Eleições na Argentina
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28 de outubro de 2019
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17:11

“O Sol apareceu para todos”, diz jornal argentino sobre vitória de Fernández

Por
Luís Gomes
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Capa dos jornais Página12 (esq.) e Clarín (dir.) nesta segunda-feira | Foto: Luís Eduardo Gomes/Sul21

Luís Eduardo Gomes
Direto de Buenos Aires

A capa do Página12, tradicional jornal ligado a sindicatos de trabalhadores da Argentina, traz como manchete “O sol apareceu para todos” nesta segunda-feira (28), dia seguinte a consagração de Alberto Fernández como presidente da Argentina. A chamada faz referência ao símbolo da Frente de Todos, composição que Fernández e sua futura vice Cristina Kirchner lideraram nesta eleição, e o fato de que a troca de governo representa uma esperança para a população argentina de que o país possa sair da grave crise econômica em que se encontra.

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Já a principal matéria interna do jornal traz como manchete “O governo voltou às mãos do povo”, destacando o caráter mais popular de Fernández em comparação com o atual presidente Maurício Macri, que tocou nos últimos quatro anos uma agenda econômica voltada para atender os pedidos do mercado financeiro, o que resultou em alta da inflação, desvalorização do peso, queda no PIB e aumento da pobreza. O aumento da fome esteve no centro da campanha eleitoral, com Fernández prometendo enfrentar a questão sob uma “nova lógica”.

Por outro lado, o Clarín, um dos principais jornais da chamada imprensa tradicional argentina, adotou um tom bem mais sóbrio na cobertura. “Alberto, presidente”, diz a chamada, que destaca ainda o resultado de 48,1% a 40,36% das urnas — na Argentina, são necessários 45% dos votos para vencer a disputa em primeiro turno. O tom mais distante é adotado em toda a cobertura interna. A principal reportagem traz a chamada: “Alberto Fernández ganhou de Macri em primeiro turno e o kirchnerismo volta ao poder”. O jornal também destaca que um dos primeiros passos do presidente eleito será implementar um “Pacto Social” e um plano contra a fome para enfrentar a urgente crise alimentar do país.

Para além da vitória, o jornal dá grande destaque para a decisão do Banco Central, tomada ainda na noite da eleição, de restringir a compra de dólares mensais a US$ 200 para cada pessoa física, uma redução de 98% ante o limite anteriormente estabelecido em setembro, US$ 10 mil. Com a medida, o banco espera conter a volatilidade da moeda que era prevista em caso de derrota de macri, o candidato preferido do mercado financeiro. O jornal ainda traz uma grande matéria de análise sobre a derrota de Macri com a chamada “O governo que não foi ou a oportunidade desperdiçada”, em que destaca que o presidente de viés neoliberal cometeu uma série de erros, fixou-se demasiadamente na agenda de austeridade e não apresentou um plano de desenvolvimento para o país. Destaca ainda que o governo desandou a partir da vitória das eleições legislativas de 2017, vencidas pelos governistas, mas sucedidas por um aprofundamento da crise econômica.

Na manhã desta segunda, Fernández foi a Casa Rosada, sede do governo, para participar da primeira reunião com Macri do processo de transição. A troca de bastão está marcada par ao dia 10 de dezembro. Os dois conversaram por cerca de uma hora e o presidente eleito deixou o local sem falar com a imprensa, apenas acenando para simpatizantes que se aglomeravam no local.

Durante a manhã, o dólar mantinha praticamente a mesma cotação da última sexta-feira (25), sendo cotado a 65 pesos na Bolsa, o que indica que a desvalorização prevista ainda não veio. A reportagem do Sul21 observou pequenas filas nas casas de câmbio do centro de Buenos Aires.

 

A equipe do Sul21 viajou a Buenos Aires para a cobertura das eleições presidenciais graças a um financiamento coletivo dos nossos leitores.


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