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29 de dezembro de 2015
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20:20

Morte de liderança rural no Maranhão revela falha sistêmica do Estado brasileiro, diz Anistia Internacional

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Sul 21
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Morte de liderança rural no Maranhão revela falha sistêmica do Estado brasileiro, diz Anistia Internacional
Morte de liderança rural no Maranhão revela falha sistêmica do Estado brasileiro, diz Anistia Internacional
Antônio Isídio Pereira da Silva | Foto: Diogo Cabral / SMDH
Antônio Isídio Pereira da Silva | Foto: Diogo Cabral / SMDH

Da Redação*

Liderança rural que denunciava o forte desmatamento na área onde vivia, Antônio Isídio Pereira da Silva, da comunidade de Vergel, no interior do Maranhão, foi encontrado morto dia 24 de dezembro. Ele estava desaparecido desde o dia 20 deste mês. A Anistia Internacional afirma que o caso corre o risco de ficar impune e atenta para as ameaças que a família de Antônio e outras da região já vinham sofrendo há anos.

Para a Anistia, o assassinato de Antônio Isídio revela uma falha sistêmica das autoridades no enfrentamento dos conflitos no campo e na garantia de proteção às comunidades rurais e quilombolas no país. Apenas em 2014, 36 pessoas foram assassinadas em decorrência de conflitos no campo, segundo os dados da Comissão Pastoral da Terra.

 

A entidade afirma que, um dia antes de seu desaparecimento, Antônio Isídio havia dito que iria denunciar o forte desmatamento na área. Vergel é uma comunidade de pequenos agricultores e produtores rurais que enfrentam a pressão constante de “grileiros” e madeireiros que querem expulsá-los de suas terras. Antônio Isídio era uma das lideranças comunitárias que vinham denunciando essas ações nos últimos anos, sofrendo ameaças de morte e intimidações por conta disso.

“O assassinato de Antônio Isídio é revoltante. Foi uma tragédia anunciada. Nos últimos três anos denunciamos diversas vezes as ameaças sofridas por ele e a violência decorrente de conflitos agrários na região de Codó, no Maranhão. E as autoridades – em todos os níveis – não tomaram nenhuma medida para garantir a segurança dessas pessoas. O preço da inação do estado, como em tantos outros casos, foi a morte anunciada de Antônio Isídio. Isso é inadmissível”, afirmou Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil.

Não houve instauração de inquérito policial sobre o caso e a morte de Antônio Isídio não está sendo investigada. O registro de  óbito não foi feito e não foi realizada qualquer perícia sobre o corpo, que foi enterrado em uma “cova rasa” envolto em uma rede e um saco plástico. Por isso, a Anistia exige às autoridades estaduais e federais que garantam uma investigação adequada da morte, além de proteção imediata de seus familiares e da comunidade de Vergel e adotem medidas de longo prazo para acabar com a grilagem de terras, a extração ilegal de madeira e a violência decorrente dos conflitos agrários na região de Codó.

“Não podemos deixar que este caso fique impune. A não responsabilização dos casos de assassinatos de lideranças rurais alimenta o ciclo de violência no campo. As autoridades do estado do Maranhão devem garantir uma investigação imediata do caso. O Maranhão é um dos estados que apresenta maior número de pessoas mortas em decorrência de conflitos no campo e quase nunca há justiça para as lideranças assassinadas”, afirmou Roque.

Em parceria com a Comissão Pastoral da Terra no Maranhão, a Anistia Internacional acompanha este caso há cerca de três anos. Em 2013, a Anistia Internacional já havia denunciado as ameaças sistemáticas que Antônio Isídio e outras famílias da comunidade de Vergel vinham sofrendo. Em dezembro de 2012, um homem armado fez disparos perto da casa de Antônio Isídio matando os animais. Em Janeiro de 2013, a capela local foi queimada, impedindo que a comunidade fizesse as homenagens ao líder comunitário Raimundo Pereira da Silva, que foi assassinado em 2010. Desde então, várias ameaças de morte foram feitas à Antônio Isídio e à comunidade de Vergel.

O Programa Nacional de Proteção a Defensores de Direitos Humanos chegou a visitar a comunidade de Vergel em 2013 e a entrevistar Antônio Isídio. No entanto, nenhuma medida foi adotada para garantir a sua segurança.

As ameaças, ataques e assassinatos de trabalhadores rurais e lideranças comunitárias no campo são consequência do histórico conflito por terra e recursos naturais que assola o estado do Maranhão. À medida que a fronteira agrícola avançou para o interior, povos indígenas, quilombolas e comunidades rurais de pequenos agricultores no estado ficaram sob pressão crescente de grileiros de terra, fazendeiros e madeireiros ilegais. O conflito violento tem sido endêmico na região por muitos anos.

*Com informações da Anistia Internacional

 


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