidiu se candidatar à disputa pela Prefeitura de Porto Alegre? Quais são as ideias que embasam essa decisão?

Maurício Dziedricki: O PTB de Porto Alegre tem tido a oportunidade, durante muito tempo, de discutir a forma pela qual nós participamos de governos e contribuímos com a sociedade em que a gente vive. Esse processo de preparação já tem cerca de vinte anos. A última candidatura que tivemos aqui na capital foi em 1996. Desde então, tivemos um protagonismo em muitas eleições, ora ocupando a chapa majoritária, ora contribuindo com governos ou mesmo não participando de governo algum. Esses anos que colecionamos a frente da Prefeitura e da Câmara de Vereadores nos deram condições para preparar uma candidatura com musculatura, protagonismo e com uma alternativa inovadora daquilo que nós queremos para a nossa cidade. Esse é o resultado desses vinte anos de espera e preparação: poder chegar aqui com a segurança e a maturidade de oferecer ao porto-alegrense uma nova forma, um novo caminho, uma nova interpretação da cidade que precisamos. Isso, sem ser contraditório com aquilo do qual fazemos parte e com os compromissos que temos com uma gestão qualificada, eficiente e de resultados que superem aquilo que a gente acaba vendo com a ortodoxia dos partidos tradicionais. Essa talvez seja a nossa maior pegada para a cidade.

"No momento em que a cidade deixa de cuidar de algumas coisas que são fundamentais, o porto-alegrense também se acha no direito de não cuidar da cidade". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
“No momento em que a cidade deixa de cuidar de algumas coisas que são fundamentais, o porto-alegrense também se acha no direito de não cuidar da cidade”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Sul21: Você fala em inovar e em apresentar um novo caminho para a cidade. Poderia detalhar um pouco mais em que consiste exatamente essa inovação?

Maurício Dziedricki: O novo não precisar ser a construção de algo que não tenha existido em Porto Alegre. Nós temos uma capital onde as pessoas são colaborativas, solidárias, parceiras, carinhosas e receptivas. Mas no momento em que a cidade deixa de cuidar de algumas coisas que são fundamentais, o porto-alegrense também se acha no direito de não cuidar da cidade. Aí vemos focos de lixo na rua, lixo seco misturado com lixo orgânico, terrenos baldios cheios de lixo, brigas no trânsito, comércios montados de forma irregular e coisas do tipo. A inovação que eu pretendo trazer para a cidade é buscar essa participação colaborativa da cidade para que se olhe não apenas para as grandes obras, que são muito importantes, mas que devolva aos porto-alegrenses a certeza de que aquelas pequenas obras, que são importantes para o cotidiano de toda a população, serão efetivamente cumpridas. Para isso, temos uma série de ações pensadas que ligam o resultado que a gente espera para a cidade com o programa e método de governo que pretendemos trazer para Porto Alegre.

Sul21: Como definiria a sua candidatura? Será uma candidatura de oposição ao atual governo?

Maurício Dziedricki: Não. Não é uma candidatura de oposição, mas é uma candidatura de posição. Nós temos posição sobre todos os temas da cidade, tanto aqueles que têm resultados que fazem parte do nosso portfólio, mas também aqueles que eventualmente não tenhamos conseguido cumprir com a urgência que a cidade esperava. É preciso fazer um balanço dessas ações para apresentar um programa de governo que resgate esse espírito colaborativo do porto-alegrense. Nós temos inúmeros instrumentos que já estão materializados na cidade. Um exemplo é o Orçamento Participativo, que já tem 27 anos de história.

Ao longo da minha vida política colecionei experiências como vereador de Porto Alegre, como secretário de Obras da capital, como deputado federal, como secretário de Estado e, agora, como deputado estadual. Esse repertório me deu condições de apresentar para a cidade experiências que foram muito legais em outros lugares e que Porto Alegre pode ampliar e qualificar com base na participação do porto-alegrense e da administração na vida da cidade, naquilo que é pequeno, mas que faz uma diferença enorme, como o tempo de espera de um ônibus, de uma lotação, a pavimentação de uma rua e assim por diante.

Porto Alegre recebe por dia, em média, 700 mil pessoas que não são porto-alegrenses, ou seja, a cidade sofre um impacto diário muito grande e está sobrecarregada no que diz respeito à saúde, à segurança e à mobilidade. Por isso, é preciso pensar a cidade levando em conta o significado que ela tem para a Região Metropolitana e para todo o estado. Eu quero defender aquilo que a gente construiu. Nestes últimos doze anos, tratamos dos temas mais diversos possíveis, dos mais simples aos mais complexos. Nós vamos defender aquilo que foi positivo para a cidade e vamos contrastar, não com críticas, mas com sugestões, aquilo que precisamos melhorar.

"Nunca tivemos uma situação de criminalidade e insegurança pública como está acontecendo agora". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
“Nunca tivemos uma situação de criminalidade e insegurança pública como está acontecendo agora”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

 Sul21: Na tua opinião, quais os principais problemas que Porto Alegre enfrenta hoje?

Maurício Dziedricki: Eu colocaria em primeiro lugar a segurança pública. Eu sou membro da Comissão de Segurança aqui da Assembleia e membro signatário do Comitê Permanente de Segurança da Região Metropolitana. Acompanho de perto essa temática e posso dizer que nunca tivemos uma situação de criminalidade e insegurança pública como está acontecendo agora. Consorciado a isso, temos o menor efetivo de policiamento ostensivo da Brigada Militar dos últimos tempos aqui em Porto Alegre. Tenho uma preocupação, tanto como deputado estadual e como pré-candidato à prefeitura da capital, em priorizar o tema da segurança pública. Recentemente tive uma audiência com o secretário José Mariano Beltrame, do Rio de Janeiro, quando debatemos essa temática. A nossa afinidade se baseou no fato de que lá eles construíram um processo comunitário de segurança. Segurança pública, dentro daquilo que temos debatido no nosso plano de governo, não é unicamente policiamento ostensivo ou policiamento judiciário. Isso é o resultado de uma prática que cabe ao Estado dar efetividade.

O município tem o dever de contribuir com isso com uma abordagem multi-setorial visando a prevenção. Isso envolve coisas como o contra-turno escolar, ruas asfaltadas e iluminadas, a poda de vegetação nas praças, a limpeza de terrenos baldios, o compartilhamento de informações entre taxistas, guardas da EPTC e motoristas de ônibus. Quando eu fui secretário de Obras aqui em Porto Alegre, fizemos um trabalho em parceria com a Brigada Militar para enfrentar o furto de cabos de cobre para a compra de pedras de crack. Nós fizemos uma medição muito interessante. Nas ruas onde houve uma melhoria da iluminação pública, os índices de criminalidade caíram em até 70%.

O segundo tema que eu definiria como prioritário é a melhoria e a qualificação dos serviços prestados à população. Isso é emergencial. A cidade precisa estar melhor atendida em serviços. Há uma série de avanços que foram protagonizados ao longo dos últimos doze anos. O PTB fez parte de muito desses avanços, constituindo um portfólio político qualificado. Um exemplo disso foi a SAMU dos buracos que nós instituímos na gestão do Fogaça. Quando chove, não é possível colocar asfalto quente para a reparação das ruas. Nós contratamos uma van que colocava uma sinalização de emergência e tapava o buraco com um pré-misturado a frio. A minha dificuldade como secretário foi que enfrentamos alguns dos invernos mais chuvosos dos últimos tempos, o que fazia com que a reparação de pavimentos levasse mais tempo. A recuperação de serviços públicos como a limpeza, a capina, a poda e a iluminação também é fundamental. Nossas grandes obras já estão desenhadas. Agora é preciso colocar o foco na sua conclusão. Mas a qualificação de serviços é algo que a população tem clamado.

Sul21: Ainda no tema da segurança pública, na tua opinião um município como Porto Alegre pode efetivamente contribuir para a melhoria desse serviço à população se o governo do Estado mantiver a atual política de cortes e austeridade fiscal?

"Eu sou um crítico dessa política adotada pelo governador Sartori que pune o servidor público, em especial o da área da segurança". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
“Eu sou um crítico dessa política adotada pelo governador Sartori que pune o servidor público, em especial o da área da segurança”.
(Foto: Guilherme Santos/Sul21)

 Maurício Dziedricki: Eu sou um crítico dessa política adotada pelo governador Sartori que pune o servidor público, em especial o da área da segurança, para aplicar um programa de ajuste fiscal que corta serviços. Quando se corta serviços, se corta qualidade de atendimento às necessidades do cidadão gaúcho. O sangue derramado de um gaúcho ou de uma gaúcha não tem preço. Toda a sociedade grita por mais investimentos em segurança. Esses investimentos precisam estar articulados com essa rede de assistência envolvendo educação, saúde, meio ambiente e segurança. Mas o responsável constitucional pela segurança é o governo do Estado, que precisa aumentar o efetivo policial e investir na qualificação técnica e tecnológica das nossas polícias.

Há um convênio firmado entre a Smic (Secretaria Municipal de Indústria e Comércio) e a Brigada Militar para o acompanhamento de operações de fiscalização contra o comércio irregular na cidade. Isso não está acontecendo porque falta efetivo. Quando falta efetivo, falta qualidade no serviço prestado à população. Porto Alegre poderia investir em um policiamento coletivo reunindo Guarda Municipal e Brigada Militar. Os aposentados da Brigada poderiam ser requeridos pelo município. Hoje nós temos 593 homens na Guarda Municipal. A ideia é que essa guarda possa ocupar o centro de convivência que o porto-alegrense utiliza, incluindo aí o centro da capital, a zona boêmia da cidade, as praças e parques. Quando o cidadão de bem ocupa esses domínios, a criminalidade tende a recuar ou ao menos a se preocupar mais.

Sul21: Você é favorável à Guarda Municipal armada?

Maurício Dziedricki: Sim, sou favorável. Um pouco mais da metade da Guarda Municipal já usa armas. Agora, em agosto, há a previsão de abertura de mais um curso para guardas municipais buscarem a qualificação para o uso de armamento.

Sul21: Qual o diagnóstico da situação financeira atual da Prefeitura de Porto Alegre? Qual a capacidade do município fazer investimentos na cidade?

Maurício Dziedricki: Porto Alegre acompanha o momento vivido pelo restante do país. A crise econômica que assola o país e toda a América Latina faz com que tenhamos uma preocupação especial com esse tema. Cerca de 72% do que a Prefeitura arrecada vem de repasses do governo federal e do governo estadual. Consequentemente, o que precisamos fazer é capacitar a cidade como um berço do empreendedorismo, fazer com que esse índice de 28% de arrecadação própria tenha um estímulo para crescimento. Nós fizemos isso no governo Tarso Genro, quando ocupamos a Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Nós fizemos um diagnóstico de que existe uma cultura empreendedora no porto-alegrense que faz com que a pessoa tenha que ralar e trabalhar pelo seu espaço, seja na crise seja num momento de bonança. Aqui em Porto Alegre a cultura que nós queremos estabelecer é uma cultura que gere novos empreendimentos, que possa construir uma rede de investimentos capazes de fomentar o crescimento da nossa arrecadação própria, sabendo que isso envolve muito tempo, uma ambientação diferenciada e uma melhor gestão de serviços. A agilidade na abertura das empresas precisa ser acelerada e algumas leis precisam ser modificadas, favorecendo a abertura de novos negócios, com tecnologia de informação, com processos mais rápidos e com a priorização do consumo do porto-alegrense.

"Eu acho que erra quem pensa que, para ter Uber, precisa acabar com os táxis, ou que, para ter táxis, é preciso acabar com o Uber". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
“Eu acho que erra quem pensa que, para ter Uber, precisa acabar com os táxis, ou que, para ter táxis, é preciso acabar com o Uber”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Sul21: Há uma polêmica forte em Porto Alegre neste momento, associada a essa questão do empreendedorismo, que é a entrada do Uber no sistema de transporte privado de passageiros. Qual sua posição nesta polêmica envolvendo o Uber e os taxistas da cidade?

Maurício Dziedricki: Eu acho que erra quem pensa que, para ter Uber, precisa acabar com os táxis, ou que, para ter táxis, é preciso acabar com o Uber. Os dois sistemas podem conviver e regrar o mercado conforme a qualificação do serviço oferecido à população. Penso que Porto Alegre precisa avançar para um novo estágio, que a cidade não seja refratária a tudo, a exemplo do que algumas categorias têm defendido. O uso compartilhado dessas plataformas não só contribui para a qualificação do serviço como atende ao porto-alegrense nesta demanda crescente que existe por transporte público de qualidade. Porto Alegre precisa qualificar cada vez o seu transporte público e o seu sistema de mobilidade urbana. Nós vamos apresentar uma proposta neste sentido que é o emprego intensivo de aplicativos para melhorar a qualidade do transporte público. A ideia é que o porto-alegrense possa saber, por meio de seu celular, em quanto tempo o ônibus vai estar na parada, quanto tempo vai levar a viagem, entre outras informações. Também poderá contribuir com um pedido de uma poda de árvore, denunciar por meio de uma foto uma calçada mal conservada, alertar para pontos de criminalidade, entre outras possibilidades.

Sul21: Na sua opinião, teria que haver então algum tipo de regulamentação para que esse convívio entre Uber e taxistas se torne viável?

Maurício Dziedricki: Sim, tem que haver uma regulamentação e essas propostas estão sendo construídas. Há uma série de restrições que o primeiro ensaio não conseguiu absorver. A regulamentação do uso da placa vermelha, por exemplo, depende de lei federal.

Sul21: Ainda neste tema da mobilidade urbana, um tema que costuma reaparecer nas últimas campanhas eleitorais em Porto Alegre é o do metrô. Você acredita que há alguma possibilidade dessa proposta se materializar no curto ou médio prazo?

Maurício Dziedricki: Eu adoraria ter metrô em Porto Alegre. Sou usuário de metrô nas cidades que têm esse meio de transporte. Mas como envolve muito dinheiro público, está cada vez mais difícil fazer esse tipo de obra. O modelo de parceria público-privada pode investir em saúde, educação, infraestrutura e também em projetos como de um metrô. Mas isso depende de recursos e canais de financiamento brasileiro ou internacionais aos quais Porto Alegre só terá acesso se melhorar alguns elementos de sua realidade. É um sonho que não pode ser descartado por qualquer um que seja candidato a prefeito da cidade, mas a ambientação para esse projeto precisa ser construída. Precisamos pensar grande para pensar a cidade do futuro.

Sul21: Como o PTB está pensando essa campanha em termos de alianças com outros partidos? Já há alguma aliança confirmada?

Maurício Dziedricki: Com as mudanças de regras aprovadas para estas eleições e esse calendário projetado para agosto, hoje, todos os partidos estão em fase de conversações. Nós temos a certeza que temos uma candidatura que pretende se viabilizar com os recursos do fundo partidário. Além de Porto Alegre, nós teremos protagonismo nas campanhas de vários municípios da Região Metropolitana, como Guaíba, Canoas, Alvorada, Viamão e Esteio. Quanto aos demais partidos, nós convencionamos que não vamos trabalhar somente com alianças eleitorais. Temos o compromisso de construir um bloco político que leve em conta a Câmara de Vereadores e as propostas que queremos implantar na cidade.

"O PTB, ao longo do tempo, se constituiu com uma vida orgânica comunitária muito forte na cidade". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
“O PTB, ao longo do tempo, se constituiu com uma vida orgânica comunitária muito forte na cidade”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

 Sul21: O fato de não haver financiamento empresarial na eleição deste ano deve mudar muito a natureza das campanhas?

Maurício Dziedricki: Sim, certamente, e vai dar nível de competitividade para nós que nunca tivemos grandes aportes financeiros. Para nós isso é muito positivo. O PTB, ao longo do tempo, se constituiu com uma vida orgânica comunitária muito forte, seja ela em um Clube de Mães ou da Terceira Idade, em grupo de juventude, de lideranças de bairro, em times de futebol. Essa foi a alternativa que escolhemos. Decidimos gastar sola de sapato para constituir um partido que pudesse vocacionar as vozes da cidade. E hoje nós temos isso. Com a restrição dos financiamentos empresariais, aqueles partidos que cultuavam muito esse tipo de investimento terão que aprender a fazer política com pouco dinheiro. E nisso nós somos craques.

Sul21: As eleições municipais ocorrerão em um cenário político nacional bastante polarizado e conflituado. Como a crise política deve afetar a campanha eleitoral este ano, na sua opinião?

Maurício Dziedricki: Tem muita gente querendo nacionalizar essa discussão, mas acho que a eleição municipal é o momento mais importante para discutir a situação da nossa rua, do nosso bairro. Para mudar a política de Brasília, tem que mudar a política da nossa rua, do nosso bairro e da nossa cidade. Mais importante do que discutir golpe ou contragolpe é discutir se eu estou feliz, se estou satisfeito com os resultados que estou tendo no meu dia-a-dia, na minha vida. Nisso, acho que temos muita coisa para comemorar e outras coisas para acertar. Porto Alegre teve muitos avanços que precisam continuar e vários pontos em que é preciso ouvir a população para qualificar.

Sul21: Na sua opinião, a presidenta Dilma está sendo alvo de um golpe hoje?

Maurício Dziedricki: O processo político vivido no país deveria ter sido avaliado pelo TSE. Se existiram elementos capazes de levar a um processo de impeachment da presidenta Dilma, ela fez isso com um vice-presidente ao lado. Eu defendo uma nova eleição para o país. Acredito que esse caminho traria novos candidatos com novas visões.

Sul21: O PTB é um partido cujas origens remontam a Getúlio Vargas e a um projeto de nação. Passadas várias décadas, qual o vínculo que o partido ainda mantém com essa história e com esse projeto que nasceu com Vargas? Você acha que alguns dos conceitos que animaram esse projeto permanecem atuais?

Maurício Dziedricki: O DNA do PTB, na minha opinião, é a defesa do empreendedorismo. O PTB atual continua com esse DNA. Eu vim para o PTB pelo empreendedorismo, pela capacidade e dinâmica de investir em novos negócios, em novas oportunidades e em uma nova política. Essa política prima por buscar uma política de resultados com o objetivo de construir uma cidade empreendedora. Eu fiz isso no governo do Estado, através da Secretaria de Economia Solidária, onde construímos o maior programa de microcrédito do país e incentivamos arranjos produtivos locais.


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