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7 de novembro de 2019
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13:43

Bolsonaro ou Paulo Guedes, quem governa o Brasil?

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Sul 21
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Bolsonaro ou Paulo Guedes, quem governa o Brasil?
Bolsonaro ou Paulo Guedes, quem governa o Brasil?
Paulo Guedes e Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução/Instagram)

Sergio Araujo (*)

Encorajado pelo êxito obtido na reforma da previdência, Paulo Guedes decidiu, finalmente, sair da coxia e assumir o papel de protagonista no espetáculo mambembe promovido pelo governo Bolsonaro. E entrou no palco mostrando, de forma destemida e arrojada, que ele é o principal ator da trupe bolsonariana. Nada mais justo, afinal ele foi o elemento chave, na condição de representante do liberalismo-econômico brasileiro e internacional, para a implantação do projeto de poder que tornou um ex-capitão do Exército e ex-deputado do baixo clero do Congresso Nacional, presidente da República.

Embora tenha demorado quase onze meses para mostrar sua face verdadeira, era de se esperar que ele (Guedes) ocupasse o espaço de destaque que lhe fora reservado. “Economia é 100% com o Guedes e não tem plano B”, alertava Bolsonaro durante sua campanha ao Palácio do Planalto. Pois foi nessa condição de todo poderoso senhor das finanças públicas que Paulo Guedes se tornou uma espécie de primeiro ministro do Brasil. Natural, pois é de todo sabido que quem tem o dinheiro para pagar a conta é que escolhe o menu. E os pratos escolhidos, vê-se hoje com clareza, não visam agradar o dono do restaurante (o presidente), mais os fornecedores (poder econômico). E os clientes? Bem, em se tratando desse governo autocrático, o cliente (povo) nunca terá razão. Sua participação se restringe ao pagamento da conta.

Pois foi nessa condição de empoderado que o ministro da Fazenda teve recentemente o seu momento de apoteose. Refiro-me ao anúncio do pacote de reformas econômicas encaminhado ao Congresso Nacional. Uma espécie de estocada fatal no combalido servidor público e no depauperado serviço público. Era o sinal que faltava ele para mostrar ao Mercado sua determinação pelo cumprimento da tarefa a que fora incumbido. Qual seja, transformar o Brasil no paraíso do capitalismo sul-americano.

Na base do vão-se os anéis, ficam os dedos, ou seja, sai o interesse público e entra o interesse privado, Paulo Guedes tenta mostrar que a salvação da pátria não depende exclusivamente de milagres divinos (Deus e Mitos), mas do sacrifício de Estados, Municípios e, principalmente, dos contribuintes. Ardiloso e verbalmente eloquente, Guedes mostra seu talento para o diversionismo propondo medidas do tipo “uma no cravo e outra na ferradura”. O que equivale dizer, anuncia algo bom para, logo em seguida, anunciar algo muito ruim.

Assim, ao mesmo tempo que o pacote propõe a redistribuição dos recursos da extração de petróleo do pré-sal para Estado e Municípios, ao longo de 15 anos, propõe também a extinção dos municípios com menos de cinco mil habitantes que tenham arrecadação própria menor do 10% da receita total.

E por falar em extinção, o projeto de reformas acrescenta mais um capítulo na saga contra os servidores públicos. Classificada como ações emergenciais, o pacote do mal defendido por Guedes inclui o fim da estabilidade dos servidores públicos; a proibição, por um determinado período, da promoção e do reajuste de salários; a possibilidade de redução da jornada de trabalho, com a consequente diminuição dos vencimentos, dentre outras.

Com essas medidas o governo Bolsonaro não apenas trata os servidores públicos como inimigos e vítimas preferenciais, como coloca-os na condição de trabalhadores de segunda categoria, onde os direitos são poucos e as obrigações são muitas.

A questão é, para onde será canalizada a economia gerada pelas medidas castradoras e limitadoras? Os entusiastas de Bolsonaro e Guedes dizem que o destino dos recursos poupados será a realização de investimentos em obras públicas. Óbvio que executadas por empresas privadas. Pouco se ouve da destinação de mais recursos para as áreas da saúde, da educação e da segurança pública.

Com tanta interferência do poder central, fica clara a intenção deste governo conservador-liberal de tornar Estado e Municípios ainda mais sucessíveis ao controle e ao domínio da União. O que equivale dizer que para acabar com a romaria de governadores e prefeitos com o “pires na mão” o ministério da Fazenda optou por quebrar o utensílio ao invés de substituí-lo por um prato maior. Ou seja, jogá-los à própria sorte.

Enquanto isso, Paulo Guedes, com um discurso recheado de intenções teóricas, trata de estreitar suas relações com o banqueiros e grandes empresários, com quem se identifica e tem afinidades (quiçá interesses comuns), deixando Jair Bolsonaro livre para beneficiar e defender os filhos, e para exercer o papel de comandante em chefe do seu exército de “cidadãos de bem”, mais preocupados com seus umbigos do que com a cidadania.

Com tanta autonomia delegada à Paulo Guedes, fica a dúvida sobre quem de fato está governando o Brasil? Aliás, surpreende que Jair Bolsonaro, ardoroso defensor da teoria da conspiração, não esteja percebendo que o excesso de poder permitido ao atual ministro da Economia poderá torná-lo adversário na próxima eleição presidencial. Se ele, Bolsonaro, foi o candidato útil do Mercado em 2018, Paulo Guedes tem tudo para se tornar o candidato ideal em 2022.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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