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18 de março de 2020
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11:43

Basta!

Por
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Basta!
Basta!
Bolsonaro apertando a mão de manifestantes em Brasília, ignorando alertas da Saúde. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Sergio Araujo (*) 

“O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”.
Simone de Beauvoir

 Se a intenção de Jair Bolsonaro era esticar a corda da tolerância dos brasileiros para saber até onde vai o limite de aceitação para a sua inaptidão para o cargo e para as suas sandices enquanto ser humano e político, a sua presença no protesto de domingo passado em Brasília rompeu com a fronteira da responsabilidade e adentrou no perigoso terreno da negligência aventureira, algo inadmissível para alguém que tem a obrigação de conduzir os destinos de uma nação continental como a nossa.

Primeiro pelo apelo antidemocráticos dos atos, estimulado por ele em suas redes sociais e completamente ofensivos aos poderes Legislativo e Judiciário. Segundo, porque estando sob observação médica para saber se está ou não contaminado pelo Coronavírus jamais poderia ter se incorporado aos manifestantes. Mas falou mais alto a máxima do poder acima de tudo e autoritarismo acima de todos. Então dê-lhe afago mitológico à sua claque radical.

Não é de hoje que Bolsonaro demonstra seu descaso para com os preceitos democráticos, sua desconsideração para com a Constituição e sua intolerância para com as divergências, sejam elas de ordem for. Isto, que ele se orgulha de chamar de marca pessoal, em qualquer país minimamente civilizado é tido como tiranismo.

Bolsonaro não gosta da imprensa independente, pois ela informa, comenta e critica, e informação leva ao conhecimento e a reflexão. Não gosta de cientistas e nem de especialistas em áreas relevantes, pois estes possuem argumentação científica e técnica capazes de desnudar intenções politiqueiras e desmoralizar fake news. Não suporta oposição, pois não sabe e não consegue lidar com o contraditório.

Tudo isso para disfarçar o que a cada dia se torna mais visível. Seu completo despreparo para o exercício da presidência da República. E isso explica sua claudicante atuação no cargo. Por insegurança, fraqueza e medo. Dele mesmo, por saber das suas deficiências enquanto ser humano e homem público.

E isso explica a presença de tantos militares no governo e tantos generais no Palácio do Planalto. Entre a resolução dos problemas do país e a garantia da sua permanência e continuidade no poder ele, indubitavelmente, prioriza a segunda opção.

Esse egocentrismo serve para explicar sua atitude diante da pandemia do Coronavírus. Enquanto os presidentes de outras nações agem com responsabilidade, adotando medidas duras e resolutivas, Bolsonaro minimiza a gravidade do problema classificando o surgimento do Covid-19 como uma “fantasia” e agora, com a expansão do vírus, que o excesso de preocupação não passa de uma “histeria”.

Transcorridos 442 dias desde a posse de Bolsonaro, período caracterizado por “raios e trovões” absurdamente desproporcionais e incompatíveis em todas as áreas e em todos os sentidos da vida nacional, o descaso do presidente brasileiro para com esse gravíssimo problema de saúde pública, que preocupa e mobiliza o mundo inteiro, não representa apenas a “tempestade perfeita” de um governo que até agora não disse a que veio, mas a gota que faltava para fazer transbordar o copo da paciência. Se faz pouco caso à saúde dos brasileiros o que dirá do resto.

Portanto, chega de indulgência. Chega de “passar pano” para quem não consegue ser resolutivo no desempenho do elevado cargo que ocupa, que despreza e humilha as instituições legalmente constituídas, que ridiculariza internacionalmente a imagem do Brasil e que governa apenas para aqueles com quem tem identificação postural e ideológica. O que mais falta acontecer para que acreditemos que o país é uma nau à deriva, comandada por um Nero tupiniquim? Não dá mais. Chegou a hora de dar um basta.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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