Entrevistas|z_Areazero
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18 de agosto de 2014
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11:17

Rubens Goldenberg, candidato do PRP ao Senado: “Não vou enganar o povo, dizer que vou fazer. Vou tentar”

Por
Sul 21
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Rubens Goldenberg: "Todo mundo discute terceiro grau, mas o fundamental, que é a base de tudo, e ninguém fala" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Rubens Goldenberg: “Todo mundo discute terceiro grau, mas o fundamental, que é a base de tudo, ninguém fala” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Nubia Silveira*

O empresário Rubens Goldenberg, que atualmente trabalha como consultor, é candidato ao Senado pelo Partido Republicano Progressista (PRP). A legenda preferiu não lançar nome ao governo do Estado nestas eleições, por falta de quadros qualificados, segundo Gold, como o candidato está registrado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Nesta entrevista, concedida ao Sul21 numa tarde chuvosa de julho, na sede de sua empresa, em Ipanema, ele defende a necessidade de reformas e pede mais atenção às áreas de saúde e educação. “É uma falácia dizer que vai mudar; vou é tentar fazer alguma coisa”, afirma. A todas perguntas, respondeu em tom de um entusiasmado discurso, repetindo e misturando afirmações.

Sul21- Por que decidiu se candidatar ao Senado?
Rubens Goldenberg –
Ser candidato é tentar fazer alguma coisa. Você não chega naquele Congresso de 81 pessoas, com mil interesses do Executivo, do Legislativo, você pode fazer uma proposta, as pessoas não falam a verdade. As coisas não são como deveriam ser. Tem que dizer a verdade para o povo. Chegar em Brasília, ser senador é tentar. Você faz o melhor projeto de lei e tem uma conjuntura de 80 companheiros e interesses diversos. O que acontece? Brasília, ilha da fantasia. Faz acordo com o Diabo, com Deus para fazer passar um projeto. Tem cargos, indicações que estão desde já comprometidos na campanha. Você vai mudar o quê? Uma guerra tributária? Dizer que não dá? É uma falácia dizer que vai mudar. Tem que dizer vou tentar. E assim mesmo é difícil. São 81 senadores. Você não sofre interferência do processo do Executivo? Sofre. É difícil.

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Sul21 – Quais suas propostas para o Senado, apesar de não acreditar que possa mudar?
Goldenberg –
Eu tenho que tentar mudar a educação, a saúde. Educação? Todo mundo discute terceiro grau, mas o fundamental, que é a base de tudo, ninguém fala. Dão diploma, o sujeito sai de lá analfabeto. A base é mais embaixo. Um companheiro nosso candidato ao Senado diz que tem que ter creche. Creche é depósito de criança. Tem que ser uma escola de educação infantil desde os três anos.Tenho que tentar mudar educação e saúde. Tenho uma solução simples para a saúde. Eu faria um projeto de lei determinando que todos os cargos eletivos – presidente, vice, senador, deputados, prefeito ¬– fossem obrigados a dar exemplo para o país e usar o SUS.

“O povo está cansado de ser enganado, de ouvir propostas mirabolantes”

"Eu faria um projeto de lei determinando que todos os cargos eletivos – presidente, vice, senador, deputados, prefeito ¬ fossem obrigados a usar o SUS" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Eu faria um projeto de lei determinando que todos os cargos eletivos – presidente, vice, senador, deputados, prefeito ¬ fossem obrigados a usar o SUS” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Isso resolveria?
Goldenberg –
Imagina a filha de um senador indo para a fila, vai reclamar do tempo de espera. Não tem mordomia. Tu vais ser tratado igual ao povo. Se o SUS serve para o povo, não serve pra ti? Que gestor tu és? Para ti não presta? Então, tu és um canalha. Isso é canalhice. Se fizer uma votação na Câmara ou no Senado, vai ver se não aparecem recursos para a saúde. Dou cinco anos para resolver um problema de saúde no Brasil… Tira as mordomias de presidente, de senador, este pior ainda, que tem mordomia ad eternum, até morrer. Precisa mudar a lei.

Sul21 – Os outros candidatos também são críticos do Senado…
Goldenberg –
Eu tenho que tentar mudar. O que não vou é mentir, enganar o povo, dizer que vou chegar lá e vou fazer. O povo é ser humano, vai chegar um limite, ele está cansado de ser enganado, de propostas mirabolantes que não vão resolver. Qualquer projeto de lei depende de uma conjuntura, de interesses, de indicações. O governo diz: ou vota comigo ou vai perder teus cargos. Não tem independência no Legislativo hoje.

Sul21 – E seus projetos em outras áreas?
Goldenberg –
Tem que haver discussão da reforma federativa. Federação é um estado com liberdade jurídica e financeira. Numa chamada redistribuição de recursos, de deveres e obrigações. Não adianta impor ao estado aquilo que não tem capacidade para fazer. Dinheiro de onde? Cadê o Fundo 157, com 200 e poucos bilhões de reais do Banco Central que estão no Tesouro? Cadê outros fundos do Banco Central, que somados dão alguns bilhões? Estado é prioridade, governo é transitório. Precisa ter reforma tributária, parar de ter ganância, porque na outra ponta tem ser humano, que depende de saúde pública, de escola pública. Tem que implementar programas sociais de educação, de profissionalização. E a profissionalização verdadeira não é cursinho de seis meses, virtual, para marceneiro, que não conhece madeira. Isso é piada. Tem que dar curso verdadeiro de dois anos e assistência por mais seis meses para depois ir para o mercado de trabalho. Reforma federativa sem reforma tributária não existe. Agora, dividir? Quais os estados que vão perder e quais vão ganhar? Sou a favor da reforma agrária, assentando o homem no campo, levando tecnologia e dinheiro, além de saúde, educação e dinheiro. Sou a favor da verdadeira reforma agrária. E os capazes vão trabalhar na terra.

“Sou parlamentarista à morte”

Sul21 – Neste sistema bicameral é possível passar as reformas?
Goldenberg –
Sou contra o voto proporcional, sou a favor do voto distrital. Sou parlamentarista à morte. Aí o eleitor tem a facilidade de conhecer o cidadão, o candidato cria vínculo com a região. Sou parlamentarista. É preciso dividir o que é chefe de Estado e o que é chefe de Governo. A Itália sobreviveu nos últimos 30 anos derrubando governo, porque é parlamentarista. Mas tudo isso passa por saúde, educação, que reflete em tudo, segurança. O Estado faliu, quebrou. O modelo estatal faliu. O Estado tem que dar garantia de vida, mas não garante. Assisti a um programa na televisão, em que o jornalista pergunta sobre assalto a um jovem de 14 anos, que responde: “se não reagir, tá numa boa, não fizemos nada, se tentar reagir fazemos isso”. Está incutido na mente do cidadão que a reação dele é uma coisa pecaminosa, e o bandido, o marginal, sabe disso. E desarmamos o povo, aqueles que tinham armas regulares, que não assaltam ninguém. O bandido compra arma no submundo e assalta, ameaça. A que ponto chegamos em segurança!

Sul21 – O senhor é contra o desarmamento?
Goldenberg –
Não é questão de ser contra o desarmamento. Sou contra a falta de estado que não dá segurança.

"Estamos lidando com marginal estruturado, com dinheiro, com o tráfico armado. A raiz disso é socioeducativa" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Estamos lidando com marginal estruturado, com dinheiro, com o tráfico armado. A raiz disso é socioeducativa” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Qual a mudança necessária?
Goldenberg –
A longo prazo. Nós estamos lidando com marginal estruturado, com dinheiro, com o tráfico armado. A raiz disso é socioeducativa. Quando o feto está se formando e a mãe não se alimenta bem, o cérebro fica prejudicado. E vão cobrar o quê? As pessoas não são criadas como ser humano, mas como massa de manobra. Que estado é este? Os criminosos são seres humanos distorcidos, porque nunca atacamos a verdadeira razão do banditismo. Foi falha nossa, do estado, que não demos chance a eles de ter um futuro. Agora, bandido é bandido. Tem 10% que é bandido. Tem 90% que comete erro, não é bandido, aquele que mata, assassina, estupra, comete crime hediondo. Para o bandido, criminoso, não sei a solução. Este não tem jeito. Qual a solução? Não sei. Tem de sentar e pensar.

Mas, nem todo o povo é criminoso. Nem todo comunista é bandido, nem todo socialista é criminoso, nem todo democrata não presta. Agora, quem discute a verdade disso? Você faz parte de um governo por 10/15 anos e agora, por conjunturas política, sai fora do governo, que, agora não presta. Não estamos discutindo coisas reais.Estamos discutindo a fantasia.

“Sou liberal. Não temos como ter estatização”

Sul21 – O senhor se considera socialista, democrata, ou o quê?
Goldenberg –
Neoliberal. Respeito o comunismo. Meu pai era russo comunista stalinista, levou 19 tiros na Segunda Guerra. Agora, ninguém erra se não tentar fazer alguma coisa.

Sul21 – Qual sua proposta para a economia?
Goldenberg –
Liberal. Não temos como ter estatização. Quando tem um estado com pessoas capacitadas tecnicamente, o parlamentarismo sobrevive, porque a estrutura de estado é separada daquela de governo. Precisamos de carreiras técnicas de Estado com concursos. Não importa o governo. Tem que servir o povo. Uma coisa tem de ser ensinada ao servidor público: ele está aí para servir o povo. É preciso dar chance ao professor, para ele se aperfeiçoar. Ter infraestrutura, não aquele colégio caindo aos pedaços, que não tem merenda, onde roubam a merenda. E isso vale para o policial militar, o médico… Eles precisam ganhar o suficiente para viver. Há quem proponha baixar salários. Até quando vamos pensar assim? Por que não propor que aquele salário de R$ 700 vá para R$ 10 mil? O RS é um estado pobre? Não, rico. Tem que mudar.

"Devíamos proibir que um congressista indicasse alguém para o Executivo" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Devíamos proibir que um congressista indicasse alguém para o Executivo” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – E a solução para a situação do Estado?
Goldenberg –
Além das reformas – política, tributária e federativa -, sentar todo mundo e fazer um pacto político nacional para que o país comece a se desenvolver de novo. Não tem outra forma. Tem de sentar na mesa para discutir. Devíamos proibir que um congressista indicasse alguém para o Executivo. Diminuir os CCs (cargos em comissão) o máximo possível. Ter concursados, criar a carreira do Mais Médicos brasileiros. E de outras profissões. Precisa ter infraestrutura nos postos, com medicamentos, técnicos. Mas não sou contra trazer médicos cubanos e de outros países, temporariamente.

“Não represento oligopólio, nem de imprensa nem de crença”

Sul21 – Com 32 partidos, é possível fazer um pacto?
Goldenberg –
Qual a função da lavoura quando se planta? Plantar, cuidar, olhar e colher. Qual a diferença da política, mesmo com 50 partidos? Ao longo do tempo, isso vai se regularizar e se normalizar sozinho. A economia é como uma lavoura. Você aduba, molha a planta, cuida.

Sul21- Mas a política não tem como característica o imediatismo?
Goldenberg –
Quem tem imediatismo são seres humanos. Não confunda, partido é uma coisa, as pessoas que fazem parte dele são outra. Se você disser que os políticos pensam em política para ontem, e quando falo em ser humano, que não existe respeito ao ser humano, isso pede tempo. E a gente tem esse tempo? Não sei. Não sou onipotente para dizer.

"Não somos aquele partido, PRP, que estava coligado com Brizola em 58, um partido de direita" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Não somos aquele partido, PRP, que estava coligado com Brizola em 58, um partido de direita” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Qual sua estratégia para vencer a eleição?
Goldenberg –
A verdade. Nua e crua. Não represento oligopólio, nem de imprensa nem de crença. Não represento segmento político, de executivo ou não. Represento um desejo de jovem, tenho quatro filhas, e que país eu, pai, vou deixar? Não me importo em chegar ao Congresso e ser senador por ser senador. Ser senador por ser senador, eu fico em casa. Ser senador e ter vontade de querer fazer e, para isso, é preciso ter liberdade, não depender de ninguém.

“Abomino coisas que foram feitas em outros governos”

Sul21 – É a favor das coligações?
Goldenberg –
Não quisemos fazer, tivemos convites. Não somos aquele partido, PRP, que estava coligado com Brizola em 58, um partido de direita. Sou filho de pai russo, sobra de guerra, de mãe judia, sobra de campo de concentração. Vou defender um partido nazista, fascista? Não posso. Seria incoerência. Eu abomino coisas que foram feitas em outros governos. Se não sentarmos e pararmos de pensar em ganhos, em cargos e começarmos a discutir as necessidades reais, tem que haver pacto. Como fizeram Espanha, Portugal, Rússia, China. Mas um pacto a favor do povo.

Sul21 – O PRP só lançou candidato a senador no RS. Por quê?
Goldenberg –
Porque achamos que não devemos defender nenhum segmento que não pense como nós. Por que temos de vender nosso espaço na televisão? Vamos com o que temos. O que for possível expor na TV, nós vamos fazer. Não temos gente qualificada para lançar candidato a governador, nossos quadros são pequenos. Vamos enganar o povo? O quadro qualificado está difícil. Nem todos partidos têm quadros qualificados.

"Temos que lutar para que o povo possa sobreviver sem depender de ninguém" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Temos que lutar para que o povo possa sobreviver sem depender de ninguém” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – O senhor fala muito em povo. E quando fala em povo…
Goldenberg –
Vocês fazem uma diferença na política entre elite e povo… todo mundo é trabalhador. Discriminam, como se empresário fosse bandido. Existe empresário que deu ao social mais que muito socialista, cito o Dr. Francisco Martins Bastos, fundador do Grupo Ipiranga. Não se pensava em 14º salário, em colônia de férias, em saúde, e a Ipiranga dava. Empresário fomenta o crescimento, o social, a saúde, divide lucro para o funcionário… Isso não presta? Temos que tratar o povo como um todo. Temos que dar condições aos que não têm para progredir. Vamos ter sempre esse povo subjugado? Por que não dar liberdade educativa e econômica a ele? Ele não merece? Ele vai ser sempre massa de manobra da esquerda, do centro ou da direita?

“Não adianta me ajudar hoje e pedir coisas depois”

Sul21 – O senhor se considera de esquerda ou de direita?
Goldenberg –
Neoliberal, no sentido empresarial. Não tem que ter banco estatal financiando cheque especial, mas banco de investimento fomentando a indústria, a agricultura. Não condeno o Dr. Olívio Dutra por mandar a Ford embora, foi opção dele. Lasier Martins indicou uma senhora a um cargo e fala em nepotismo. Todos somos humanos, erramos. É fácil criticar.

Sul21 – Quanto vai custar sua campanha?
Goldenberg –
Lançamos um site pedindo recursos para o povo e também aos segmentos dos quais já fiz parte. Mas não adianta me ajudar hoje e pedir coisas depois, que minha cabeça não permite. Não vou julgar ninguém, nem aqueles que querem que a miséria permaneça. Temos que lutar para que o povo possa sobreviver sem depender de ninguém; neste sentido sou socialista, sim. Lucro a quem de direito, o prejuízo também. Eu gostaria que minha campanha não custasse nada. Declarei cinco milhões de reais. Quanto vou arrecadar, não sei.

*Colaborou Lorena Paim


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