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17 de maio de 2018
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21:52

Nessa eleição a novidade é o enfrentamento dos velhacos

Por
Sul 21
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Nessa eleição a novidade é o enfrentamento dos velhacos
Nessa eleição a novidade é o enfrentamento dos velhacos
As grandes mobilizações populares despertaram a expectativa de que enfrentaríamos uma reformulação eleitoral de grande monta. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Sergio Araújo (*)

As grandes mobilizações populares e o espetáculo midiático protagonizado por conta da Lava Jato, o impeachment de Dilma, o confronto de egos dos ministros do STF e a prisão de Lula, fizeram com que a eleição deste ano adquirisse contornos especulativos de que enfrentaríamos uma reformulação eleitoral de grande monta, onde finalmente seria possível “separar o joio do trigo”. Pois a menos de seis meses do pleito a sensação que domina o país é de que pouca coisa irá mudar e que a tal “montanha irá parir um ou vários ratos”. Ou seja, o cenário político continuará sendo muito parecido com o que já é.

Por diversos razões. A começar pela fracassada reforma política, uma ilusão promovida por aqueles que seriam vítimas das transformações que deixaram de ser realizadas. Dessa forma, agindo de maneira protecionista e corporativa, e contando com um incipiente aprimoramento da legislação eleitoral – que ao se preocupar demasiadamente com o uso do caixa 2 acabou dando poderes demais aos partidos na distribuição da verba pública que irá financiar as respectivas campanhas eleitorais -, dificilmente veremos prosperar a tese surgimento de novos nomes. A exceção, claro, ficará mais uma vez por conta das celebridades (artistas e desportistas, por exemplo).

E para agravar ainda mais as chances dos novatos, as alterações promovidas pela justiça eleitoral no regramento das campanhas trazem enormes benefícios aos políticos com imagem consolidada. Refiro-me, principalmente, a redução do período de campanha e do tempo de propaganda no rádio e na televisão, imprescindíveis para quem necessita se fazer conhecido.

Isso sem falar nos benefícios decorrentes da distribuição de cargos na máquina pública e das indefectíveis (embora legais) emendas parlamentares. Mas sem dúvida a principal dificuldade dos novos candidatos será o garroteamento econômico decorrente da seletividade da distribuição do fundo eleitoral, onde as cúpulas partidárias irão privilegiar os atuais detentores de cargos eletivos, e das doações de pessoas físicas, que ao contrário do a maioria pensa, não está imune de maracutaias.

Some-se a estes obstáculos o desgaste da imagem da classe política e dos grandes partidos, que em maioria estão envolvidos em escândalos de corrupção, teremos uma conjuntura de resultados nada alentadores, particularmente no que tange ao número de abstenções e votos nulos e brancos. E essa tendência já é sentida nas pesquisas. Na mais recente, promovida pela CNT/MDA, o cenário que excluiu o nome de Lula teve 30% dos entrevistados respondendo que iriam votar em branco ou anular o voto.

Se acrescermos aos votos brancos e nulos a média histórica de abstenção às urnas, que é de 20%, constataremos que metade do total de eleitores não deixará sua digital no resultado da eleição. E isso, numa democracia, é muito preocupante. Mas o incrível é que tudo isso é vergonhosamente premeditado. Ou a seletividade midiática e a agilidade processual de políticos envolvidos em denúncias de corrupção não se processa de maneira covardemente diferenciada e discriminatória?

Não nos iludamos. O sentimento de mudança alardeado não passa de uma tentativa de afastar da vida pública aqueles que atrapalham os interesses dos poderosos de sempre e manter seus aliados em cargos chaves para a manutenção do domínio do poder. E o povo? E o eleitor? Esses continuarão pagando o pato e amarados aos barbantes dos interesses daqueles que se julgam donos do Brasil.

É por isso que o novo não é apenas e tão somente a troca de nomes e sim o enfrentamento daqueles que eternamente se acham acima de tudo e de todos. Esse deve ser o critério na hora de separar o tal de joio do tal de trigo. Esse deve ser o grito de alerta na campanha eleitoral que se avizinha. Ah, e se lhe perguntarem quem é o joio e quem é o trigo, diga que o joio são os usurpadores do dinheiro público e os fraudadores da esperança dos mais necessitados, e que o trigo somos nós, povo brasileiro, e aqueles que o pessoal do joio considera seus inimigos.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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