Colunas>Sérgio Araújo
|
26 de agosto de 2019
|
17:36

Moro e a maldição da soberba

Por
Sul 21
[email protected]
Moro e a maldição da soberba
Moro e a maldição da soberba
Foto: José Cruz/Abr

Sergio Araujo (*)

“Quem tudo quer, tudo perde” (Ditado popular)

Sérgio Moro vendeu a alma ao Mito e paga um preço caro por isto. Antes de se tornar ministro da Justiça e da Segurança do governo Bolsonaro, Sérgio Moro era o todo poderoso juiz da Lava Jato, aquele que mandava prender e mandava soltar a seu bel-prazer. Construiu uma imagem de paladino da Justiça e passou a ser visto por boa parte da população como o Eliot Ness brasileiro, com direito de ter a sua própria equipe de Intocáveis, no caso os procuradores da força-tarefa da operação Lava Jato.

Apesar do protagonismo alcançado, Moro, mesmo simulando modéstia e propósitos altruístas, nunca conseguiu disfarçar suas ambições mundanas. Sentia prazer ao ser comparado ao falecido juiz italiano Giovanni Falcon, mundialmente conhecido pelo combate à máfia siciliana. Da mesma forma, sentia-se realizado ao ver a operação Lava Jato equiparada à operação Mãos Limpas, que visava esclarecer casos de corrupção durante a década de 1990, na Itália.

Porém o que Moro não contava e nem seus admiradores imaginavam é que o excesso de poder fosse mostrar, com a providencial ajuda do Intercept Brasil, que por trás da aparente solidez do ídolo se escondia um santo de barro. E para piorar a situação, com a “alma vendida ao diabo”. E foi pela fragilidade humana, especialmente no que tange a ambição e a ganância, que ele decidiu abrir mão da consolidada carreira de juiz para se aventurar na promissora, mas imponderável e arriscada, atividade política.

Levado pela cantilena de um candidato que surfava na onda do combate à corrupção, permitiu que sua fama momentânea fosse usada como palanque eleitoral. Mais, foi apresentado pelo então candidato Jair Bolsonaro como um dos seus indicados para uma das vagas do Supremo Tribunal Federal. E como se não bastasse, mordido pela “mosca azul”, aceitou o convite de Bolsonaro, então presidente eleito, para assumir a titularidade do Ministério da Justiça e da Segurança, tendo a garantia de que teria “carta branca” para nomear e conduzir ações de combate ao crime organizado e à corrupção.

Bastou meia dúzia de meses no governo para verificarmos que nem Bolsonaro e nem Moro eram o que pareciam ser. Ou seja, nem o presidente é fiel às suas promessas e compromissos, e nem Moro é o poderoso magistrado que imaginava. Com frases como “quem manda sou eu” e “sou presidente para vetar qualquer coisa”, Bolsonaro esfarela dia após dia a imagem daquele que outrora foi o seu “garoto-propaganda”.

Sem dar nenhum sinal de insatisfação, Moro permanece no cargo tal qual um afogado que, em desespero, se agarra a qualquer coisa que apareça boiando, mesmo que seja um jacaré. Talvez com a esperança de que sua vaga no STF esteja reservada e que tudo é uma questão de tempo, que sabe uma tempestade passageira. Tamanha tolerância para com a humilhação, que vai desde a desautorização para indicar cargos da sua pasta até o protagonismo de piadas constrangedoras por parte do presidente da República, denota uma aptidão para o contorcionismo comportamental até então desconhecida.

Aliás, a grande questão que está posta é: Qual o limite da paciência de Moro? Sim, pois de nada lhe adiantarão as manifestações de apoio das ruas, que por sinal estão cada vez menores, se Bolsonaro já disse reiteradamente que não vai mudar o seu jeito de ser. E todos os que integram seu círculo de atuação sabem, especialmente seus correligionários e colaboradores, que a complacência e a retratação não fazem parte do seu caráter.

Enquanto Moro se “finge de morto” e faz “cara de esfinge” diante de um presidente cada fez mais autoritário e arrogante, que já começa a ganhar antipatia internacional, resta aos brasileiros que ainda mantém ativa sua lucidez e capacidade de indignação, torcer para que se confirme o ditado de que o tempo é o senhor da razão, uma lição que a história tem dado que mostra que a soberba é uma armadilha que transforma caçadores em caça. Aos que se recusam a enxergar a realidade um alerta, cuidem onde e em quem pisam, pois a arapuca está armada.

(*) Jornalista

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora