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7 de junho de 2018
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13:40

O plebiscito eleitoral de Sartori

Por
Sul 21
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O plebiscito eleitoral de Sartori
O plebiscito eleitoral de Sartori
“O que justifica o repentino surto democrático do governador?”. (Foto: Joana Berwanger/Sul21)

Sergio Araújo (*)

 Quando decidiu que iria extinguir as fundações, o governo Sartori ouviu a população?  Quando decidiu parcelar o salário dos servidores do Executivo, ele consultou as entidades de classe? A resposta para estas questões é não. No primeiro caso, formou parceria com os defensores da privatização da máquina pública, usou sua força política na Assembleia Legislativa e mandou bala. Então que estranho apego participativo é esse de querer ouvir a população, via plebiscito, para saber se o Estado deve ou não se desfazer da CEEE, da Sulgás e da CRM? Agora? No desfecho da sua improdutiva e desastrosa gestão?  Às vésperas da eleição? A pergunta indispensável que fica é: Por que não tomou essa iniciativa antes?

Talvez por que considere que os gaúchos têm tendência ao casuísmo. Algo como, se deu certo na minha inesperada eleição por que não daria agora?  Acontece que aquele cenário propicio ao acaso não existe mais. Além disso, não se escuta nenhum cidadão e nenhuma entidade clamando pela necessidade do tal plebiscito. Com exceção, claro, dos apoiadores do governo, no caso, a base aliada, os empresários interessados em abocanhar as empresas e a imprensa “companheira”. No mais é um silêncio sepulcral, o que por si só denota o descaso popular para com o inoportuno referendo.

Então o que justifica o repentino surto democrático do governador? A resposta mais plausível é o desespero. De não cumprir com a missão de concluir a saga devastadora iniciada no governo Britto e que avança a cada gestão emedebista. Aliás, esse parece ser o único plano dos governos do MDB: extinguir e privatizar estatais, demitir e retirar conquistas do funcionalismo e utilizar a renegociação da dívida com a União como desculpa para endividar ainda mais o Estado.

Fosse o governo Sartori realmente democrático não estaria, após a decisão tomada pela maioria dos representantes do povo gaúcho, ameaçando ingressar em juízo para, autoritariamente, realizar o ambicionado plebiscito. Se isso ocorrer, considerando as sucessivas derrotas sofridas no Judiciário, estará provado que realmente tudo não passa de uma encenação para justificar um governo com aptidão ao fracasso e que nem mesmo quando exerce o direito ao “jus sperniandi” consegue ser bem-sucedido.

Mas a obstinação por desmantelar a máquina pública é tamanha que Sartori, ao ser indagado se iria concorrer à reeleição, respondeu que não iria fugir da raia, embora não fosse essa a sua vontade pessoal. Ou seja, novamente se submeteu a imposição partidária. E mesmo antes da campanha começar demonstra interesse em repetir a estratégia tergiversionista de 2014.

Convidado para participar de um debate com os pré-candidatos à governador, promovido pela Federasul, no próximo final de semana, aceitou com uma condição. Que fosse respeitada a sua condição de governador e em função disso, o seu silêncio. Ora, mas é justamente por ser governador que sua presença no debate se faz imprescindível. Para prestar esclarecimentos sobre sua conduta no cargo.

Com tanta desfaçatez e tanta incoerência, acreditar na boa intenção do governo ao propor o plebiscito é o mesmo que por fé na extemporânea vocação participativa de Sartori.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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