Colunas>Sérgio Araújo
|
29 de março de 2018
|
10:40

Sartori não quer, mas vai ter que concorrer

Por
Sul 21
[email protected]
Sartori não quer, mas vai ter que concorrer
Sartori não quer, mas vai ter que concorrer
Governador José Ivo Sartori. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Sergio Araújo (*)

José Ivo Sartori não deseja concorrer à reeleição. Isso é visível. Só que o MDB não dá margem para que isso aconteça. Aliás, repetindo a indução realizada em 2014. Naquela ocasião, premido pelo desinteresse dos nomes de maior expressão do partido, como Simon, Rigotto e Fogaça, o PMDB viu no ex-prefeito de Caxias do Sul a chance de disputar a eleição com candidatura própria. E sabia antes, como sabe agora, que as possibilidades eram remotas. Sartori também sabia. E ainda sabe.

Naquela ocasião, para não deixar dúvidas sobre a sua falta de entusiasmo, Sartori teve um desempenho protocolar durante quase todo o primeiro turno da campanha. Somente no derradeiro momento da eleição, quase na véspera da votação, é que Sartori conseguiu tirar proveito da polarização entre Tarso Genro e Ana Amélia.

Vestindo um figurino confeccionado sob medida pelo marketing de sua campanha, ele assumiu o personagem do gringo bonachão e bem intencionado, uma espécie de homem do povo, que acabou lhe dando visibilidade e possibilitando que fosse visto pelo eleitor como terceira via ao embate PT – PP. E o “milagre” aconteceu.

Como não tinha se preparado para ir ao segundo turno e sequer possuía um plano de governo, a solução encontrada foi unir as forças antipetistas em torno do seu nome. E com isso conseguiu a inesperada vitória eleitoral.

Uma vez no governo, reprisou a incerteza de quem não se preparou para os desafios que teria que enfrentar. Sem plano de governo, não conseguiu construir um projeto de desenvolvimento e, sem ele, não soube superar os obstáculos impostos pela grave situação das finanças estaduais.

E como quem não sabe para onde vai não chega a lugar algum, o PMDB lhe impôs a missão de reprisar o modelo fracassado das administrações Britto e Rigotto. E o que se viu foi mais um episódio da saga avassaladora do estilo emedebista de governar. Extinção de órgãos governamentais, privatização de estatais, demissão e supressão de conquistas dos funcionários públicos. E o resultado disso tudo é que estamos presenciando. O que estava ruim ficou ainda pior.

Pois é baseado nessa trajetória de acasos e equívocos, e sem ter um plano B, que o MDB está impondo à Sartori o sacrifício de uma nova eleição que, ao que tudo indica, será aceito. Ou seja, o partido contará mais uma vez com a sina da imprevisibilidade do gringo, que era para ter sido padre e virou político, era para ser comunista (PCB) e acabou centrista (MDB), e era para ser coadjuvante na eleição de 2014 e se transformou em governador.

Pois agora o MDB acredita que Sartori, apesar da malograda gestão, pode quebrar a tradição dos gaúchos de não reelegerem governadores. Ou seja, continuam confiando na sorte e na desfaçatez e desprezando a inteligência dos eleitores.

Resta saber se o Sartorão da campanha de 2014, agora na condição de vidraça e não de pedra, terá a mesma complacência das massas (eleitores). Mas se ele vier novamente com aquela história de político bonzinho, humilde, honesto, bem intencionado e sincero, terá que obrigatoriamente mudar o slogan “Meu partido é o Rio Grande” pelo “O Rio Grande partido é meu”.

(*) Jornalista


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora