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2 de janeiro de 2020
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19:38

As garantias fundamentais para um próspero ano novo

Por
Sul 21
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As garantias fundamentais para um próspero ano novo
As garantias fundamentais para um próspero ano novo
Foto: Joana Berwanger/Sul21

Sergio Araujo (*)

Se fosse possível definir numa só palavra todas as expectativas referentes ao novo ano eu escolheria, garantias. De que a democracia será preservada e que os instintos dos déspotas de plantão serão mantidos dentro dos limites do devaneio. E que os que por ventura tentarem excedê-los tenham a repulsa e a responsabilização asseguradas.

Que a Constituição seja respeitada e obedecida e que o Judiciário (principalmente), o Legislativo e o Executivo saibam conter seus impulsos de arrogância e de autoritarismo para que não tomem iniciativas que afrontem a independência de cada um dos poderes e gerem insegurança generalizada.

Que as regras do jogo democrático não sejam alteradas aleatoriamente, para que nenhum mandatário prepotente ou mal-intencionado consiga fraudar o resultado da partida.

Nesse sentido, que a depuração da classe política continue sendo uma obstinação da população e que as eleições municipais deste ano e as próximas expurguem da vida pública políticos corruptos, imorais e antiéticos. Quem sabe acelerando esse processo através de uma reforma política?

Por outra lado, é preciso que a população compreenda e a justiça eleitoral assegure, que o principal objetivo de um partido é a conquista do poder, pois só assim poderá colocar em prática os seus projetos. Desconfie, porém, de siglas com princípios e metas indefinidas, onde o personalismo se sobreponha ao interesse coletivo.

Que os governantes se convençam, definitivamente, que governar é eleger prioridades e que isso significa, independentemente de crises financeiras, dar preferência às necessidades daqueles que mais precisam da ajuda do poder público, pois essa na maioria das vezes é a única alternativa possível de sobrevivência. Fundamental, pois, a garantia do acesso ao atendimento à saúde e ao ensino público gratuitos.

Que o tão almejado desenvolvimento do país e a tão ambicionada melhoria da qualidade de vida dos brasileiros não dependa apenas do acúmulo de dinheiro mas, principalmente, da busca incessante do conhecimento e do respeito as individualidades.

Que para alguém ser chamado de cidadão é preciso dar-lhe dignidade, e que isso só acontece quando ele possui um endereço, caracterizado por uma moradia decente, com água e esgoto disponível, e um trabalho que lhe dê dignidade e permita por comida na mesa da família.

Por falar nisso, que o novo ano nos traga a garantia, e mais do que isso, a convicção, de que é possível viver em harmonia com as pessoas e com o meio ambiente. Que os direitos humanos não sejam tratados como um modismo ou como um sintoma de deturpação moral ou comportamental, mas uma questão de respeito às diferenças inerentes ao ser humano. E que preservar o ecossistema é garantir a vida.

Que todos os brasileiros, independentemente de sexo, raça, ideologia, religião, classe social, preferência clubística, etc., sejam tratados como iguais. Que os imigrantes, exilados e índios sejam vistos como irmãos e não como invasores.

Que o livre arbítrio para pensar diferente seja assegurado. E que se compreenda que isso não significa ser inimigo. Veja o que ocorre na política. A mesma urna que elege o governante e seus aliados, elege também a oposição. E que sem o respeito às partes não haverá como ter o respeito do todo.

Que desmerecer a importância do serviço público ou do funcionário público é mais do que uma injustiça, é uma ingratidão para com aqueles que no passado fizeram o que os outros não souberam fazer e aos que hoje continuam fazendo aquilo que desinteressa a outrem pela baixa lucratividade.

Garantia de que o liberalismo econômico que começa a ganhar corpo não irá reverter a lógica entre trabalho e capital, transformando o trabalhador num serviçal mal remunerado e com direitos limitados, ao contrário do que acontece com as grandes empresas privadas que são beneficiadas com isenções e incentivos fiscais.

Da mesma forma, é preciso garantias de o contribuinte não será ainda mais sobrecarregado com o aumento de impostos e com a criação de novas taxas, servindo de “tapa buraco” para as crises financeiras geradas pela incompetência de dirigentes desqualificados, despreparados e mal-intencionados.

Que a liberdade de expressão, incluindo a de imprensa, e de manifestação, sejam asseguradas e incentivadas, pois só assim manteremos acesa a chama da esperança.

Enfim, que tenhamos o direito de garantir que sem garantias não há condições de acreditar em melhorias e muito menos de que teremos um ano próspero e feliz.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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