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30 de novembro de 2017
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11:36

Fracasso da renegociação da dívida antecipa derrocada do governo Sartori

Por
Sul 21
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Fracasso da renegociação da dívida antecipa derrocada do governo Sartori
Fracasso da renegociação da dívida antecipa derrocada do governo Sartori
“A negativa dada pela Secretaria Nacional do Tesouro foi o atestado que faltava para decretar a incapacidade político-administrativa do governo Sartori”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

 Sergio Araujo

“O PMDB é um Fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que a mentira é a verdade de uma realidade completamente ausente.” Parafraseando Fernando Pessoa.

A negativa dada pela Secretaria Nacional do Tesouro (SNT) às pretensões do governo gaúcho de ser incluído no Regime de Recuperação Fiscal, promovido pela União e que já beneficiou o Estado do Rio de Janeiro, foi o atestado que faltava para decretar a incapacidade político-administrativa do governo Sartori.

Política, porque mesmo sendo companheiro de partido do presidente da República e do seu principal assessor, o gaúcho Eliseu Padilha, o governador não conseguiu receber um tratamento compatível com a importância do Rio Grande do Sul. E o pior é que só se deu conta disso após a manifestação negativa da SNT, quando resolveu, tardiamente, montar o que foi chamado de “acampamento gaúcho” em Brasília.

Composto por aliados de sua extrema confiança, como o secretário da Fazenda e arauto do caos, Giovani Feltes, o vice-governador e novato na política, José Paulo Cairoli, e o líder do governo na Assembleia Legislativa, deputado Gabriel de Souza, afilhado político de Padilha e que até pouco tempo exercia o cargo de vereador em Tramandaí, a força-tarefa, como previsto, fol e voltou de mãos vazias.

Mesmo assim, sem perder a postura de derrotados gloriosos, o “Exército de Brancaleone” de Sartori retornou dizendo acreditar que a negativa do Tesouro Nacional será modificada em decisão a ser tomada por uma Câmara de Conciliação. Como? Mostrando a irrealidade dos números considerados pela STN.

Coisa de ruborizar até estátua. Ora, se os números são fantasiosos por que foram encaminhados? Por conta de uma sistemática histórica criada para driblar a Lei de Responsabilidade Fiscal, no que tange o limite máximo de gastos com pessoal e encargos da dívida para com a União? Balela! Três anos de governo foi tempo mais do que suficiente para a reformulação desse pretenso engodo contábil. Por que não fizeram?

Mas este é apenas um dos graves equívocos administrativos e posturais do governo peemedebista, que começou com a escolha de uma estratégia equivocada de relacionamento com a sociedade. Ao invés de um pacto de união para a superação das dificuldades financeiras o governo recém empossado optou pela implantação da política do caos. E já que não tinha projeto de desenvolvimento, fez do discurso do quanto pior, melhor, seu plano de governo.

Ao tropeçar, já na largada, o que se viu foi uma sucessão de erros. A começar pelas explicações nada esclarecedoras do governador, que falou demais quando deveria se calar, e que emudeceu quando deveria ter se pronunciado. E foi essa comunicação ineficiente e contraditória com a população uma das causas da sua impopularidade e do seu insucesso.

Pregou a humildade na campanha mas não a praticou quando aumentou impostos, contrariando um dos raros compromissos assumidos. Defendeu a unidade mas tratou e trata os servidores públicos como bastardos do seu governo. Vendeu a ilusão de que extinguindo autarquias e fundações a economia gaúcha ganharia um salto de qualidade e o que se viu foi a degradação sistemática da qualidade dos serviços públicos.

Mas de todos os erros o pior foi sem dúvida o de governar de costas para a população. Como alguém que se elegeu com o bordão “Meu partido é o Rio Grande” e escolheu com slogan de governo a frase “Todos pelo Rio Grande” pode acreditar que poderia governar sozinho. Qual foi o canal de comunicação criado para dialogar com a sociedade?

Nem mesmo o esboço da formação de um grupo consultivo, composto por empresários e presidentes de partidos, conseguiu lograr êxito. E até mesmo a base aliada da Assembleia Legislativa reclama, sistematicamente, sua contrariedade pela falta de informações sobre as iniciativas tomadas pelo Executivo.

Às vésperas de encerrar sua lamentável passagem pelo Piratini, insensível aos fracassos, o PMDB e Sartori são tomados por mais um surto ilusório. Acreditam que poderão romper com a tradição gaúcha de não reeleger governadores.

Em outras palavras, continuam convictos de que o eleitor realmente não sabe votar e que, por isso mesmo, continua suscetível a manobras ardilosas, como acreditar que quem não assume compromissos e não prova ter projetos viáveis de desenvolvimento pode governar o Estado.

Resta saber se os eleitores, os grandes excluídos do governo Sartori, continuarão acreditando que o que é bom para o PMDB é bom para o Rio Grande.

(*) Jornalista


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