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30 de setembro de 2018
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14:18

As mulheres em rede deram a linha contra o fascismo

Por
Sul 21
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As mulheres em rede deram a linha contra o fascismo
As mulheres em rede deram a linha contra o fascismo
Milhares se reuniram na Redenção em ato organizado por mulheres contra Bolsonaro. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Tarso Genro (*)

Ontem, sábado, 29 de setembro, sedimentou-se no Brasil uma experiência original e revolucionária. As mulheres organizadas nas suas instituições de luta -a ampla maioria destas “por fora” dos partidos de esquerda e centro-esquerda que integram o espectro político do país – indicaram os rumos de uma Frente Unitária contra o fascismo. E o fizeram resgatando um elemento vital das lutas emancipatórias, o internacionalismo democrático, que substitui a visão do internacionalismo proletário generoso, ora derrotado pela globalização financeira. É a mesma globalização que fez das comunidades operárias do mundo múltiplos fragmentos de grupos concorrentes por empregos mal remunerados em prováveis montadoras da fronteira mexicana ou nos confins do oriente.

Aquilo que o “classismo” não conseguira fazer, até então, através dos seus sindicatos mais lutadores, ainda atônitos pelo golpismo – subordinados a demandas mais economicistas do que propriamente políticas- as mulheres o fizeram com maestria, inteligência e mobilização em rede. E mais: ao mesmo tempo que a sua presença nas ruas jogava um conjunto de elementos altamente politizadores no contexto atual  – modo de vida, respeito à condição sexual de cada um, confronto com a misoginia, com o tratamento remuneratório desigual no emprego ou na atividade, bloqueio do racismo e do sexismo – as mulheres concentraram seu desafiante protagonismo no processo eleitoral. E o fizeram por “exclusão”.

Exclusão  daquele que encarna o novo espírito de época da reação burguesa autoritária, em todos os seus poros: “ele”, o que não pode vencer. Porque a sua vitória seria a destruição da democracia, do respeito mínimo aos direitos humanos, da neutralidade formal do Estado. Seria a instauração da uniformidade social que só é possível pela força, tanto daquela manipulatória da informação como da que vem  pela energia maligna de grupos organizados que, à margem do Estado, já começaram a atacar tanto exposições de arte, como agredir aqueles que imaginam diferentes de si. Ou simplesmente agridem os que são objeto do seu ódio político de classe, que pode se tornar dominante na mente de todas os opressores de todas as cores e de todas as “raças”.

A luta entre as classes, para desenhar um futuro de paz e  tolerância no âmbito da democracia política no Brasil, passa pela formação de um Frente Antifascista que pode atravessar, em parte,  todas as classes sociais, pois o fascismo em Estado “puro” não tem somente uma visão de uma economia “pura”, para organizar as hierarquias sociais a partir do trabalho. Ele tem, igualmente, uma visão de “modo de vida”, de como interferir no cotidiano dos indivíduos para colocá-los subordinados -sem restrições- ao que um “líder” entende como moralidade e espírito público. Isto não vencerá.

As mulheres do Brasil deram a linha unitária para a nossa regeneração democrática a partir de um pluralismo em rede, cujos nós ataram consciências livres de vínculos com aparatos burocráticos. Este pluralismo compôs pela base, na vida real, a Frente que os partidos  com seus métodos de direção tradicionais não souberam compor, mas que – a partir de hoje – serão chamados a admitir. Os partidos, assim corrigidos por estes coletivos plurais infinitos disseminados no planeta, não se omitiram, é verdade. Estiveram juntos. Que saibamos deliberar, ora em diante, sabendo que os partidos serão maiores e mais fortes se o futuro da democracia e da emancipação souberam colher suas luzes lutando. Lutando como uma garota.

(*) Tarso Genro foi Governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, Ministro da Justiça, Ministro da Educação e Ministro das Relações Institucionais do Brasil.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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