Lasier Martins: “Não devo nada para a RBS nem para a Caldas Jr”

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Lasier Martins, com Alberto Pasqualini ao fundo, criticou os governos petistas de Dilma Rousseff e Tarso Genro  | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Lasier Martins, com Alberto Pasqualini ao fundo, criticou os governos petistas de Dilma Rousseff e Tarso Genro | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Nubia Silveira*

Comunicador de rádio e televisão, advogado por formação, Lasier Martins concorre ao Senado pelo PDT, em sua primeira incursão na política. Antes de esta  entrevista ao Sul21, começar, no último dia de julho, ele fez dois pedidos: que a conversa não se estendesse por mais de 40 minutos e que fosse fotografado ao lado do retrato de Alberto Pasqualini, que se encontra na sala da direção do PDT, no Diretório Estadual. O candidato trabalhista criticou o governo Dilma e, no RS, o de Tarso Genro, do qual o PDT já foi aliado. “Eu esperava que Dilma fizesse mais, mas ela tem sido uma decepção”, afirmou. Lasier rebateu as acusações de que seria “o candidato da RBS”, empresa em que trabalhou durante 27 anos e de onde saiu em 2013. “Qual é o mal de eu trabalhar numa empresa de comunicação? Qual é a pecha que eu mereço por isso?”, indagou. Depois do final da entrevista, revelou que esperava ter como adversário petista o deputado Henrique Fontana, nome que considera mais forte do que o de Olívio Dutra.

Sul21 – O que o levou a concorrer ao Senado, considerando que o senhor sempre foi um crítico da política e dos políticos?
Lasier Martins –
Exatamente por ter sido crítico, exatamente por ter sido um indignado, um desconforme com os rumos que a política está seguindo no Brasil. Sempre entendi que a política é uma arte que deve fazer o bem comum, isto é, trabalhar pelo bem das pessoas. Não é para os políticos se servirem, mas para servir a população. Percebo que tem havido um desvio muito grande do sentido da política. O chamado espírito público hoje é muito raro. Existem alguns homens públicos realmente dignos, mas uma grande quantidade não é. Não sou eu quem diz isso. Lula, quando foi deputado federal, disse que a Câmara tinha 300 picaretas, ele já sabia. Os últimos resultados mostram que os próprios defensores do PT malversaram verbas, alguns foram para a cadeia, outros expulsos do partido. E em outros partidos, também, quantos parlamentares respondem a processo judicial. Contra isso que eu sempre critiquei é que resolvi me insurgir. Então, é levar para a prática aquilo que eu criticava insistentemente.

“O financiamento privado é uma das mazelas da nossa política. Compromete todos que são financiados”

Sul21 – Por que não pleitear uma vaga na Câmara ou na Assembleia, já que o Senado é tão criticado?
Lasier –
O Parlamento, em geral, hoje é caro e improdutivo. A Câmara dos Deputados é um mar de pessoas onde pouca coisa se concretiza, exatamente pela pulverização do Parlamento. No Senado é mais fácil desenvolver um projeto, porque tem 81 parlamentares, é mais prático começar por ele. Por ter (mandato de) longo prazo, permite que daqui a quatro anos não se esteja correndo de novo atrás de financiamento de campanha, lutando atrás das bases, mas, sim, trabalhando mais tranquilamente para concretizar os projetos pretendidos.

"Eu tenho pedido contribuições mais modestas, por isso minha campanha tem sido muito barata" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Eu tenho pedido contribuições mais modestas, por isso minha campanha tem sido muito barata” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – O senhor é favorável ao financiamento de campanha por empresas?
Lasier –
Não, esta é uma das mazelas da nossa política, porque compromete todos aqueles que são financiados. Eu venho sofrendo grande dificuldade para a captação de recursos, exatamente porque não estou andando atrás. Tenho pedido para algumas empresas que não têm aquele poderio das empreiteiras, dos bancos, eu tenho pedido contribuições mais modestas, por isso minha campanha tem sido muito barata.

Sul21 – Sabe quanto?
Lasier –
Até agora meu faturamento é de R$ 150 mil. Minha previsão é de R$ 700 mil.

“Não tenho por que retribuir, nem saberia o que retribuir para uma empresa de comunicação”

Sul21 – Seus adversários o apontam como candidato de um grupo de comunicação, a RBS. Isso ajuda ou atrapalha?
Lasier –
Não, isso me chateia. Eu trabalhei 24 anos e meio na Caldas Jr. e 27 anos e meio na RBS, como empregado, como jornalista. Decidi deixar a comunicação por indignação, por vontade de atuar na política e porque não via grandes resultados apenas na crítica. Não tem nada a ver com meu histórico de ter sido um profissional de imprensa. Uma vez rompido o meu contrato, eu não tenho obrigação nenhuma, eu não devo nada para a RBS nem para a Caldas Jr. Tenho gratidão com estas duas empresas, que me deram oportunidade para eu crescer, aprender, viajar. Mas eu não tenho por que retribuir, nem saberia o que retribuir para uma empresa de comunicação. Não consigo atinar o que é ser o representante de uma empresa de comunicação. Por outro lado, a empresa insistiu muito para que eu ficasse e eu disse claramente: eu entendi que encerrou o meu ciclo de jornalismo, agora quero ir para a política, trabalhar para o bem comum. A RBS é uma empresa muito respeitada, que tem 6.400 empregados, tem jornal mais lido, tem rádio e televisão. Acho isso um mérito, está indo ao encontro de seu público, o leitor, o telespectador, o ouvinte. Qual é o mal de eu trabalhar numa empresa de comunicação? Qual é a pecha que eu mereço por isso? Os sindicalistas também trabalham em profissões de grande visibilidade, os jogadores de futebol, os astros de televisão – e vão para a política. Esses podem. Agora, sendo jornalista não pode. Qual é o comprometimento que eu vou ter? Para defender o quê?

"Sempre foi a minha marca, a de criticar, denunciar, com o sentido de proteger o bem coletivo, o dinheiro público" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Sempre foi a minha marca, a de criticar, denunciar, com o sentido de proteger o bem coletivo, o dinheiro público” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Sendo radialista de duas rádios de grande audiência…
Lasier –
Vivi a época áurea da Guaíba.

Sul21 – Isso ajuda na campanha?
Lasier –
Não, as pessoas me conhecem como comunicador. Não sou político, eu estou político, pela primeira vez. Não tenho histórico da política, embora fizesse o jornalismo social. Sempre foi a minha marca, a de criticar, denunciar, com o sentido de proteger o bem coletivo, o dinheiro público. Eu quero levar isso agora para a política partidária e a política do poder público.

Sul21 – Como seria usar bem esse dinheiro?
Lasier –
Tenho no meu santinho três propostas básicas: mais recursos para o Estado (o RS envia para a União cerca de R$ 35 bilhões por ano em impostos federais e recebe de volta apenas R$ 12 bilhões, enquanto a Bahia envia R$15 bi e recebe R$ 25 bi de retorno). Então nós, gaúchos, que estamos hoje no fundo do poço, pagamos a conta de outros. Proponho ainda escola de tempo integral e combate ao desperdício. Os recursos públicos precisam ser investidos com seriedade, planejamento e respeito ao bolso do contribuinte. É papel do senador fiscalizar a aplicação desse dinheiro para que o governo federal possa investir mais naquilo que a população precisa.

“Nós vivemos um verdadeiro governo imperial. Somos os súditos, recolhemos nossos impostos”

Sul21 – E, como senador, o que faria quanto à dívida do Estado?
Lasier –
Nós temos duas alternativas preferenciais. Uma delas é discutir o critério do indexador que foi imposto em 1998, quando nós devíamos R$ 7 bilhões (o RS já pagou R$ 22 bi e está devendo R$ 47 bi, porque o governo implantou o IGPDI que é o mais pesado indexador). Então, queremos mudar o indexador para um mais ameno, porque poderemos economizar R$ 11 bilhões do que devemos. Com a renegociação que a própria Dilma mandou, a Câmara votou, e quando chegou a hora do Senado, o Mantega (ministro da Fazenda) mandou engavetar, está lá parado. Se eu for para Brasília, a minha luta será pela repactuação da dívida. Se não for amigavelmente, vamos para o Supremo requerer auditoria sobre isso. Outra alternativa é lutarmos pela diminuição para 9% da prestação, que hoje é de 13% da receita líquida, a fim de que sobre alguma coisa para o investimento. E também em relação ao critério desigual de distribuir verba para os estados nordestinos, quase integralmente ou até mais do que contribuem – o governo federal entrega para o governo do Maranhão 3,5 vezes mais do que ele recolhe. Nós, que somos um estado quebrado, por que somos tratados diferentemente? Nós vivemos um verdadeiro governo imperial, isto é, somos os súditos, recolhemos nossos impostos, e a presidente da República domina o Congresso com 80% de apoiadores, exerce profunda influência no Judiciário, onde no Supremo e nos demais tribunais superiores o governo nomeia os ministros. Um projeto meu, se eleito, é mudar o critério de indicação dos ministros dos tribunais superiores, através de uma comissão, como acontece na Espanha. Seriam 21 personalidades de destaque jurídico (OAB, CNJ, MP) para escolher quem deve substituir os ministros dos tribunais superiores e, ao mesmo tempo, com mandato limitado, a fim de arejar a jurisprudência. Este Toffoli (ministro do Supremo Dias Toffoli) vai ficar 30 e poucos anos como ministro, e nem foi capaz de passar em concursos para juiz de Direito, foi advogado do PT, de José Dirceu. As pessoas que vão para lá têm que ser idôneas, confiáveis.

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Um projeto meu, se eleito, é mudar o critério de indicação dos ministros dos tribunais superiores”| Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Que outras propostas?
Lasier –
Nós vimos na Copa do Mundo que a segurança pública ficou bastante aceitável nas cidades que foram sedes. Uma das razões foi o chamamento das forças armadas para contribuir. Aí eu me pergunto por que essas forças não ficam o tempo todo, cuidam das fronteiras contra a entrada de drogas e armas? Por que só na Copa? E quero apresentar projeto no Congresso para que as forças armadas tenham mais efetividade na segurança dos brasileiros.

Sul21 – É preciso renovação para que certos projetos passem no Congresso. O que provocaria a renovação?
Lasier –
Com a mentalidade que nós defendemos, de ética na política, vamos ter renovação de 20% no Senado. No Congresso todo, vai ter mais. Tenho esperança de que seja eleita senadora pela Bahia a Eliana Calmon, aquela que disse haver muito magistrado que pertencia a verdadeiras quadrilhas. Há outros candidatos em outros estados que estamos examinando para que, se eleitos, formarmos um bloco do restabelecimento da ética na política dentro do Senado.

Sul21 – Quais as grandes qualidades de uma política com ética?
Lasier –
Que combata os desperdícios do dinheiro público, que convoque para prestar contas as autoridades da República, que fazem o que bem entendem – o mais absurdo defeito da gestão pública brasileira é a Petrobras. Petróleo dá lucro em qualquer parte do mundo, no Brasil a Petrobras é deficitária, é uma caixa-preta, está toda endividada, os diretores ganham fortunas de salários e nós pagamos combustíveis tão caros, além disso demoramos a explorar o pré-sal. Temos que entrar com uma auditoria na Petrobras. O governo não tem deixado isso, abafaram as duas CPIs que iam ser criadas, a mista e a do Senado. Isso tem que ser reaberto, se não este ano, no próximo, com a nova legislatura. Da mesma forma, a Eletrobras está acumulando prejuízos. Se eleito, vou batalhar pela convocação dos presidentes dessas estatais, para que venham a plenário dar explicações. Esse é um dos ralos do dinheiro público: a falta de fiscalização de quem comete erros por má-fé ou incompetência de gestão. Gestão é problema bem típico da administração pública. Na iniciativa privada, temos grandes gestores nas empresas Gerdau, Randon, Marcopolo, Tramontina, que são bem-sucedidas porque têm excelentes gestores de recursos, fazem enxugamento de custos. Na administração pública se coloca qualquer apaniguado…

“Eu, se estivesse no partido na época, teria sido contra a participação do PDT no governo Tarso”

"Eu tenho pedido contribuições mais modestas, por isso minha campanha tem sido muito barata" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“O desenvolvimento de um país é feito em cima de grandes empresas, que são fundamentais. São elas que produzem o econômico e, através deste, os governos podem realizar o social”| Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – O PDT já esteve no governo Tarso aqui no Estado. E apoia o da presidenta Dilma. Por que o senhor escolheu o PDT?
Lasier –
Primeiro, porque meu pai, um homem simples, foi um fervoroso trabalhista. Era getulista, era brizolista, leitor dos artigos do Pasqualini. Aprendi a admirar a compenetração dele por um partido e faço uma homenagem póstuma a quem acompanhei quando jovem aos comícios. Segundo, porque é o partido da educação, o princípio primeiro do PDT é priorizar a educação. Brizola construiu 6.251 brizoletas quando governador do RS e depois criou os Cieps no Rio de Janeiro, junto com Darcy Ribeiro. Chega a 50 milhões o número de brasileiros analfabetos funcionais ou totais, segundo o censo de 2010. Quanto ao apoio ao Tarso: Vieira, Romildo, Pompeo, expressões do PDT, votaram contra a entrada do partido no governo dele. Eu, se estivesse no partido na época, teria sido contra. Com relação ao governo federal, eu esperava que Dilma fizesse mais, mas ela tem sido uma decepção. O Brasil está crescendo pouco, a inflação está de volta, vivemos uma época de desindustrialização, estamos ameaçados pelo apagão da energia, mesmo que ela seja uma pessoa entendida nisso. Como 80% da energia é hídrica, dependemos dos reservatórios de água. Por que ela não se preparou com outros meios? Foi um governo decepcionante, acho que tem que mudar. Dilma é uma pessoa íntegra, mas a gestão é ruim. Estão aí todos os empresários desesperados, desacreditando que ela recupere. Quando Dilma foi candidata a presidente, num debate na RBS, respondendo a uma pergunta minha, ela afirmou categoricamente: “no meu governo eu vou construir a segunda ponte do Guaíba”. Está terminando o governo dela daqui a poucos meses e não tem nem licenciamento ambiental, nem o projeto está feito. Foi outra frustração. Ela ajuda pouco, o tal alinhamento com Tarso é falácia, ela não alcançou recursos.

Sul21 – Dentro desta linha de alinhamento, como vê as coligações?
Lasier –
Acho uma hipocrisia, mas é uma decorrência da falta de reforma política, tudo em função do espaço para o rádio e TV. Todo mundo tem que se agarrar em qualquer um, mesmo que haja as maiores contradições ideológicas, qualquer um serve, desde que represente 15 ou 30 segundos a mais na TV. É uma contingência ridícula em que todos têm que se agarrar ao máximo de partidos, sem ter afinidade programática e ideológica nenhuma.

Sul21 – O senhor tem domínio do meio televisivo e isso poderá ajudar na campanha. E as redes sociais?
Lasier –
Estamos usando imensamente. A esta altura tem uma equipe numa sala lá em casa trabalhando na fanpage, estamos colocando vídeos das nossas visitas todos os dias. Acho que, dos candidatos ao Senado, quem está postando mais vídeos sou eu.

Sul21 – O que decide uma eleição: TV ou redes sociais?
Lasier –
As redes sociais ainda são novidade para nós, enquanto nos EUA realmente decidiram. Acho que vão influenciar muito, em que proporção não sei. Acho que o que mais vai influenciar serão as propostas, quem convencer melhor com as propostas viáveis. Estou com esperança, estou com meu molde de propostas e, no momento em que detonar a televisão e o rádio, eu vou apresentar, embora em curto espaço. Devo ter 1min20seg, mas me acostumei na televisão a fazer comentário de três minutos e, às vezes, o editor gritava no meu ouvido para reduzir porque estourou o tempo.

“Acho que será desolador para o RS eleger um homem (Olívio Dutra) que é contra o investimento de grandes empresas”

Sul21 – Recentes pesquisas indicam empate técnico entre o seu nome e o de Olívio Dutra, do PT. Qual sua estratégia daqui para frente?
Lasier –
Estratégia é estratégia. Eu vou pedir permissão para guardar as minhas táticas. Acho que Olívio pode ir até a 30% porque a militância do PT é considerável. Eu preciso ir a 35%, 36%, 37%, que é a minha esperança.

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Tenho recebido apoios de todos os partidos. Manifestações muito animadoras, daquelas pessoas que vêm muito a política como resultado”| Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – O senhor está batendo no Olívio, em cima do caso da Ford.
Lasier –
Por enquanto. Tem mais.

Sul21 – Esta tática não está envelhecida, no momento em que o Estado já conquistou outras empresas desde aquele episódio?
Lasier –
Acontece que o estrago foi tão gigantesco que isso não pode ficar impune. Acho que será desolador para o RS eleger um homem que é contra o investimento de grandes empresas, porque quando nós deixamos de atender o incentivo fiscal para a GM, nós íamos incentivar uma empresa que tinha zero de desempenho no RS, mas dentro de 15 ou 20 anos teria 80% de rendimento. Isso foi impedido, por um preconceito. E foi assim com a Goodyear e com a laminadora do Dr. Gerdau e aquela multiplicação de investimentos que deixaram de acontecer. Num espaço de cinco anos, nós desperdiçamos em torno de 20 mil empregos, isso é um absurdo. Eu fui a Detroit, na comitiva de jornalistas e parlamentares, quando o governo Britto conquistou a Ford, ele foi agradecer ao presidente mundial da empresa. Jacques Nasser nos ofereceu um almoço e disse o seguinte: vou fazer em Guaíba a mais moderna fábrica de veículos da América Latina. Dali partimos para o norte dos EUA, fomos recebidos pelo vice-presidente da Goodyear, que nos disse: na medida em que vamos ter uma fábrica de carros de um lado do rio e outra de outro lado, nós vamos fazer em Glorinha a maior fábrica de pneus do Brasil. Nós perdemos isso. Gravataí era o 16º lugar em arrecadação de impostos e hoje é o quinto, pela GM. Isso poderia estar acontecendo em Guaíba.

Sul21 – Qual é o perfil de seu eleitorado?
Lasier –
Bem diversificado. Tenho recebido apoios de todos os partidos. Manifestações muito animadoras, daquelas pessoas que vêm muito a política como resultado. Eu sei que é importante a discussão sobre estado mínimo e máximo. Mas eu pergunto qual o estado máximo deste governo que está aí, chamado de esquerda? Malversar recursos, botar seus representantes máximos na cadeia, levar ao déficit as grandes estatais como Petrobras e Eletrobrás? Isso é ser esquerda? Estar abraçado no Maluf na eleição em São Paulo? Receber Renan (Calheiros), ter Sarney como um de seus expoentes dos aliados? Minha doutrina é: precisamos é ter resultados em termos de administração pública. PE é o estado que mais prospera no Brasil e tem o PSB. SC elegeu governador do Democratas e progride mais que nós. SP e MG têm candidatos do PSDB e são estados mais prósperos que o nosso. Então, o que tem a ver isso com esquerda e direita?

“Se quiserem me dar um rótulo, aceito o de centro-esquerda”

Sul21 – O senhor se classifica como de direita?
Lasier –
Não sou direita nem esquerda. Se quiserem me dar um rótulo, aceito o de centro-esquerda. Doutrina Brizola, Pasqualini, Getúlio, que sempre se preocupou com o trabalhador, foi um político modelo do ponto de vista de administração pública.

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Pasqualini sempre sustentou que não há nação desenvolvida sem proteger e valorizar o trabalhador”| Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Getúlio foi levado ao suicídio sob a acusação de estar envolvido num mar de lama.
Lasier –
Isso acontece na política. Eu agora estou sendo ofendido nas redes sociais sem nenhum fundamento, envolvendo a família. A política é uma área que se presta muito à maldade, ao desafogo da frustração das pessoas e leva o político até ao suicídio.

Sul21 – Essa exposição da política não o assusta?
Lasier –
Não, eu sei que ela é dura. Mas eu estava preparado. Há 30 anos eu era convidado para entrar na política. Nos últimos oito anos eu me filiei no PDT para concorrer, mas as pessoas me procuravam insistentemente: “Não entra na política, tu como jornalista de TV é uma pessoa estimada por todo mundo, na medida em que tu optares por um partido, os outros serão teus adversários, sempre prontos para te atacar e difamar”. Eu tenho a vida limpa, eu não tenho rabo.

Sul21 – Mas o senhor mesmo diz que estão criando coisas que não são verdadeiras.
Lasier –
O que eu vou fazer? Hoje meu advogado está entrando na Justiça para tirar um blog fake que está envolvendo minha filha, minha família (a decisão da Justiça foi favorável a Lasier).

“Eu quero representar desde o trabalhador comum – meu pai era mecânico de máquinas – aos empresários”

Sul21 – O senhor já está aceitando isso?
Lasier –
Aceitando, não. Estou preparado para isso. As pessoas que não têm nada para arguir contra mim, elas inventam.

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“A militância do PT é mais robusta, historicamente, é um partido forte”| Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21- Simone Leite (PP) foi lançada ao Senado e pode tirar parte do seu eleitorado, representado pelos empresários?
Lasier –
Eu acho que uma pequena fatia a Simone pode me tirar. O desenvolvimento de um país é feito em cima de grandes empresas, que são fundamentais. São elas que produzem o econômico e, através deste, os governos podem realizar o social. Os governos precisam também das grandes empresas e, por isso, são tão sugadas em impostos. Eu quero representar desde o trabalhador comum – meu pai era mecânico de máquinas – aos empresários. O que importa é que haja uma administração transparente, limpa, que aproveite melhor os pesados impostos que nós pagamos, os quais são os mais caros do mundo. E temos os juros mais altos do mundo.

Sul21- Quando chegamos o senhor pediu que fosse feita uma foto sua ao lado da de Alberto Pasqualini, seu ídolo. Quem o senhor admira na política?
Lasier –
Pasqualini, que criou a doutrina do trabalhismo, segundo a qual a política é para servir o bem coletivo, e não para servir as pessoas. Aprendi a ler com Pasqualini com meu pai. Ele sempre sustentou que não há nação desenvolvida sem proteger e valorizar o trabalhador. Foi um brilhante ministro da Justiça. E Salgado Filho, outro senador. Há 62 anos o trabalhismo gaúcho não tem um senador. Quero ser este.

Sul21 – Mas não tem certeza de que vai ser?
Lasier –
Tenho quase certeza, mas sei que tenho que trabalhar muito.

“Acho que há expectativa de revigorar o partido brasileiro mais gaúcho que existe, o PDT”

Sul21 – E quem admira entre os atuais?
Lasier –
Me espelho muito em Cristovam Buarque (senador de Brasília), Pedro Taques (senador pelo Mato Grosso). Me inspiro também no Vieira da Cunha, político muito íntegro, honesto, correto e que está muito bem preparado para ser governador do RS.

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“O RS está muito decadente, está no fundo do poço”| Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Como está sua campanha no interior?
Lasier –
Tenho sido muito bem recebido, nos auditórios lotados as pessoas me abraçam, tiram muitas fotografias, ligam muito minha imagem à da televisão. Eles simpatizavam com meus comentários, acho que isso vai ajudar. Fiz 65 municípios nos últimos 80 dias, toda a Fronteira, Planalto, Serra, pelas ruas de Novo Hamburgo e São Leopoldo.

Sul21 – Olívio Dutra é seu grande adversário?
Lasier –
Pelas pesquisas são os dois principais. Não sei se Beto (Albuquerque, PSB) não vai subir mais. A militância do PT é mais robusta, historicamente, é um partido forte. Hoje o PDT é o maior partido no RS, com 305 mil filiados e às vezes há filas para se filiar. Eu acho que há expectativa de revigorar o partido brasileiro mais gaúcho que existe, fundado por um gaúcho, Getúlio Vargas. Partido que teve Salgado Filho, Pasqualini, Jango, Brizola, Collares. É um partido que tem o caráter do gaúcho, isso tem repercutido muito.

Sul21 – Esse caráter “gaúcho” não prejudica o crescimento nacional?
Lasier –
O RS está muito decadente, está no fundo do poço. Meu sonho é partir do RS um grande PDT que vai influenciar a política nacional, como já influenciou no passado.

*Colaborou Lorena Paim


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