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27 de março de 2020
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12:29

Uma nação governada pelo ódio

Por
Sul 21
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Uma nação governada pelo ódio
Uma nação governada pelo ódio
Foto: Jair Bolsonaro | Foto: Carolina Antunes/PR

Sergio Araujo (*)

Não se enganem com o que Bolsonaro diz e faz ou diz e não faz. Preocupem-se com o que ele faz e não diz. Que ele é o presidente errado, na hora errada, até a placa do condomínio Vivendas da Barra sabe. O que muita gente ainda não se deu conta é de que ele também sabe das suas deficiências e das suas irresponsabilidades enquanto político e ser humano. A má notícia é que ele pauta sua atuação no Palácio do Planalto por isso.

E isto justifica o fato dele agir tal qual um rinoceronte numa loja de cristais. Para que seu estereótipo de tresloucado bem intencionado seja popularizado, assimilado e minimizado diante do fato de que, segundo ele próprio, ninguém ama mais a Pátria e Deus do que ele.

Por isso o seu regozijo em causar, chocar, estarrecer a todos e a toda hora. Para que considerem isso um traço diferenciado da sua personalidade e não percebam seu plano de poder e o golpe que está sendo gestado.

Li esses dias na internet e por concordar republiquei em minhas redes sociais, que “o bolsonarismo não é um projeto de governo e sim de mudança de regime”. Por isso a busca do caos e a estratégia do quanto pior melhor, pois só assim poderá colocar em prática sua obstinação de suprimir direitos políticos e liberdades civis.

Quando ele, na contramão da imensa maioria dos líderes mundiais, cientistas e médicos renomados, defende em rede nacional que as pessoas saiam às ruas em meio a uma pandemia viral de grande contágio e letalidade, é porque a vida de um ser humano, para ele, passou a ter importância secundária. Um sentimento passível de comparação com o de Himmler ao ver as multidões de judeus se dirigindo às câmaras de gás.

Salvam-se da zona de extermínio do insensível presidente apenas aqueles ungidos por ele, preferencialmente os filhos, os militares, os evangélicos, um punhado de comunicadores fisiológicos, empresários inescrupulosos e um bando de radicais preconceituosos que dizem amém a tudo que parte da sua mente fétida.

Deixei de fora os integrantes do governo porque ninguém sabe ao certo o grau sincero de simpatia que nutrem pelo ex-capitão. Primeiro, pela subordinação irrestrita e ilimitada que são forçados a ter, incluindo frequentes humilhações públicas, e depois, porque sabem ser alvos permanentes da desconfiança do presidente em relação as suas lealdades.

Dessa forma, desconfiando até da própria sombra, Bolsonaro, primeiro e único, se prepara para o grande embate. Agora não mais apenas com os esquerdistas, mas contra o resto do mundo que já não tolera mais suas bizarrices e suas grosserias.

A beira do inevitável isolamento, tenta mostrar seu destemor agindo tal qual uma raposa cercada de lobos imaginários, regougando aos quatro cantos a força que não possui e seu encantamento por ídolos de barro como Donald Trump e Olavo de Carvalho.

Assim, iludido pelo ego exacerbado e ludibriado pela inteligência limitada, achando-se maior do que realmente é, mais forte do que nunca foi, Jair Bolsonaro não vê que o tempo é o seu maior adversário e que cada dia que passa menor e mais insignificante ele fica.

Não deu certo como militar, tendo sido condenado expulso por ameaçar explodir quartéis, pena que foi revogada posteriormente. Não deu certo como marido, casou-se três vezes. Não deu certo como chefe de família, basta ver o comportamento dos filhos. Não deu certo como parlamentar; tendo uma pífia produção legislativa, apesar dos 27 anos que atuou como deputado. Não poderia mesmo dar certo como presidente. Como diria Tetê Espíndola, “estava escrito nas estrelas”.

Continue errando, presidente, despeje cada vez mais o seu ódio, a sua intolerância e a sua arrogância, com certeza isto abreviará o fim da ameaça que o senhor representa para a democracia, para a nação e para os brasileiros. E ao invés de se preocupar, prepare-se para passar vergonha, pois seu lugar no rodapé da história já está assegurado.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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