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18 de setembro de 2015
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22:24

Pesquisa aponta alto índice de depressão e ansiedade entre bancários no RS

Por
Sul 21
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Pesquisadora da |UFCSPA apresentou dados sobre o problema verificado entre os bancários do Rio Grande do Sul | Foto: Guilherme Santos/Sul21
Pesquisadora da |UFCSPA apresentou dados sobre o problema verificado entre os bancários do Rio Grande do Sul | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Jaqueline Silveira

Dados apresentados na tarde desta sexta-feira (18) no Seminário Trabalho e Saúde Mental da Categoria Bancária, promovido pelo SindBancários apontaram um alto índice de profissionais com problemas de transtorno mental comum (TMC), que tem, entre outros sintomas depressão e ansiedade. A pesquisa, realizada em parceria entre o SindBancários e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), coletou dados, por meio de uma ferramenta online, de 1.117 bancários em todo o Estado, com idades entre 20 e 66 anos. Desse número, 53% eram mulheres, e 47%, homens. Do total de pesquisados, 90,2% responderam que percebem que o trabalho interfere negativamente nos outros segmentos de sua vida, e 50% já se afastaram do emprego por problemas de saúde.

Dos bancários ouvidos, 49,7% apresentaram sintomas do transtorno mental comum. “É um número bastante elevado, porque é praticamente a metade da amostra”, observou a professora de psicologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Mayte Amazarray, responsável pela pesquisa. O índice é superior à média verificada na população mundial, que é de 30,2%. Entre os 49,7% que sofrem do TMC, a maior incidência é registrada nas mulheres: 55,7%. Em relação aos homens, o percentual é de 43,6%.

Dados revelam que 49% dos bancários apresentam transtorno mental comum | Foto: Guilherme Santos/Sul21
Dados revelam que 49% dos bancários apresentam transtorno mental comum | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Trabalhadores de bancos privados são mais afetados

O problema, de acordo com a pesquisa, atinge mais os trabalhadores de bancos privados: 70,4%, enquanto os públicos respondem pelo índice de 45,5%. “Está muito mais elevado nos bancos privados e isso tem a ver com o medo e a insegurança. O emprego está relacionado com uma boa produtividade, as equipes são cada vez mais enxutas, há sobrecarga de trabalho”, explicou a professora da UFCSPA. Os dados revelam também que os empregados das instituições privadas comparados aos das públicas pensam com mais frequência em pedir demissão, apresentam maior temor de ser mandado embora, tendem a abrir mão de valores éticos, em virtude das atividades do trabalho, além de acreditar que o patrão respeita menos seus direitos trabalhistas.

A pesquisa revelou, ainda, que 26,3% dos bancários consultados afirmaram usar pelo menos um tipo de medicamento psiquiátrico. Dentro desse percentual, 48% tomam remédios para depressão e 27,8%, para a ansiedade. Dos trabalhadores que utilizam esse tipo de medicação, 40% atribuem o uso ao trabalho. Os bancários também afirmaram que o transtorno mental comum é reflexo de problemas na organização, nas condições e nas relações de trabalho. Nesse contexto, apontam, entre outros motivos, a cobrança de metas, assaltos, dano moral e estresse.

Cobranças à Febraban e às agências

Presidente do SindBancários, Everton Gimenis disse que, inclusive, esta semana foram cobradas providências para melhorias nas condições de trabalho à Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em encontro realizado em São Paulo. Na oportunidade, foram apresentados os números nacionais em relação ao transtorno mental comum entre os bancários. Ele avaliou que o avanço que ocorreu foi que a Febraban reconheceu que há “um adoecimento nos bancos”, contudo, a federação alegou que cada instituição bancária tem seu próprio método de gestão, o que traria dificuldades para mudanças.

Os números no país, conforme Gimenis, são parecidos com os do Rio Grande do Sul. O presidente do sindicato também destacou que, nesta semana, ao sentarem à mesa de negociação com o Banrisul, apresentaram os números do Estado e fizeram as mesmas cobranças. “Não tem como não adoecer com tanta pressão, com o estabelecimento de metas inatingíveis, o bancário é um vendedor”, argumentou o dirigente sindical. De acordo com ele, o SindBancários tem “atuado em várias frentes” para amenizar a situação vivida pela categorias. Além das negociações com os bancos, Gimenis afirmou que o sindicato elabora dossiês sobre os problemas e encaminha ao Ministério Público do Trabalho, ingressa com ações e combate “as metas abusivas” impostas aos bancários.

Assessora Jurídica do Sindcato dos Bancários do Paraná, Jani Gizzi também apresentou dados sobre os problemas no Estado vizinho | Foto: Guilherme Santos/Sul21
Assessora Jurídica do Sindcato dos Bancários do Paraná, Jani Gizzi também apresentou dados sobre os problemas no Estado vizinho | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Compartilhamento de experiências

Assessora jurídica do Sindicato dos Bancários do Paraná, Jane de Bueno Gizzi também abordou o tema, principalmente em relação ao assédio moral. “O valor do trabalhador é medido exatamente pelo que ele produz. É uma medida injusta e desonesta com certeza”, observou a advogada. A entidade sindical, auxiliada por uma assessoria técnica, fez um estudo envolvendo bancários do HSBC de Curitiba, banco responsável por uma grande demanda trabalhista na Justiça do Trabalho. A análise ocorreu entre 2008 e 2013 a partir das homologações de rescisões feitas no sindicato.

Ao total, foram analisadas as situações de 3.904 trabalhadores desligados do HSBC. Desse número, 1.476 mencionaram problemas de saúde. Dessa parcela, 38% afirmaram ter se afastado do trabalho por questões de saúde, entre elas, por estresse e depressão.

A mesma equipe realizou uma análise com base nas ações trabalhistas ingressadas, entre 2011 e 2103, pelos bancários desligados do HSBC. Das 1.587 demandas trabalhistas, 893 pediram indenização por danos morais. Desse número, 832 reclamaram, segundo a assessora jurídica, de “métodos assediosos” nas relações de trabalho.

Números de suicídios no país

Por fim, a advogado apresentou alguns números do Ministério da Saúde relacionados a suicídios de bancários. Entre 2008 e 2103, 56 bancários se suicidaram no país e maioria envolve homens. São Paulo e Paraná registram o maior número de casos: 13 cada um. Já no Rio Grande do Sul registrou cinco suicídios nesse período.

Coordenador regional do Programa Trabalho Seguro lançado do Tribunal Superior do Trabalho (TST), desembargador Raul Sanvicente informou durante o seminário que em 2016 o foco do programa será a saúde do trabalhador.

Dados na pesquisa realizadas com bancários no Estado

Número de participantes – 1.117

Por regiões

Missões – 4,6%

Centro – 8,6%

Fronteira – 1,9%

Serra – 8,8%

Porto Alegre – 68,8%

Sul – 4,1%

Outras – 3,1%

Por sexo

Mulher – 53%

Homem – 47%

Por banco

Bancos Privados – 70,4%

Bancos públicos – 45,5%

Casos de transtorno mental comum (TMC)

Dos 1.117 bancários consultados, 49,7% apresentam TMC

55, 7% são mulheres

43, 6% são homens

70,4% dos bancários afetados são de bancos privados

45,5% dos bancários afetados são de bancos públicos

Uso de medicamentos psiquiátricos

26,3% responderam que usam pelo menos um tipo de medicamento psiquiátrico

Nessa parcela, 48% tomam medicamentos antidepressivos e 27,8%, para ansiedade


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