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20 de dezembro de 2019
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16:39

Marchezan, o zelador marqueteiro

Por
Sul 21
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Marchezan, o zelador marqueteiro
Marchezan, o zelador marqueteiro
Servidores do Instituto Municipal da Estratégia da Saúde da Família em frente à Prefeitura de Porto Alegre. (Foto: Giulia Cassol/Sul21)

Sergio Araujo (*)

O prefeito Nelson Marchezan Jr reuniu 800 dos mais de 25 mil servidores municipais, dentre CCs, secretários e servidores municipais, além de meia dúzia de vereadores da base aliada, para avaliar os últimos três anos da sua gestão. Tratou-se, na verdade, de um encontro caseiro. Uma confraternização entre afins. Dentre os que não foram convidados e que mesmo que fossem certamente não iriam, pois nada tem a comemorar, estão servidores do DMAE, do DEP e da Carris, por exemplo, que sofrem diariamente com a ameaça de terem o mesmo destino que os colegas do Instituto Municipal da Estratégia de Saúde da Família (IMESF) que perderam seus empregos.

Nesse encontro, o prefeito usou sua habitual “franqueza” para anunciar que em seu último ano de governo irá dar mais atenção a zeladoria de Porto Alegre. Ou seja, vai finalmente fazer o dever de casa. Mais especificamente, tapar os buracos, limpar e realizar a capina das ruas. E para não deixar dúvida sobre as suas intenções, declarou que esta será a prioridade para 2020, “coincidentemente” o ano em que ele irá disputar a reeleição.

Eufórico com a possibilidade de fechar sua gestão com um superávit de R$ 43 milhões, Marchezan credita a recuperação das finanças à economia gerada pelo fim do crescimento das despesas com pessoal, obtido pela extinção de vantagens concedidas automaticamente (e legalmente, esqueceu de dizer) aos servidores municipais. Algo muito parecido com o que está sendo proposto pelo seu colega de partido, o governador Eduardo Leite.

Pois esses dois episódios, a confraternização seletiva e o balanço surreal de um avanço intangível, acrescido de uma promessa típica de campanha (zeladoria ativa), mostram a verdadeira face de um alcaide que tem agido mais como marqueteiro do que como gestor. Exagero? Como explicar então a prioridade dada nos últimos três anos para a conclusão de obras de grande visibilidade, como a revitalização da orla do Guaíba no trecho entre a Usina do Gasômetro e a rótula das cuias? Inegável a sua importância, mas para isto foi preciso virar as costas para o resto da cidade? Lazer é complemento. Ruas limpas, sem buracos e bem iluminadas é obrigação.

Marchezan é daqueles políticos que se dizem defensores da “nova política”, mas o que há de novo em repetir o gesto corriqueiro daqueles que fazem no último ano de mandato aquilo que não fizeram durante a maior parte do seu período de governo? Ah, mas não tinha dinheiro para fazer, dirá ele. Para tapar buracos e fazer a capina?

Impossível! Tá na cara que é o uso eleitoral da estratégia do “bode na sala”. Deixa a situação piorar a tal ponto que quando o problema for resolvido (o bode) a sensação de alívio será vista como uma conquista, uma realização.

Talvez o prefeito não tenha se dado conta de que se algo de novo surgiu na política foi a mudança no comportamento do eleitor, muito mais atento, crítico e exigente. Ainda não na medida certa – o último pleito mostrou isso -, mas com inegável avanço. Por isso é recomendável que Marchezan não se deixe iludir pelas pirotecnias de cunho eleitoreiro. A última pesquisa de avaliação de seu governo mostrou que 85% dos porto-alegrenses desaprovam a sua administração. Essa a realidade, tudo o mais é devaneio.

Então que falsa euforia é essa demonstrada no evento com os seus assessores mais próximos? E que conversa é essa de que agora vai? Como dar crédito a alguém que sequer respeita a vontade das urnas? Ou desmoralizar a importância do papel do vice-prefeito, transformando-o num pária do seu governo, não é exatamente isto?

Mas ao propagar que em seu último ano irá trabalhar como um zelador da cidade o prefeito talvez esteja profetizando o seu destino, quem sabe até inconscientemente, haja visto que suas atitudes aparentam certa onipotência, de que a faxina anunciada poderá atingi-lo. Nesse caso, tapar o buraco das ruas não irá impedi-lo de ficar de fora do buraco das urnas.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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