Sergio Araujo (*)
A recente pesquisa do Instituto Methodus sobre a intenção de votos dos porto-alegrenses para as eleições de 2020 serve como esboço do cenário político do momento, não apenas na capital dos gaúchos, mas no Rio Grande do Sul e no Brasil. E mais, permite detectar tendências. Como por exemplo, se os pleitos repetirão a histórica tendência da polarização e se, finalmente, as questões ideológicas serão consideradas na hora da decisão do voto.
Realizada no período de 2 a 7 de outubro, o apanhado da Methodus trabalha com universos diferenciados de tempo. Para os governos Jair Bolsonaro (PSL) e Eduardo Leite (PSDB) a avaliação se debruça sobre os primeiros nove meses de gestão, ou seja, no primeiro dos quatro anos dos respectivos governos. Já na esfera municipal, mais precisamente sobre o governo Marchezan, o foco da avaliação acontece no penúltimo ano da sua gestão.
Pela pesquisa, os dois governos iniciantes apresentam elevado grau de rejeição. Bolsonaro aparece com 52% de desaprovação e Eduardo Leite com 63%. Embora com diferentes motivações, os dois governos apresentam pontos negativos em comum, tais como, crise financeira, desemprego, reformas estruturantes (Previdência e Trabalhista) com forte repúdio popular. A destaque da pesquisa ficou por conta dos 74% de reprovação do governo Marchezan.
Embora a pesquisa tenha apontado nomes de possíveis candidatos a prefeito, não será este o objeto da análise deste artigo, centrada em questões da macropolítica. Por uma razão específica: A oscilação extemporânea do cenário político-eleitoral observado em todos os cantos do planeta. A tendência pró-direita conservadora e radical, detectada nas eleições da Itália, Polônia, Hungria e Brasil foi uma delas, fazendo ascender ao poder políticos extremistas.
O mesmo ocorreu com os candidatos neoliberais que surfaram na onda populista de que a iniciativa privada faz mais e melhor do que o Estado. Somente no Brasil três presidentes se elegeram com esse conceito: Collor, FHC e Temer. Daria para incluir Jair Bolsonaro nessa lista mas, sinceramente, considero-o uma figura híbrida, uma mistura de conservador e liberal ou algo parecido, ainda de feições pouco ou nada definidas.
O que chamo de oscilação é o fato de que essas bolhas do populismo de direita, ao que tudo indica – está aí a pesquisa Methodus para comprovar -, terem rapidamente perdido o atrativo inicial. E duas motivações se destacam para essa perda de credibilidade: os escândalos de corrupção e a crise econômica. Em outras palavras, a decepção e o inconformismo. Se quiséssemos condensar tudo isso numa única frase poderíamos dizer que o calcanhar de Aquiles da direita-liberal está sendo o fracasso das suas teses e das suas promessas. Ah, e também, claro, a falta de aptidão para o diálogo com seus representados.
É este ao, meu ver, o palco que se apresenta para a disputa das eleições municipais. De um lado representantes da esquerda, com a experiência de já ter governado o país, estados e municípios. Do outro, representando o status quo vigente, os representantes da direita-liberal. A julgar pelo resultado da pesquisa Methodus, a situação dos negativados Marchezan, Leite e Bolsonaro não é alvissareira para os candidatos que representam seus partidos. No caso de Marchezan a situação se agrava ainda mais por ele ser candidato a reeleição.
Aí chegamos as indagações feitas no lead desse artigo. O que será levado em conta pelo eleitor na hora de definir o voto para prefeito e vereador? Pessoalmente acredito que será o currículo (passado) do candidato mais a ideologia que ele representa. Se o candidato for disputar a reeleição, acrescente-se aí o comparativo entre suas promessas e suas realizações.
Sobre se a eleição será novamente polarizada, sim, será. Até mesmo como consequência da proibição das coligações proporcionais, que fará proliferar o número de candidatos majoritários, obrigando que os partidos atuem como protagonistas e não mais como figurantes das campanhas eleitorais. O que equivale dizer que terão que mostrar suas verdadeiras faces. E seus partidos também.
Sobre se a ideologia irá compor o rol de interesses do eleitor, creio que sim. Mesmo que o ele (eleitor) não se dê conta. Candidatos de partidos apoiadores de Bolsonaro serão afetados pelo seu comportamento pessoal e pelos atos do seu governo. O mesmo vale para as siglas das bases dos governos Leite e Marchezan, ambos do PSDB.
Mas tem uma variável importante que deve ser considerada: as redes sociais. Estas, mais do que nunca, terão papel decisivo, pois atuarão como importantes (decisivos?) formadores de opinião. Para o bem ou para o mal.
Com tanta informação disponível, não resta dúvida de que estaremos diante das eleições mais esclarecedoras deste século. O domínio da direita teria sido uma vitória de Pirro? E a esquerda, conseguirá a tão necessária união para retomar o espaço perdido? Ou teremos uma surpresa, como o surgimento de uma terceira via, pondo fim a polarização habitual? Aguardemos os acontecimentos ou, quem sabe, uma nova pesquisa?
(*) Jornalista
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