Colunas>Sérgio Araújo
|
6 de setembro de 2018
|
18:40

Museu Nacional: A pirotecnia da irresponsabilidade

Por
Sul 21
[email protected]
Museu Nacional: A pirotecnia da irresponsabilidade
Museu Nacional: A pirotecnia da irresponsabilidade
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Sergio Araujo (*)

Que a cultura é vista como uma área supérflua pelos nossos governantes não é nenhuma novidade, agora, achar que isso lhes dá o direito de serem irresponsáveis com o patrimônio cultural é inadmissível. Ainda mais em se tratando de museus. O que aconteceu com o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, é um exemplo lamentável dessa distorção e desse descaso.

E o pior de tudo é ver que os recursos que faltaram para evitar que o incêndio destruísse séculos de coleta de preciosidades históricas e de pesquisas são agora ofertados em abundância. Como se fosse possível compensar todo o inigualável patrimônio cultural e científico irremediavelmente perdido.

Mais. Como esse tardio auxílio financeiro poderá ressarcir a imagem internacional do Brasil, negativada enquanto nação desleixada com a preservação da sua história e dos seus tesouros culturais? Como indenizar a tristeza que se abateu sobre os milhões de brasileiros no fatídico domingo de 2 de setembro?

Infelizmente, o passado mostra que a história se repete pela manutenção dos maus hábitos. Nesse sentido, há que se perguntar como estão os demais museus espalhados país à fora? Mais especificamente no Rio Grande do Sul. Como está a conservação, por exemplo, do Museu Júlio de Castilhos, do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, da Usina do Gasômetro e tantos outros espaços culturais sob responsabilidade do poder público.

E a Casa Azul da rua Riachuelo, em Porto Alegre, vai continuar sem pai nem mãe e ruir de uma hora para outra? Isto sem falar na conclusão das obras de restauração do Mercado Público, que se arrasta por cinco anos.

Por falar nisso, existem informações confiáveis de que a Usina do Gasômetros ainda se encontra fechada porque não possui Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI) aprovado pelo Corpo de Bombeiros. Igual suspeita recai sobre o Museu da Comunicação, que quando chove fica com suas precárias instalações alagadas.

Embora os exemplos citados tenham a responsabilidade compartilhada entre a prefeitura de Porto Alegre e o governo do Estado, existe uma série de coincidências que assombram aqueles que sabem da importância desses espaços, mas que lamentavelmente não veem proatividade nas ações governamentais. E a desculpa para o desleixo é sempre a mesma: faltam recursos.

Tal postura, mais do que uma semelhança com a leviandade daqueles que não impediram a catástrofe do Museu Nacional, reveste-se como uma ameaça real para com o futuro do patrimônio cultural rio-grandense. Aí, depois dos sinistros, os governantes omissos correm para promover mutirões em busca de soluções imediatistas, querendo passar a falsa impressão de que o assunto está tendo prioridade político-administrativa.

Que as lágrimas derramadas pelos brasileiros em razão da perda dos milhões de itens do Museu Nacional sirvam para apagar de vez o futuro dos maus governantes. Aliás, estamos num momento oportuno para questionarmos os candidatos a presidente e a governador sobre seus planos e projetos para a área cultural do Brasil e do Rio Grande do Sul. Se é que possuem.

(*) Jornalista

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora