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9 de agosto de 2019
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12:02

Um país pra chamar de seu, só que não!

Por
Sul 21
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Um país pra chamar de seu, só que não!
Um país pra chamar de seu, só que não!
Bolsonaro. Foto: Arquivo/PR

Sergio Araujo (*)

– Bolsonaro é apaixonado pelos filhos, por isso vai indicar um deles para ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos.

– Considera Donald Trump seu brother, por isso pensa e age como ele.

– Pensa que para atender os interesses da família não existe limites entre vida privada e a atividade estatal, por isso autoriza o uso de aeronaves da FAB para transportar familiares ao casamento de um dos filhos.

– Adora a Igreja Evangélica, por isso vai isentá-la do pagamento de impostos e promete nomear um ministro evangélico para o STF.

– É fã ardoroso das Forças Armadas, por isso enche seu governo com militares.

– Se diz um liberal na economia, por isso prioriza o atendimento dos interesses dos grandes empresários.

– Tem preconceito com os “paraíbas”, por isso dificulta a distribuição de verbas para os estados govenador por partidos da oposição.

– É afeito a declarações de cunho homofóbico, misógino e racista, por isso nomeou uma ministra preconceituosa para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

– Tem adoração por armas, por isso flexibilizou o acesso a elas para todas as “pessoas de bem”.

– Não gosta de bandidos, por isso faz a apologia de matá-los como baratas.

– Gosta de praia, por isso quer transformar estações ecológicas em paraísos turísticos.

– Considera improvável a tese do aquecimento global e desdenha dos tratados ambientais, por isso nega o crescimento do desmatamento da Amazônia.

– Pensa que índios devem viver como os cidadãos urbanos, por isso não se importa em ver suas aldeias transformadas em zona de garimpo.

– Idolatra o coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, por isso eleva-o a condição de “herói nacional”.

– Acusa a imprensa de criar fake news, por isso usa o Twitter como canal de comunicação com seu público, na maioria das vezes para retratar-se de manifestações equivocadas e/ou mentirosas.

– Tem aversão às críticas da imprensa, por isso adota medidas de sufocamento financeiro para os veículos que não se aliam a sua prática de governar.

– Gosta de comer pão com leite condensado, bem, quanto a isso, pelo que se sabe, não houve ainda nenhuma manifestação de interesse em incluir o produto na cesta básica dos brasileiros. Mas não duvidem.

E assim, tratando o Brasil como se fosse de sua propriedade, ou pior, como se fosse a sua casa, estamos observando a história escrever uma das páginas mais lamentáveis da nossa pubescente democracia, onde um presidente desprovido das mínimas condições exigidas para o cargo age como se a derrocada da cidadania fosse uma questão de escolha de lado e não uma consequência de uma escolha equivocada.

A questão é: Como aceitar que um presidente, que representa a elite nacional e atua de acordo com os princípios do capitalismo colonizador, o tal “mercado”, que visa manter a maioria da população presa às amarras da miséria e da ignorância, ouse dizer que representa o povo brasileiro? Como ele pode abanquetar-se com os seus afins e ainda ter a coragem de dizer que não há ninguém passando fome no país? Como?

Não, presidente, não se sinta confortavelmente como se fosse o dono do Brasil. Menos ainda como se estivesse na sua própria casa. Mesmo que o excesso de poder lhe embriague, que infle ainda mais o seu ego e que seus seguidores lhe idolatrem, o senhor não passa de um inquilino do Palácio do Planalto. E embora não acredite, o senhor não pode tudo. A consciência e a irresignação, maior riqueza do povo brasileiro, são valores que dinheiro nenhum pode comprar e que bravata alguma pode amedrontar.

Por isso, para não ser despejado antes do fim do contrato (mandato), trate de ser fiel a convenção e ao regulamento (Constituição) do condomínio Brasil. E mesmo que consiga a façanha de chegar até o final, tome cuidado com as reformas, pois o proprietário (povo) pode não gostar delas e desistir da renovação do contrato.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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