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28 de julho de 2016
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11:33

Existem Riscos de uma Tragédia Alimentar?

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Sul 21
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Existem Riscos de uma Tragédia Alimentar?
Existem Riscos de uma Tragédia Alimentar?

Por Frei Sérgio Görgen

Podemos estar entrando nas consequências já visíveis de uma crise civilizatória de proporções imprevisíveis.

Quais as consequências para a subsistência alimentar da humanidade?

Notícias em várias partes do mundo dão conta de uma crise alimentar e do aumento do preço dos alimentos. Mas a tragédia alimentar ainda não começou. Por enquanto, é apenas uma redução de estoques estratégicos de alimentos que gera especulação e aumento de preços, aliada a uma pressão de custos de produção agrícola puxados pelo preço dos insumos químicos, das sementes e da cobrança de royalties, o custo cada vez maior do fosfato e do potássio com o esgotamento das minas, e o aumento do uso de venenos agrícolas pela resistência biológica de plantas, insetos e fungos prejudiciais à produtividade agropecuária.

Estamos assistindo a uma crise conjuntural, e que é o primeiro sintoma de uma crise estrutural. A tragédia vai chegar, embora não se possa prever com precisão em quanto tempo. O que estamos vendo é o primeiro sinal, o primeiro pedaço de gelo visível de um enorme iceberg. E não se pense que se trata de palavras de algum profeta de catástrofes ou garimpeiro de desgraças. Bom seria. Aí, bastaria desqualificar o autor e o mundo seguiria tal e qual, ajustando-se aos novos patamares do mercado.

O que está em movimento é uma crise geral de abastecimento alimentar da população em todo o mundo, com consequências imprevisíveis. Isto vem sendo alertado por muita gente qualificada há bastante tempo (José Lutzenberger e Ana Maria Primavesi, só para citar dois brasileiros), mas sem encontrar eco no status quo dominante que conduz as políticas agrícolas em todo o mundo, inclusive no Brasil. Pelo contrário, todos os vetores que levam à insustentabilidade na produção de alimentos no mundo foram reforçados e reafirmados. A cegueira política e técnica é generalizada entre os formuladores de políticas para a agricultura. A visão predominante só tem olhos para o lucro, para o livre comércio e para as tecnologias controladas pelas transnacionais e dependentes da indústria química e do petróleo.

Mas se há a previsão, num horizonte próximo, de uma tragédia alimentar – escassez generalizada de alimentos – qual é a base desta argumentação e desta previsão? Três linhas de raciocínio levam a esta conclusão:

1º – O esgotamento tecnológico e energético da agricultura industrial;

2º – O monopólio dos mercados agroalimentar, agromadeireiro, agroenergético, agrotêxtil, agrobioquímico e agropneumático nas mãos de um pequeno grupo de grandes empresas transnacionais;

3° – Efeitos da crise do clima e do aquecimento global instabilizando a produção de alimentos – secas, excesso de chuvas, temporais, granizo e outros eventos extremos.

A tragédia alimentar virá com a crise aguda do modelo de agricultura industrial implantado no mundo todo a partir da segunda guerra mundial (classificado na história da agricultura como “Revolução Verde”), e controlada através de um pequeno grupo de grandes empresas transnacionais exclusivamente movidas pela lógica imediatista da rentabilidade do capital financeiro nelas investido. Esta lógica mercadológica é destrutiva das bases produtivas de alimentos, sejam as humanas e/ou as ambientais.

Os sintomas são de um paradigma superado e de uma ameaça à segurança alimentar da humanidade.

Uma agricultura camponesa, intensiva em trabalho e baseada na agroecologia, produzindo alimentos saudáveis, diversificados e em equilíbrio com os agroecossistemas, é o que se aponta para o futuro da humanidade e o Brasil poderá ter um papel decisivo neste cenário.

.oOo.

Frei Sérgio Antônio Görgen é missionário Franciscano no Assentamento Conquista da Fronteira. Onde junto à Fraternidade Padre Josimo atuam em favor dos pequenos agricultores e dos movimentos sociais.


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