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2 de março de 2018
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17:22

Vamos falar de eleição?

Por
Sul 21
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Vamos falar de eleição?
Vamos falar de eleição?
Faltam apenas sete meses para as eleições ao governo do Estado. (Foto: Leandro Osório/Especial Palácio Piratini.)

Sergio Araujo (*)

Faltando apenas sete meses para a eleição ao governo do Estado os pré-candidatos já começam a dar indícios do que pretendem fazer em suas campanhas. E até antecipar algumas propostas. Se bem que se Sartori for candidato à reeleição isso com toda certeza não será uma unanimidade. Mas isso é conversa para outro artigo. Nesse, meu foco está na pré-campanha, no chamado bastidores, e na sua importância para uma vitória nas urnas.

Se compararmos o resultado de uma eleição a um time de futebol campeão veremos que a conquista foi resultado de um planejamento eficiente, que começou pela montagem de um plantel forte, competitivo, unido em torno de um mesmo objetivo e bem coordenado. O que quero dizer com isso? Que na política assim, como no futebol, a consolidação e o sucesso de uma candidatura dependem fundamentalmente de algumas atitudes basilares.

Da unidade partidária, uma espécie de um por todos e todos por um. Da composição de uma chapa majoritária integrada por parceiros com similaridade ideológica e programática, de preferência organizado e estruturado regionalmente. Da escolha de um nome capaz de representar as aspirações da coligação e, principalmente, que possua as qualidades pessoais e políticas desejadas pelo eleitor. E, numa segunda etapa, da montagem estratégica (operacional, financeira, marketing, etc.) da campanha. Vou fixar minha análise nos três primeiros, que representam a atual fase do momento político do Rio Grande do Sul.

Unidade partidária

Quais partidos se mostram unidos em torno da candidatura própria, se considerarmos que os pré-candidatos são aqueles expostos pela mídia? À saber: Jairo Jorge (PDT), Miguel Rossetto (PT), Eduardo Leite (PSDB), Luís Carlos Heinzi ou Antônio Weck (Progressistas), Ranolfo Vieira Júnior (PTB), Roberto Robaina (PSol), Abgail Pereira (PCdoB) e Matheus Bandeira (NOVO). Incluo, por razões que explicarei mais adiante, o nome de Onyx Lorenzoni.

Dentre os citados podemos dizer antecipadamente, pelo histórico de eleições passadas e pelo atual cenário político, que progressistas, tucanos e pedetistas, terão um forte debate interno para unir o partido em torno do nome escolhido. Isso é mais visível no Progressistas (antigo PP), que já parte com a necessidade de escolher um entre dois postulantes. E para aumentar a dúvida, embora as consultas às bases tenham apontado preferência pela apresentação de candidatura própria, existem lideranças que são simpáticas ao apoio das candidaturas de José Ivo Sartori e/ou de Eduardo Leite.

Da mesma forma, o grande desafio do pré-candidato tucano será unir os grupos que representam Yeda Crusius e Nelson Marchezan Júnior, tradicionalmente rivais. Jairo Jorge, por ter sido filiado ao PT, poderia ter dificuldades de apoio dentro do PDT, entretanto o trabalho “formiguinha” realizado nas visitas que ele vem fazendo à todos os diretórios pedetistas parece estar dizimando toda e qualquer suspeição ou rejeição à sua pré-candidatura.

Nos demais pré-candidatos a tendência é pela consolidação de uma unidade partidária, o que não significa dizer, necessariamente, em torno de uma candidato próprio. Que o diga o PTB, que vem conversando seriamente com o PSDB sobre a possibilidade de ocupar a vaga de vice-governador na chapa encabeçada por Eduardo Leite. Quanto ao nome de Onyx Lorenzoni, a unidade se daria em torno da construção de um palanque regional para a candidatura de Jair Bolsonaro, que tem em Lorenzoni um dos maiores entusiastas. Ou seja, uma coesão de ocasião, já que Bolsonaro é filiado ao PSC e não ao DEM.

Aliás, a eleição presidencial sempre foi e será cada vez mais apelo decisivo na montagem das coligações estaduais ou até mesmo nas candidaturas solo, como é o caso do PCdoB de Manuela D’Ávila; do PDT de Ciro Gomes; do PT de Lula ou seu substituto; do PSDB, ao que tudo indica, de Geraldo Alckmin; do PSol, independentemente de que seja seu representante; e do NOVO, de João Amoêdo. Nas demais siglas com pré-candidaturas ao governo do Estado paira a dúvida sobre se o PMDB vai romper com a tradição de não ter candidato à presidente, apesar dos indícios de que Michel Temer estaria construindo uma possível tentativa de reeleição, e de quem o Progressistas irá apoiar, já que mais uma vez não terá candidatura própria ao Palácio do Planalto.

Coligações

Mas se alianças nacionais são importantes para o fortalecimento das candidaturas estaduais, as forjadas no âmbito regional são imprescindíveis. Especialmente pelo tempo de televisão resultante do somatório de siglas e pela organização partidária (número de prefeitos, senadores, deputados estaduais e federais, vereadores e filiados). E é nesse aspecto que residem as maiores dificuldades dos postulantes ao Piratini.

Com tantas candidaturas próprias fica difícil a composição de blocos afins no primeiro turno, como a união dos partidos de esquerda em torno de um nome de consenso, por exemplo. E foi a dificuldade de realizar alianças, é bom lembrar, que inviabilizou candidaturas de partidos organizados e pujantes, como o PDT, que em 2016 teve que retirar Vieira da Cunha da disputa à prefeitura de Porto Alegre. Nesse cenário de dificuldades, duas iniciativas se diferenciam. A aliança entre PSDB e PTB, praticamente acertada, e a composição de um bloco de partidos de menor expressão eleitoral que embora consolidado ainda não definiu o nome do pré-candidato que irá apoiar.

Mas o fato é que, apesar das dificuldades, a necessidade de formatar alianças interpartidárias é uma condição imprescindível para o êxito de qualquer candidatura que se proponha ser protagonista. E esse o grande desafio do momento.

Candidatos

Uma das questões que deve estar preocupando os pré-candidatos é saber qual o estereótipo de governador que o eleitor gaúcho está procurando após o desgaste provocado na imagem da classe política pela avalanche de notícias de corrupção e da estagnação econômica e operacional do Rio Grande nos últimos três anos. Especialistas apontam como pré-requisitos indispensáveis, a honestidade e ética inquestionáveis, competência administrativa comprovada, liderança vocacionada à superação de obstáculos, e a identificação do candidato com os anseios e as prioridades da população.

Mas em se tratando do Estado do Rio Grande do Sul, que se diferencia dos demais pela precariedade das suas finanças e pela estagnação do seu desenvolvimento, é preciso acrescentar a lista os quesitos da inconformidade, da proatividade, da ousadia e da transparência, praticamente inexistentes na gestão peemedebista de Jose Ivo Sartori.

Arrisco prever que teremos discursos e propostas muito semelhantes às defendidas editorialmente pela imprensa gaúcha, especialmente pelos veículos da RBS, qual seja, a redução da máquina pública, a supressão de conquistas trabalhistas do funcionalismo estadual, a privatização dos serviços públicos lucrativos e outras tantas. Ou seja, a tendência é de que os programas e debates eleitorais de rádio e televisão caiam na mesmice da pauta única.

A exceção deverá ficar a cargo dos partidos de esquerda que historicamente defendem a importância do Estado como indutor do desenvolvimento e da justiça social. Com uma ressalva. O pré-candidato Jairo Jorge, do PDT, está defendendo nas redes sociais a tese de que os partidos de esquerda precisam inovar e buscar novos caminhos para tornar o Estado eficiente, resolutivo, menos burocrático e que coloque o cidadão em primeiro lugar. Sei não, mas vejo certa semelhança com aquela máxima da última campanha, “Meu partido é o Rio Grande”?

Bem, o certo é que apesar da desvalorização da importância do setor público a eleição poderá ser decidida pelos mais de um milhão de gaúchos que compõem o universo de servidores estaduais (ativos e inativos) e seus familiares, segmento este amargurado pelos parcelamentos de salários e pela responsabilização indevida pela crise financeira do Estado. Como diz o ditado popular, “o seu pior inimigo é aquele que um dia foi seu amigo, pois sabe das suas fraquezas”.

É chegada, pois, a hora de intensificarmos nossa atenção com os movimentos que começam a ser realizados no tabuleiro eleitoral do Rio Grande. Numa eleição que promete muitos candidatos e discursos assemelhados, qualquer diferença, por mínima que seja, pode servir como elemento decisivo para a definição do voto. Embora a campanha não tenha chegado às ruas, o jogo já começou.

(*) Jornalista


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