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13 de agosto de 2020
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17:21

A falência do neoliberalismo gaúcho

Por
Sul 21
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A falência do neoliberalismo gaúcho
A falência do neoliberalismo gaúcho
Governador Eduardo Leite (PSDB) . Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini

Sergio Araujo (*)

A hiperinflação que empobreceu os brasileiros durante as décadas de 80 e 90, foi utilizada por muitos governantes que tiveram suas campanhas impulsionada com dinheiro privado para justificar a necessidade de substituir o Estado, enquanto indutor de desenvolvimento econômico e social, pelo liberalismo econômico. O neoliberalismo, como ficou conhecido internacionalmente. E a explicação simplista era de que os serviços públicos nas mãos da iniciativa privada teriam mais e melhores resultados. Duas décadas e meia após o término do período inflacionário, o que se constata é que tudo não passou de uma estratégia para enriquecer ainda mais quem já era rico e empobrecer ainda mais quem já era pobre.

Por conta da promessa desse milagre econômico, diversos presidentes, governadores, prefeitos e políticos conseguiram se eleger. Foi o que aconteceu no Rio Grande do Sul, onde a partir de 1994, cinco dos sete ocupantes do Piratini foram e são adeptos do liberalismo econômico. A exceção ficou por conta dos petistas Olívio Dutra e Tarso Genro. Ou seja, se os graves problemas que impediam o crescimento e o fortalecimento da economia gaúcha não foram solucionados, não foi por falta de tempo ou de oportunidade. E nem de apoio, pois tanto os principais veículos de comunicação, como a Assembleia Legislativa e os grandes empresários, não só foram parceiros como incentivadores da redução da máquina pública e da supressão de direitos e de conquistas dos servidores estaduais. Vejamos.

Britto, Rigotto, Yeda, Sartori e agora Eduardo Leite, canibalizaram a estrutura do Estado ao máximo. Extinguiram e privatizam autarquias; concederam serviços públicos à iniciativa privada; promoveram a demissão voluntária e não substituíram servidores que se aposentaram ou foram demitidos; congelaram salários e efetuaram seus pagamentos de forma parcelada (atualmente por mais de CINCO anos consecutivos); extinguiram conquistas trabalhistas; aumentaram as alíquotas de desconto do IPE-Previdência e do IPE-Saúde; e muito mais, sem que isso mudasse significativamente a realidade financeira do Estado, permitindo mais investimentos nas áreas prioritárias da educação, saúde, segurança e infraestrutura.

Aliás, aumentar impostos é outra característica marcante dos governos liberais, o que prova que suas insensibilidades sociais não se restringem apenas aos trabalhadores, mas também aos contribuintes e aos produtores e empreendedores de pequeno e médio porte. Preparemo-nos, pois, para mais, pois vem aí a reforma tributária.

Da mesma forma, a recessão provocada pela pandemia – que certamente será usada como desculpa para as maldades econômicas que já devem estar sendo gestadas, como o desejo não mais secreto de extinguir a estabilidade no serviço público -, acabará prejudicando prioritariamente a classe trabalhadora e os mais pobres. Porque para os ricos e poderosos, como os banqueiros e rentistas, crise financeira é vista como uma chance de ampliar a lucratividade, seja extorquindo endividados, seja manipulando políticos inescrupulosos.

É por isso que o caminho da superação passa pela defesa da democracia, pelo respeito à Constituição e pelas urnas. Porém, não dá mais para tratar uma eleição como um casuísmo, ou um compromisso forçado, que acontece a cada dois anos. Eleição não é obrigação, é oportunidade. De mudar. De melhorar. De reagir. Essa é a mensagem que políticos e candidatos de oposição precisam repassar aos gaúchos nesta e nas próximas eleições, fazendo-os se darem conta de que insistir na fórmula fracassada do neoliberalismo, elegendo seus representantes, é estimular frustrações e semear desesperança.

E preciso alertá-los, ainda, para o cuidado com os aproveitadores de plantão que, surfando na onda do conservadorismo de extrema direita e do saudosismo do regime militar, procurarão iludir, novamente, os eleitores incautos. E dizer clarament6e que de nada adianta substituir a utopia neoliberal por profissionais da politicagem, saudosistas do regime de exceção e outros aproveitadores de ocasião. Na política, mais que em outras áreas, não existe “salvador da pátria”.

Por isso, muita cautela com quem procura se eleger ou se reeleger com promessas milagrosas, ou usando o ódio como instrumento de persuasão. Um homem com aptidão verdadeiramente pública promete esforço, dedicação, trabalho e comprometimento em ajudar as pessoas. Todo o resto é mito e/ou parasita, não serve para nada.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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