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26 de junho de 2020
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19:18

Verdade e mentira, uma dicotomia que decide eleições e destinos

Por
Sul 21
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Verdade e mentira, uma dicotomia que decide eleições e destinos
Verdade e mentira, uma dicotomia que decide eleições e destinos
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Sergio Araujo (*)

“Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?”
Bertolt Brecht

Não. Não foi a desilusão com as praticas da chamada “velha política” que nos levou a situação em que nos encontramos. Foi a desinformação. Não aquela que reflete a ausência de conhecimento, mas aquela que desconstitui o conhecimento, por mais raso que ele seja. Foi ela, a desinformação, que colocou no posto mais alto da República o mais despreparado e desprezível presidente da história contemporânea do Brasil e encheu os plenários legislativos com o que há de mais atrasado no país.

Foi ela que, dissimuladamente, corroeu as entranhas do eleitor desiludido com os rumos da sua vida e o fez votar naquilo que se julgou ser a solução mágica para todos os problemas. E o pior de tudo é que mesmo com a decepção gerada pelas más escolhas, a estratégia da mentira disfarçada de desinformação continua vigorando e fazendo novas vítimas. São as fake news, ou em outras palavras, as fábricas de notícias falsas.

Pois bem, apesar de desmascaradas, o certo é que as fake news continuam atuando e gerando seguidores que não apenas apoiam as teses absurdas apresentadas como verdadeiras, como as compartilham com seus amigos através das redes sociais, gerando um exército transloucado de formadores de desinformação. A má notícia é que daqui há quatro meses e meio teremos eleições municipais.

E por que o pessimismo? Porque a Internet se transformou na principal ferramenta de campanha. Se antes o rádio e a TV exerciam grande influência na decisão do eleitor o fato é que eles perderam o posto para as redes sociais. Atualmente cerca de 140 milhões de brasileiros tem acesso à Internet, o que equivale a dois terços de toda a população, a imensa maioria portadora de telefone celular. Ou seja, com acesso à Internet nas 24 horas do dia.

E o que isso representa de ameaça? Que temos pouco tempo para tentar obstaculizar os efeitos nocivos das fake news. Ainda mais quando uma pandemia atrai toda a atenção e faz com que as pessoas se alienem de qualquer outro assunto, mesmo em ano eleitoral. Ou seja, corremos o risco de vermos, mais uma vez, a formatação de uma nova leva de políticos despreparados e mal-intencionados.

O que fazer então? Bem, como os operadores de aplicativos de mensagens não conseguem desenvolver um sistema que impeça o mau uso das redes sociais, dentre elas as fakes news, e a Justiça e o Legislativo não conseguem promover medidas moralizadoras, a solução está no próprio usuário. Claro que me refiro aos democraticamente responsáveis e aos socialmente conscientes.

A começar por repor a verdade em seu devido lugar. Silenciar é omitir-se e bater-boca virtualmente é chover no molhado. A saída mais eficaz para o momento, portanto, é entrar no jogo, entender as regras, conhecer as táticas, e criar uma estratégia que sirva de contraponto ao mundo ilusório vendido pelos profissionais do embuste. O que equivale dizer, usar a própria Internet como antídoto.

E não é difícil. O Google serve como facilitador. Nele podemos encontrar o passado de qualquer candidato, sua trajetória como político e cidadão, desde opiniões contraditórias até omissões em temas importantes; imagens comprometedoras; condenações e malfeitos diversos. E postar, com provas, fatos e testemunhos inquestionáveis. Pode parecer pouco, mas é muito em se tratando da defesa de algo que não pode mais ser subestimado: a defesa da democracia. Sem ela – e já vimos isso – a mentira passa a ser verdade única e a esperança, definitivamente, se transforma em dor e lágrimas. Então mãos à obra. Parafraseando a frase do grande poeta Fernando Pessoa, “postar é preciso, viver não é preciso”.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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