Colunas>Sérgio Araújo
|
15 de outubro de 2018
|
14:10

A eleição do ódio, do medo e da incerteza

Por
Sul 21
[email protected]
Foto: Joana Berwanger/Sul21

Sergio Araujo (*)

De dois em dois anos nos deparamos com programas políticos, seja no rádio, na televisão ou na internet. Candidatos segurando criancinhas no colo, beijando velhinhos, abraçando mendigos, prometendo melhorias na saúde, educação, segurança, transporte, lazer e cultura. O que poucos sabem é que essa prática se tornou comum na década de 30, da idade atual, na Alemanha, graças a Joseph Goebbels, ministro da propaganda no governo nazista de Adolf Hitler. Foi Goebbels o responsável pela criação do mito “führer”, que significa “líder”.

Naquela época, a propaganda nazista produzia filmes que estimulavam o preconceito étnico, a xenofobia, o patriotismo e o heroísmo e condenavam os judeus, alegando que eram acumuladores de riquezas, explorando o povo. Mas a propaganda e os filmes não criticavam apenas os inimigos, criavam também modelos de comportamento a serem seguidos pelo povo alemão. O objetivo? Construir uma sociedade soberana, alicerçada em preceitos cristãos, tradicionais e conservadores. O resultado disso foi o brutal assassinato de milhões de pessoas.

Passados oito décadas, após algumas tentativas infrutíferas da implantação de regimes de exceção, percebe-se que nem todos os “ovos da serpente” foram quebrados. Escondidos sob a terreno fértil da democracia, observamos o ressurgimento, mundo afora, de movimentos de idolatria ao extremismo de direita e o surgimento de neo fühers. “America First”, brada a todo momento o republicano Donald Trump, o todo poderoso presidente dos Estados Unidos. “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”, clama Jair Bolsonaro, o candidato mais votado no primeiro turno das eleições brasileiras.

Tudo muito semelhante com o que vimos no passado, tanto nas fundamentações, justificativas e metas, como na forma indutora de manipulação popular. Com um agravante, o avanço tecnológico, especialmente o surgimento da Internet, tornou muito mais eficaz a traiçoeira propaganda subliminar, uma das técnicas mais perigosas já utilizada pela mídia para influenciar a mente do ser humano sem que ele se aperceba disso.

E esse é o cerne deste artigo. A cruzada (ou será inquisição) furtiva implementada na presente campanha eleitoral, que faz com que as redes sociais deixem de ser uma plataforma de informação, diálogo e até entretenimento, e passem a ser um campo de batalha onde impera o radicalismo, o ódio e a intransigência. Onde ninguém respeita ninguém, nem, pai, mãe, filho, irmão, colega, amigo… A questão é: O que levou o brasileiro, tido como um povo ordeiro, afável, tolerante, generoso, criativo, alegre e tantos outros predicados positivos, à se tornar um ser humano belicoso, intransigente e impiedoso, sem que ele se dê conta dessa transformação?

Certamente uma das razões é a saturação midiática de que tudo está errado e de que ninguém é confiável, especialmente se for político, imagem essa agravada pela crise econômica que com seus milhões de desempregados e a falta de investimentos em educação, saúde, segurança, enfim, a perda de qualidade de vida da população, tornou o brasileiro pessimista quanto a condução do seu destino. E é aí, diante da fragilidade emocional e da informação estereotipada, que atua a propaganda subliminar que observamos na presente campanha presidencial.

Tal qual ocorreu nas eleições americanas, a robotização tomou conta da campanha pelas redes sociais. Aliás, com forte indício de que o mesmo idealizador do sistema, Steve Bannon, esteja por trás da sórdida campanha de desconstrução da imagem do candidato do PT, Fernando Haddad. Agora a eleição não se restringe a uma disputa de projetos e propostas, mas de quem é anti-PT e de quem é petista. E para ser classificado de inimigo (petista) basta não pactuar com as ideias bolsonaristas.

Uma disputa inglória, pois as postagens robotizadas e as fake news ocorrem de uma maneira e num montante que não permite um contraponto em igualdade de condições. E é essa massificação e é essa propagação e vulgarização da mentira que está corrompendo mentes e formando milícias de eleitores teleguiados. As consequências dessa política de confronto entre nós e eles, os cidadãos de bem contra os cidadãos do mal, já se faz sentir nas ruas através do proliferação desenfreada de atentados contra mulheres, gays, negros, judeus, etc.

Trata-se de uma estratégia “tão bem sucedida” que o candidato do PSL não pretende participar dos debates televisivos, historicamente considerados decisivos para o resultado da eleição. E para disfarçar a fraude cibernética (manipulação induzida das mentes) cometida contra os usuários das redes sociais o time Bolsonaro coloca sob suspeita a credibilidade das urnas eletrônicas e às críticas da imprensa não adesista, está última já nitidamente intimidada pela oposição dos zumbis gerados pela máquina de desinformação bolsonariana.

Esse é o cenário e esta é a ameaça. Uma luta entre “bastardos inglórios” contra um exército impiedoso de radicais subjugados pela manipulação das suas mentes e pelo controle inconsciente das suas atitudes e dos seus votos. Que agem como marionetes presos a cordéis comandados por um controlador invisível que sabe muito bem como entreter a plateia e lucrar com a sua distração. Estrelas do espetáculo, o que farão os bonecos quando o show terminar e eles se virem encaixotados, inertes, na escuridão do camarim, a espera de alguém que os liberte do campo de concentração que eles mesmos se impuseram? Pedirão clemência ao “führer”? Ou clamarão por democracia?

(*) Jornalista

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora