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12 de maio de 2015
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12:09

Morre o radialista e ex-vereador Lauro Hagemann

Por
Sul 21
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Foto: Fabiano do Amaral / CP Memória
Foto: Fabiano do Amaral / CP Memória

Da Redação

Político e radialista — uma das vozes mais importantes do rádio do Rio Grande do Sul –, Lauro Hagemann faleceu na noite desta segunda-feira (11),  aos 84 anos, no Hospital Mãe de Deus, onde estava internado havia 15 dias.

Nascido em Santa Cruz do Sul, Hagemann foi o locutor do Repórter Esso, na rádio Farroupilha, e da Rádio da Legalidade, quando o sinal da Rádio Guaíba foi encampado pelo governo do Estado por Leonel Brizola. Depois, Hagemann trabalhou por anos na Guaíba.

Hagemann nasceu em Santa Cruz do Sul, no ano de 1930. Descendente de alemães, a trajetória de Hagemann está marcada tanto pela política quando pelo radiojornalismo, sendo que, em muitos momentos de sua vida, as duas áreas se integraram.

O início de sua carreira desse em 1946 em sua cidade de origem. Depois de se aventurar com os colegas de escola no alto-falante da cidade, Hagemann foi convidado a trabalhar na recém inaugurada Rádio Santa Cruz. Esse veículo foi o primeiro a integrar as emissoras que Arnaldo Balvé e seus associados constituiu no interior do Estado.

Em 1950, Hagemann veio para Porto Alegre, com o objetivo de fazer o curso de Direito. A primeira coisa que fez ao chegar foi procurar um emprego em uma rádio, já que era a única coisa que sabia fazer. No dia 28 de fevereiro de 1950 fez um teste na Rádio Gaúcha para locução comercial, mas foi reprovado. Nesse mesmo dia, o diretor da Rádio Progresso de Novo Hamburgo o convidou para compor a emissora, onde permaneceu por três meses.

No ano de 1952, quando foi criada a Petrobras, Hagemann estava concluindo os estudos no Colégio Júlio de Castilhos, o Julinho, tradicional centro de agitação política em Porto Alegre. Logo a seguir, em 1955, já na segunda turma da Faculdade de Jornalismo da Universidade do Rio Grande do Sul, foi eleito presidente da União Estadual de Estudantes (UEE), que congregava todos os centros acadêmicos do estado.

Hagamann como Repórter Esso
Hagamann como Repórter Esso

Quando saiu o concurso para Repórter Esso, da Rádio Farroupilha, Hagemann se inscreveu, mas não achava que se tornaria o principal locutor. Para o radialista, a emissora colocaria algum de seus locutores, mas, ao menos, poderia ser aproveitado em alguma vaga para locução comercial. Para sua surpresa, no dia 1º de junho de 1950, Lauro saía da Rádio Progresso de Novo Hamburgo para estrear como Repórter Esso, função que desempenhou por aproximadamente 14 anos, até a extinção do programa.

Dois fatos importantes marcaram a história nacional, de 1950 a 1964, durante o período em que permaneceu como Repórter Esso. Primeiro, o suicídio de Getúlio Vargas, que foi um dos motivos do incêndio da Rádio Farroupilha, em 1954. O outro acontecimento, a Cadeia da Legalidade, formada em 1961. Na época, a Rádio Guaíba cedeu equipamentos para a utilização na campanha que lutava pela posse de Jango na Presidência da República. Os manifestos e as notícias eram transmitidos do porão do Palácio Piratini por funcionários e jornalistas do governo. E Hagemann resolveu utilizar seu prestígio em nome da causa. No dia 27 de agosto, ele se apresentou no Palácio, incorporando sua voz à Cadeia da Legalidade. A partir daí, colegas de outras emissoras que estavam sem trabalhar, — afinal, todas as rádios permaneceram fora do ar –, se integraram ao movimento. A Legalidade fez com que os profissionais percebessem a necessidade da categoria se manter unida. Observando a mobilização da sociedade, obtida pela Cadeia da Legalidade, foi fundado o Sindicato dos Radialistas, em 1963. Em virtude do trabalho desenvolvido em prol da categoria dos radialistas, foi eleito seu primeiro presidente.

Hagemann durante o período da Legalidade
Hagemann durante o período da Legalidade

O trabalho realizado no Sindicato dos Radialistas, além de uma viagem à União Soviética, fizeram com que se aproximasse do então ilegal Partido Comunista Brasileiro. Ainda em 1963, inscrito pelo PSB [Partido Socialista Brasileiro], que estava coligada com o PR [Partido Republicano] e juntos formavam a famosa Aliança Republicano Socialista, Hagemann foi candidato a vereador de Porto Alegre pela primeira vez, sendo eleito como suplente e assumindo o mandato mais tarde, em maio de 1964, em meio ao golpe militar.

Dois anos depois, foi eleito deputado estadual pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), caminho natural da oposição no bipartidarismo imposto pelo novo regime. Suas idéias o fizeram ser cassado em 1969, por efeito do Ato Institucional nº 5 (AI-5).

No mesmo ano, voltou ao radiojornalismo através da Rádio Guaíba. Além da Farroupilha e da Guaíba, trabalhou também na Rádio Pampa e na Rádio da Universidade, na qual ingressou em 1957 e resultou na criação do Departamento de Jornalismo, que exigia o diploma universitário para conceder o registro profissional.

Já no fim da ditadura militar, presidiu o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, de 1980 a 1982, ano em que é eleito vereador pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Após a legalização do PCB, em 1985, integrou a primeira bancada comunista da Câmara Municipal de Porto Alegre.

hagemanComo vereador da Capital Gaúcha, de 1983 a 2000, teve destacada atuação na área do urbanismo, dando grande contribuição ao aperfeiçoamento do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (PDDUA), sendo escolhido com Relator Sistematizador do PDDUA de 1999, inserindo na legislação municipal importantes instrumentos urbanísticos, dos quais se destacam o Banco da Terra, o Solo Criado, o IPTU Progressivo e a Concessão do Direito Real de Uso (CDRU). Mais tarde, quando foi instituído o Estatuto da Cidade, Lei n° 10.257, em 2001, alguns destes instrumentos foram aproveitados em nível nacional, demonstrando a importância e a primazia da legislação de Porto Alegre no cenário nacional.

Durante os anos de 1985 a 1991, integrou o Diretório Nacional do PCB, disputando inclusive a presidência nacional do “Partidão”, tendo como concorrentes nas outras duas chapas Roberto Freire e o arquiteto Oscar Niemeyer. Em 1991, participa do Congresso Extraordinário do PCB, onde o partido decide mudar seu nome para Partido Popular Socialista (PPS), optando por deixar a sigla em 2001.

Em outubro de 2007, retornou ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), legenda pela qual tinha sido candidato a vereador em 1963 e exerceu mandato, de 1964 a 1966.

Hagemann foi uma referência ética para os radialistas e os jornalistas do Rio Grande do Sul. Mesmo afastado da área de comunicação, era um profissional muito respeitado em nosso estado.

 

 


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