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3 de abril de 2020
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13:51

Se depender dele só vai piorar (por Sergio Araujo)

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Se depender dele só vai piorar (por Sergio Araujo)
Se depender dele só vai piorar (por Sergio Araujo)
Foto: Reprodução/Twitter

Sergio Araujo (*)

“O que que eu sou, que que eu sou, que que eu sou? Sois rei! Sois rei!”
Reizinho, personagem de Jô Soares

“O presidente sou eu”.
Jair Bolsonaro

No momento em que a humanidade encontra na solidariedade a solução para o combate de uma pandemia viral de grandes proporções, transformando positivamente relações familiares e alterando comportamentos discriminatórios, pois o COVID-19 não faz distinção de raça, credo, idade, sexo e condição econômica, o Brasil tem a desventura de ter no comando do país um anti-líder, alguém que age como um negacionista e que pensa e atua como um inquisidor medieval, duvidando da ciência, acreditando em mitologia e praticando caça às bruxas.

Opositor de ações consideradas como eficazes no combate ao COVID-19, como o isolamento caseiro durante a fase de contágio do novo vírus, defendidas pela Organização Mundial da Saúde, especialistas de renome internacional, a imensa maioria dos presidentes de outros países e até mesmo do seu ministro da Saúde, Jair Bolsonaro se nega a enxergar o óbvio, preferindo a intimidade do seu mundo paralelo das trevas.

Em seus devaneios irresponsáveis, trata as mortes pelo COVID-19 como fatalidade. “Alguns vão morrer? Vão, ué, lamento. Essa é a vida”, disse ele em uma entrevista de televisão. Da mesma forma, estimula movimentos de empresários que estão mais preocupados com o lucro perdido do que com a vida das pessoas para que pressionem governadores e prefeitos para a retomada da atividade comercial.

Na contramão dos fatos e dos acontecimentos, impactado pela perda de credibilidade, declínio nas pesquisas de opinião, e observando o crescimento dos adversários, Bolsonaro tenta amenizar o discurso do quanto pior melhor na tentativa de recuperar o terreno perdido. E usa fartamente o espaço gratuito de rádio e televisão para isto. Verdadeiro como uma nota de três reais, os sinais de boa vontade e de serenidade demonstrados na sua última aparição foram rapidamente substituídos por postagens instigadoras do ódio, do preconceito e do descaso para com o interesse comum, em suas redes sociais.

Vai ser sempre assim, não se iludamos. Para Bolsonaro, o que os outros classificam de incompetência, despreparo, irresponsabilidade, são na verdade teimosia, obstinação, de alguém que tem certeza que está dizendo o que deve ser dito e fazendo o que deve ser feito. Agiu assim a vida inteira e conseguiu chegar ao Palácio do Planalto, porque mudar agora que é presidente?

E por se achar mais esperto, inteligente e preparado que qualquer ser humano vivo, vai insistir no seu modus operandi. Por acreditar realmente que esse tal de COVID-19 não passa de uma gripezinha fajuta. Coisa de gente fraca ou velho doente. Que essa tal de quarentena não passa de um exagero desnecessário, pois brasileiro é um povo diferenciado, que mergulha no esgoto e não dá nada. Que para curar os que se deixaram abalar pelo viruzinho chinês basta tomar um comprimidinho de cloroquina. Para ele o que realmente importa é se manter no cargo e salvar a economia, nada mais.

Mas é a vontade popular? Para que serve? Onde foi parar a máxima de Juscelino Kubitschek, seguida por outros governantes como uma espécie de diretriz básica de uma boa gestão, que é “governar é eleger prioridades”? Quais são as prioridades do presidente Jair Bolsonaro? Agradar os filhos, os militares, os evangélicos, os empresários adeptos do liberalismo desenfreado e desumano? Ou no caso da pandemia, salvar vidas, evitar o aumento do desemprego e consequentemente da fome e da miséria, ou salvar o mandato e, quem sabe, garantir a reeleição?

O Brasil e o mundo civilizado, com toda certeza, torcem para que o Bolsonaro, mais uma vez, esteja equivocado. Porque baseado no desempenho dos seus 27 anos como deputado e nos 15 meses como presidente, está mais do que provado de que o que é bom para ele é ruim demais para o Brasil e para os brasileiros. Resta torcer que tanto a pandemia como o sofrimento imposto por ele a população acabem o mais rapidamente possível.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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