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13 de maio de 2014
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10:50

Emboscada e Traição

Por
Sul 21
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Emboscada e Traição
Emboscada e Traição

Operação da Polícia Federal que prendeu lideranças kaingangues em Faxinalzinho durante uma audiência desmoraliza os governos Tarso e Dilma. Outro não foi o resultado da ação policial. As duas esferas de poder chancelavam a conferência, cercada e invadida pelo aparato de captura.

A ordem de prisão poderia ser cumprida em qualquer lugar, em sigilo e sem estardalhaço, com resultados desmoralizante e constrangedor às reivindicações indígenas. A prisão foi cênica, não para resolver um problema pretensamente criminal, mas para atingir a representação indígena em um momento de trégua chancelada pelo Estado.

A motivação da Política Federal inábil, posicionada, com resultados desmoralizantes aos kaingangues? Certamente. Ascendeu os pavios dos foguetes grileiros pirotécnicos no Alto Uruguai após a retirada triunfal das viaturas com os “criminosos”. A carreata cinematográfica e triunfal prosseguiu até Passo Fundo, animada pelas emissoras de rádios dos intrusos, levando para as margens das rodovias e calçadas das cidades por onde passaram os aplausos odientos e “vitoriosos” pela prisão dos “índios criminosos.”

A operação concretamente ovacionou os inimigos dos indígenas. Prisões podem ser realizadas em diversos momentos, principalmente porque a Polícia Federal possuía os nomes que apontava como suspeitos. Entretanto, ali no centro de Faxinalzinho não havia um covil de criminosos. Transcorria uma reunião convocada pelos governos federal e estadual. O que se encontrava naquele ambiente era a representação de um povo e parte de sua coletividade, atraídos pelos governos Dilma e Tarso. Constrangidos, seus representantes ficaram sem ação, gerando apenas pequeno protesto pela inoportunidade policial.

Historicamente, isto chama-se emboscada, não reconhecer a representação indígena em um evento convocado pelo Estado. É a mais sórdida traição! Mesmo existindo dúvidas quanto ao aspecto jurídico, moral e politicamente, a ação de governo pactua uma esfera de liberdade – de salvo-conduto – durante a realização da conferência, em cuja mediação e interesse público, o Estado garante a sua realização. Isto não dirime possíveis culpas e a apuração de fatos. Entretanto, naquele instante todos estavam protegidos e garantidos pelos governos, os quais foram desconhecidos como representantes de Estado. Conforme declaração do delegado de Passo Fundo, as “prisões foram um presente para as mães” dos agricultores mortos quando forçaram a passagem na barreira indígena pela remarcação das terras kaingangues.

Quem manda é o delegado governador Tarso Genro e presidenta Dilma.

Tau Golin é jornalista e historiador.


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