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30 de janeiro de 2020
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14:39

A luta dos bastardos inglórios

Por
Sul 21
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“Estamos diante do maior e mais destrutivo desmonte do serviço público da história do Brasil e do Rio Grande do Sul”. (Foto: Luiza Castro/Sul21)

Sergio Araujo (*)

Bella, ciao! Bella, ciao! Bella, ciao, ciao, ciao!

Não resta mais dúvida de que estamos diante do maior e mais destrutivo desmonte do serviço público da história do Brasil e do Rio Grande do Sul. Basta observar as medidas que estão sendo adotadas para aniquilar de vez com a imagem e com o prestígio do funcionalismo público e da classe trabalhadora como um todo. Mas há algo muito maior por debaixo dessa “ponta visível do iceberg”.

Refiro-me a imposição, sob todos os argumentos e meios possíveis, do domínio daqueles que detém o poder econômico e que se sentiram ameaçados com o crescimento da consciência cidadã e da mobilização dos movimentos populares. Ah! E da intolerância com a corrupção e do toma lá, dá cá.

Pois essa ação protecionista, apresentada sob o rótulo da globalização e impulsionada pela tal inovação tecnológica, recebe o nome sedutor e embusteiro de liberalismo econômico. Algo semelhante a alforria dada aos escravos brasileiros. Uma liberdade vigiada e sob tutela dos poderosos, onde prevalece a máximo do dinheiro acima de tudo e o mercado acima de todos.

Pobre andando de avião? Operário usando celular para emitir opinião? Empregada doméstica reivindicando direitos trabalhistas? Negros cursando universidade? Índios, seringueiros, ONGs, preocupados com a proteção do meio ambiente? Tudo isto e muito mais são considerados intoleráveis aos olhos dos gananciosos que dominam a economia e dos políticos habituados a serem cooptados pelas migalhas distribuídas seletivamente pelo mercado financeiro.

Para os senhores do dinheiro e do poder, bom mesmo é ver banqueiro enriquecendo freneticamente. Multinacional aniquilando com o pequeno empreendedor. Mega empresário com robustez financeira anabolizada com recursos públicos. Político eleito com caixa dois. Mas claro, isso não pode ser dito, daí a campanha de desvalorização do serviço público, um legítimo caso de acuse os outros daquilo que você é.

Mas diante do que restou desta campanha implacável e impiedosa contra os trabalhadores, que resultou nas reformas trabalhista, previdenciária e administrativa, só lhes resta “lamber as feridas”, se reerguer, juntar forças, corrigir rumos, fixar metas e ir à luta. Difícil? Mas quem disse que seria fácil? Ou melhor, quando foi fácil?

O passado recente mostra que é possível ter esperança e que a conscientização continua sendo o caminho. Os vitoriosos que hoje comemoram suas conquistas sabem que com a derrota momentânea imposta aos servidores públicos perderam discurso. Agora não poderão mais usar o funcionalismo como desculpa para a crise financeira e para o fracasso de suas administrações.

A luz acendeu e deu visibilidade ao rei, que não apenas se apresenta nu, mas prisioneiro de sua vaidade e refém dos seus compromissos com a “corte”. É chegada pois a hora da verdade. Como atuarão doravante nossos governantes para atender os anseios dos milhões de brasileiros e gaúchos que clamam por melhores condições de vida e por oportunidade de emprego, e que não possuem recursos para pagar por serviços privados? Ou será que acreditam na utopia de que também podem comprar consciências?

“It is time”. A derradeira luta começou. E o primeiro passo precisa ser a revisão de procedimentos, seguido de um planejamento estratégico que defina prazos e metas. Não apenas pelos partidos de esquerda ou pelas organizações sindicais, mas todas as forças que representam a classe trabalhadora e o imenso universo de brasileiros e gaúchos carentes do apoio estatal e do respeito as diferenças individuais. Não é hora de dividir, mas de somar e multiplicar. Ninguém solta a mão de ninguém.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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