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29 de maio de 2019
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17:26

Messias ou profeta do apocalipse?

Por
Sul 21
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Messias ou profeta do apocalipse?
Messias ou profeta do apocalipse?
Jair Bolsonaro (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Sergio Araujo (*)

“Venho sem demora. Conservas o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”. Apocalipse 3:11

Sabe-se lá por que razão, talvez levado pela palavra Messias que integra o seu nome, ou por acreditar na figura do Mito, idealizada por seus fanáticos apoiadores, ou por realmente crer “estar cumprindo missão de Deus”, o certo é que Jair Messias Bolsonaro, primeiro presidente brasileiro gerado em laboratório, imagina realmente estar predestinado a se tornar um Moisés tupiniquim, cujo destino é substituir a Constituição pelos seus próprios “mandamentos”.

Isto explica os cartazes e faixas expostos por sua legião de seguidores no último domingo (26) pedindo a extinção do Congresso Nacional e o fim do Supremo Tribunal Federal. Ou seja, tudo indica que o primeiro mandamento será “todo poder emana do presidente e em seu nome será exercido”. Os demais, segundo as mensagens da família Bolsonaro, que estão servindo de “Tábuas de Lei” da nova ordem, referem-se a pauta de costumes implacavelmente defendida pelo “todo poderoso senhor do palácio do Planalto”. Quais sejam, o ódio, o preconceito, o racismo, a homofobia, o machismo, a violência (uso da força), a intolerância e a prepotência.

Talvez por isso a recente manifestação radical-conservadora tenha se apresentado como uma espécie de remake, de vale a pena ver de novo, de um saudosismo da época dos anos de chumbo. Porque estes são os valores com que os participantes se identificam. Embora em menor número do que os robôs pró-Bolsonaro que atuam nas redes sociais, os adoradores do Mito cumpriram a contento a missão de representar os interesses do chefe, que preferiu manter-se distante dos atos mas que não absteve-se de comentá-los e enaltecê-los em suas páginas pessoais da Internet.

E aí é que se encontra o real significado das manifestações, disfarçar a tentativa de mostrar que apesar de tudo – desde a queda vertiginosa dos índices de popularidade, passando pela expressiva perda da confiabilidade junto aos agentes do mercado financeiro, até a crescente rejeição internacional -, “Bolsonaro Vive”. Isso explica as pautas difusas, nos moldes do “Pátria acima de tudo, Deus acima de todos”, apresentadas nos atos típicos das passeatas da TFP.

Clamaram pela aprovação da reforma previdenciária sem levar em conta que é Bolsonaro que não dialoga com o Congresso Nacional. Pediram a manutenção do Coaf nas mãos de Sérgio Moro, mas fecharam os olhos para não reconhecer que foi a própria base governista que possibilitou sua transferência para o ministério de Paulo Guedes. Apoiaram os cortes de verbas nas universidades sem levar em conta que os principais prejudicados, os estudantes, foram chamados de “idiotas úteis” pelo presidente por terem participado de protestos contra a redução orçamentária anunciada pelo MEC.

Talvez premido pela confusão de propósitos, alguém distraído possa ver o episódio do dia 26 de maio como uma espécie de casuísmo histórico. Ledo engano. Tudo premeditado. A essência do pensamento bolsonarista tem sido exatamente essa, confundir, nunca esclarecer. Ou será que ainda há quem pense que a ausência de um plano de governo para chamar de seu, durante a campanha eleitoral, foi um acaso provocado pelo atentado de Juiz de Fora (MG)? Impossível. Primeiro porque realmente não havia nenhum plano. Depois, porque o que fora definido como projeto de tomada do poder não poderia ser anunciado. Hoje sabe-se bem as razões.

Assim, tangenciando a realidade e acreditando em profecias catastróficas, os seguidores do “Messias” seguem seu êxodo visando a substituição da democracia pelo autoritarismo. E é aí que se desnuda a verdadeira face das mobilizações realizadas domingo passado, que de espontâneas não tem nada: Criar uma situação de contraponto a uma possível (previsível?) ameaça de perda de poder que, quando acontecer, precisará ter um inimigo. E o alvo escolhido é o PT. Ou como é do gosto dos retrógrados saudosistas, os comunistas. Ou qualquer brasileiro que não concorde com os mandamentos emanados pelo novo “dono” do país.

Resumindo. No fundo o que essa massa de seguidores está tentando fazer é dar a Bolsonaro a chance de alcançar o milagre que tanto deseja: Ter uma ditadura pra chamar de sua.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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