Em Destaque|Últimas Notícias>Geral
|
31 de dezembro de 2015
|
13:17

Temporais, enchentes e solidariedade: RS sofreu com chuvas históricas em 2015

Por
Luís Gomes
[email protected]
30/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Moradores das ilhas ainda sofrem com a situação após as enchentes | Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Moradores das ilhas de Porto Alegre sofreram por semanas com as enchentes no mês de outubro | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Tempestades, raios, granizo, enchentes e alagamentos. Elementos que fizeram parte da rotina dos gaúchos em grande parte do ano de 2015. Foram vários meses com chuvas acima da média histórica. Várias tragédias. Muitas famílias obrigadas a sair de casa, em muitos casos com a água já dentro, e que perderam tudo. Mas também foi o ano em que aflorou a solidariedade, em que a população da capital e de demais partes do Estado organizou uma grande mobilização para ajudar os afetados.

De acordo com informações do Sistema Metroclima, integrado ao Centro Integrado de Comando da Cidade (CEIC) de Porto Alegre, até o fim de novembro, 2015 já tinha registrado oito meses com um volume de chuvas superior à média histórica, com os meses de maio, julho, setembro e o outubro sendo os de maior precipitação.

Para o Metroclima, o excesso de chuvas registrado em Porto Alegre e no Estado em 2015 se deve ao fenômeno El Niño. Segundo os meteorologistas da entidade, está é a primeira vez, desde 2009/2012, que o El Niño está plenamente configurado no Oceano Pacífica, o que provocou aumento médio da temperatura, mas, ao mesmo tempo, traz dias de quedas abruptas de temperatura. E é justamente na transição entre períodos amenos ou quentes para friso que ocorre a formação de temporais com ventos fortes e granizo.

Foto: Guilherme Santos
Raios rasgam o céu em dia de forte tempestade no mês de outubro | Foto: Guilherme Santos

Meses de recordes

Em julho, o Metroclima registrou 343,2 mm de precipitação, quase o triplo da média histórica (121,7 mm). De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), com 309,2 mm de precipitação no Jardim Botânico – onde o instituto faz a medição -, julho se tornou um dos dez meses mais chuvosos desde o início da série histórica, em 1910, e o mês mais chuvoso do século 21. Com este volume, julho se tornou o mês mais chuvoso até agora do século e um dos dez mais chuvosos desde o início da série histórica de medições, em 1910.

Desde 1961 somente três meses tinham tido mais de 300 mm na Capital nesta base: junho de 1984 (340,1 mm), agosto de 1965 (330,0 mm) e outubro de 1963 (303,4 mm). Isso significa que julho de 2015 foi o mês mais chuvoso desde 1984. O mês mais chuvoso já medido em Porto Alegre foi maio de 1941 (409 mm), quando a cidade foi atingida pela maior enchente de sua história.

Ao redor do Estado, foram ao menos 57 municípios atingidos. Segundo a Defesa Civil, ao menos 8,7 mil pessoas foram atingidas e mais de 1,1 mil pessoas precisaram ser transferidas para abrigos. Na capital, não houve desabrigados nem casas destruídas devido às tempestades, mas em certas áreas moradores sofreram, convivendo com o medo de ver suas casas alagadas pela água que chegava até as portas. A principal região a ser atingida por alagamentos na capital foi a área industrial do bairro Anchieta.

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Cena na orla do Guaíba em 22 julho | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Após um agosto mais seco do que o normal (99mm contra 140 mm da média histórica, segundo dados do Metroclima), as chuvas voltaram com força em setembro (204mm contra 139,5 mm da média) e outubro (262,mm contra 114,3mm).

Em setembro, o grande problema foi os dias consecutivos de chuvas. De acordo com a Defesa Civil do Estado, foram ao menos 45 municípios atingidos e cerca de 2,5 mil famílias afetadas pelas chuvas que afetaram o RS especialmente a partir da metade do mês.

Na esteira das chuvaradas, vieram as enchentes, que afetariam Porto Alegre especialmente a partir de outubro. No dia 12 de outubro, o nível do Guaíba medido no Cais Mauá atingiu o maior nível desde setembro de 1967, ao superar a marca de 2,83. Em razão das cheias, a prefeitura determinou o fechamento das comportas do Cais para prevenir o alagamento do centro da cidade – o que viria a reacender a discussão sobre a necessidade e efetividade do sistema de prevenção a enchentes da Capital.

No dia 17 de outubro, o Guaíba subiria ainda mais. Após fortes tempestades com ventos de até 129,6 km/h, atingiu a marca de 2,94 m, a maior marca desde a grande enchente de 4,76 m, que alagou grande parte do centro da cidade.  Desta vez, os principais afetados foram os moradores das ilhas e da zona sul de Porto Alegre. Ao redor do Estado, foram ao menos 60 os municípios atingidos.

| Foto: Caroline Ferraz / Sul21
Água atingiu nível recordes no Cais Mauá | Foto: Caroline Ferraz / Sul21

Exemplos de solidariedade 

Se a enchente atingiu patamares raramente antes vistos em Porto Alegre no mês de outubro, o mesmo pode se dizer da onda de solidariedade que tomou conta da cidade. Em razão das cheias, muitas famílias, especialmente das regiões das ilhas, precisaram deixar suas casas e se mudar para abrigos temporários das prefeituras ou improvisados pelos próprios moradores, locais que rapidamente se tornaram também centros de recebimento de doações.

No principal deles, o Ginásio Tesourinha, em Porto Alegre, o que se viu foi um verdadeiro exemplo da solidariedade da população. Por quase duas semanas, desde o início da manhã até o final da noite, carros faziam filas em frente ao portão do ginásio para descarregar alimentos, roupas, produtos de limpeza e outros materiais que as mais as centenas de famílias atingidas – muitas delas abrigadas no próprio ginásio por quase 10 dias – precisavam para enfrentar as tormentas. Um verdadeiro drive-thru de doações.

19/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Doações aos desabrigados lota ginásio Tesourinha e surpreende pela agilidade | Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Moradores da capital fizeram fila para doar aos desabrigados em outubro | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Mais chuvas antes da virada

Às vésperas do final do ano, novas chuvaradas no Estado. Mais de 40 cidades nas regiões da fronteira, missões e norte do Estado foram atingidas por enxurradas que afetaram a vida de mais de 2,2 mil famílias.

No dia 26, a presidente Dilma Rousseff sobrevoou áreas atingidas por enchentes no Estado e em Santa Catarina. No mesmo dia, o governo federal anunciou a liberação de R$ 6,6 milhões para os municípios afetados.

Confira mais fotos das chuvas ao longo do ano: 

15/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Chuvas afetam rotina dos moradores de Porto Alegre com ruas alagadas. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Cratera aberta pelas chuvas em outubro | Foto: Guilherme Santos/Sul21
15/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Chuvas afetam rotina dos moradores de Porto Alegre com ruas alagadas e árvores caídas | Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Porto Alegre sofreu com a queda de árvores em diversas oportunidades | Foto: Caroline Ferraz/Sul21
19/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Doações aos desabrigados lota ginásio Tesourinha e surpreende pela agilidade | Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Famílias inteiras se mudaram para o Tesourinha em outubro | Foto: Caroline Ferraz/Sul21
19/10/2015 - PORTO ALEGRE, RS, BRASIL - Doações aos desabrigados lota ginásio Tesourinha e surpreende pela agilidade | Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Doações aos desabrigados lotam ginásio Tesourinha | Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21
| Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Alagamento no bairro Anchieta, em julho | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora