Colunas>Sérgio Araújo
|
12 de março de 2015
|
11:48

Por que os brasileiros voltarão às ruas?

Por
Sul 21
[email protected]

Por Sergio Araujo

A contar do dia 6 de março, uma sexta-feira, até o próximo domingo, dia 15, o Brasil irá vivenciar um dos períodos mais críticos e desafiadores da sua história. Será uma espécie de ver para crer. Ou quem sabe, pagar (no sentido de apostar) para ver. Refiro, claro, a divulgação da primeira lista Janot, contendo o rol inicial dos nomes dos políticos suspeitos de participarem do Petrolão; o ato que será promovido pelo PT em apoio à presidente Dilma, dia 13; e os protestos dos opositores do governo petista, pedindo a abertura do processo de Impeachment contra a presidente da República, dia 15.

Todos os fatos, obviamente, inter-relacionados e precedidos por episódios que contribuíram substancialmente para a chegada no, digamos, limite do transbordar do copo da paciência. Dentre eles, a derrota apertada de Aécio Neves na eleição presidencial; o aumento dos combustíveis; o retorno da inflação; a Operação Lava-Jato, dentre outros.

Mas se por um lado esses episódios representam a possibilidade de um rompimento da tranquilidade política e social, por outro, ninguém pode se dizer surpreendido. Os protestos populares de rua em junho de 2013 foram indicativos da insatisfação dos brasileiros com a má prestação dos serviços públicos e com a corrupção. Encastelados pelos altos muros da vaidade e da arrogância, e abrigados sob o frágil teto da impunidade, alguns governantes e boa parte da classe política viu no movimento de insatisfação da sociedade algo tipo uma marolinha e não uma ameaça de tsunami. Leitura equivocada gera interpretação errônea. A hora inesperada chegou e a conta já está na caixa de correspondência.

Mas pessoalmente não acredito que “Hora H” tenha chegado. Prevejo que muita água ainda vá passar por debaixo da ponte, antes que ela caia. Se é que vai cair. Não vejo condições legais e circunstanciais para o impeachment de Dilma. Aliás, nem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acredita nessa possibilidade. E disse isso publicamente, para desgosto dos mais empolgados com essa possibilidade.

Mas não resta dúvida de que a realização dos dois atos antagônicos nos dias 13 e 15 pode servir de palco para baderneiros e oportunistas de plantão. O radicalismo e a animosidade que toma conta das redes sociais mostram claramente até a possibilidade de agressões físicas. Tomara isso não se concretize. Mesmo assim é recomendável que desta vez a presidente Dilma não faça “ouvidos de mouros” e que, definitivamente, aprenda a lição, passando finalmente a governar o governo. Não sei o que será bradado nas ruas, mas já começa a ecoar no meu inconsciente um refrão do tipo “menos política e mais governo”. E isso vale para todas as esferas da administração pública. Ouviu Sartori, Fortunati e Companhia?

Quanto as outras motivações, acredito sim na possibilidade do basta. A população não aguenta mais a escalada dos preços, o desvio do dinheiro público para finalidades nada republicanas e a má prestação dos serviços básicos nas áreas vitais da educação, da saúde e da segurança. Os brasileiros descobriram que nas ruas é possível conseguir muito mais coisas do que nas imensas filas do SUS ou detrás das grades das suas moradias. Quiçá seja esse o caminho para o progresso tão esperado.

Já está mais do que na hora de fazer valer o que está escrito no preâmbulo da Constituição Federativa do Brasil: criar um Estado efetivamente democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacifica das controvérsias.

Sergio Araujo é jornalista e publicitário


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora