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19 de setembro de 2019
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22:09

O que esperar das eleições de 2020?

Por
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O que esperar das eleições de 2020?
O que esperar das eleições de 2020?
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Sergio Araujo (*)

Como será o amanhã?
Responda quem puder.
O que irá me acontecer?
O meu destino será como Deus quiser.
Como será?

(Simone – O Amanhã)

Faltando pouco mais de um ano para as eleições municipais a dúvida instalada é a de que se teremos um pleito de substituição ou de confirmação? Ou seja, as urnas irão manter ou não o cenário político vigente, o contraditório conservadorismo (costumes) liberal (economia)?

Inicialmente é preciso compreender que na política eleitoral é necessário um tempo dedicado à maturação do resultado anterior, E convenhamos, dois anos é um tempo exíguo para qualquer transformação mais expressiva. A menos que surja um fato impactante, como um impeachment presidencial por exemplo.

Sem esse agente determinante, o que define o resultado de um pleito municipal (prefeito) é a sua diferenciação em relação a eleição nacional (presidente) e estadual (governadores). Na primeira, o que predomina são as prioridades locais, que possuem ingerência direta na vida do eleitor, especialmente aquelas ligadas a educação, saúde e segurança. Na outra são as situações conjunturais, como a performance do governo vigente, o comportamento da economia como um todo e até questões de ordem partidária e ideológica.

Mas eleições de características distintas não significam ausência de similitude de procedimentos e de consequências. Por exemplo, a divisão da sociedade entre os “nós” e os “eles”, para diferenciar não petistas e petistas, disfarçada na última eleição como combate a corrupção, deve continuar integrando o discurso dos candidatos conservadores-liberais.

A utilização das redes sociais como campo de batalha de uma eleição paralela, virtual, com predominância das fake news servindo de “formadora de opinião” para os incautos, será outra semelhança que deverá perdurar. Ao que tudo indica mais agressiva e intolerante do que a anterior. O mesmo pode ser dito da demonização da mídia tradicional que, vitimada pela campanha de descrédito estimulada pelo presidente da República e seus fanáticos seguidores, com exceção dos veículos aliados, deverá ter papel secundário na decisão final do eleitor.

Mas existem diferenças que não encontram parâmetros de comparação e que serão decisivas. As alterações promovidas na legislação eleitoral, por exemplo. Se antes as coligações proporcionais eram permitidas e até mesmo incentivadas, em 2020 elas estarão proibidas de acontecerem. E a consequência natural será o aumento do número de candidatos à prefeito. Por uma questão de sobrevivência (formar bancadas) e não mais de conveniência. Aliás, isto será, sem dúvida, um dos principais empecilhos para a formação de blocos com afinidade ideológica.

Com exceções. Os grupos representados pelas bancadas da bíblia, da bala e do boi, por exemplo, por estarem previamente organizados e consolidados, deverão ter maior facilidade de atuação e consolidação do voto dentre seus públicos alvos. E isto facilita a composição de bancadas numericamente dominantes. E mais, com a tendência de um número expressivo de candidatos à prefeito, a fidelização dos votos desses grupos poderá ser decisiva na vitória dos candidatos afins.

Antes que me classifiquem como fatalista, alguém que descarta a possibilidade de mudanças significativas no status quo vigente, digo que o segredo das transformações políticas está em aprender com o passado e compreender o presente. O primeiro por ser imprescindível e o segundo por ser essencial.

Nesse sentido as pesquisas de opinião, a reação da mídia aos ataques que vem sofrendo, o momento conturbado nas relações entre o Governo Federal, o Congresso Nacional e o Poder Judiciário, a crítica internacional para com a política ambiental brasileira, e as eleições internacionais que mostram o enfraquecimento do boom do conservadorismo, são excelentes indicadores.

E eles mostram que o momento político do país é de ebulição. Fazer o devido acompanhamento dos fatos e saber interpretá-los corretamente é condição imprescindível para quem pretende disputar as próximas eleições.

Se eu pudesse fazer um aconselhamento nesse momento, diante de tudo o que está posto no panorama político nacional, eu me valeria da sapiência de Napoleão Bonaparte, vitorioso em muitas batalhas, que disse que “quando o inimigo está executando um movimento em falso, nós devemos ter o cuidado de não interrompê-lo” (Livro – Revolução Francesa, 1836). Complemento dizendo que o aconselhável é fazer um oportuno planejamento para aproveitar os erros.

Mãos à obra, faltam doze meses e meio para o primeiro turno das eleições municipais.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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